A Maldição da Mansão Bly | Um conto aterrorizante de amor e posse

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Fantasmas e relacionamentos do passado e do presente, se encontram na Maldição da Mansão Bly


No livro, A Volta do Parafuso, clássico escrito por Henry James, que serviu de base para a história desta temporada, a tutora (que não possui um nome), lê um livro chamado Amélia, outro clássico escrito por Henry Fielding em 1751.

O livro condenava uma moda da época, o tal “golpe do baú”, visto em inúmeras telenovelas. Casar-se com alguém baseado em interesses e riquezas materiais. Mas, ao mesmo tempo, Amélia alertava para os perigos do amor e as loucuras da paixão, fazendo a personagem pensar muito antes de agir, algo que, no século 19, foi visto como um dos pioneiros da “inteligência feminina”.

De certa forma, isso se assemelha bastante com as declarações de Mike Flanagan (criador da série), sobre a temporada. Ele ressaltou que veríamos um romance, mas não no sentido piegas da palavra. Um romance gótico, baseado em culpa e tragédia. Histórias de amor, sempre são acompanhadas de eventos trágicos, e aqui, na Maldição da Mansão Bly, isto não é diferente.

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Assim como na obra original, a história começa com uma pessoa (que não revelaremos quem é), contando uma história ao redor de uma lareira, em 2007. A narração nos leva a 20 anos antes, em 1987, quando Dani Clayton (o sobrenome, uma clara homenagem a Jack Clayton, diretor do filme Os Inocentes de 1961, a primeira adaptação do livro), uma jovem solitária que se mudou dos EUA para Londres, se encontra com Henry Wingrave. Ela faz uma entrevista para se tornar a nova tutora de duas crianças, Miles (Benjamin Evan Ainsworth, impecável) e Flora (Amelie Bea Smith), sobrinhos de Henry (Henry Thomas).

Para isto, precisa viajar até Bly, um pequeno vilarejo no condado de Essex, na Inglaterra. Lá ela encontra as crianças, a governanta Hannah Grose, a jardineira Jamie (Amelia Eve) e o chef Owen (Rahul Kohli). Ela começa a ver estranhas figuras, como a de Peter Quint (Oliver Jackson-Cohen, limpo), um ex-empregado de Henry, que está desaparecido, a ex-tutora das crianças, Rebecca Jessel (Tahirah Sharif), e uma moça que sai do lago.

Dani nota que a crianças tem um jeito peculiar de ser, com mudanças bruscas de comportamento, e acredita que elas estejam sendo influenciadas por forças ocultas.

Mudança de ares

Assim como fez em A Maldição da Residência Hill, quando usou o livro de Shirley Jackson (A Assombração da Casa da Colina) como base, Mike Flanagan afirmou que a Mansão Bly seria apenas um local para abrigar várias histórias.

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Podemos dizer que afirmação é verdadeira, mas também é falsa. Os 3 primeiros episódios de A Maldição da Mansão Bly são praticamente uma adaptação fiel do livro e do filme de 1961. Quem não conhece ambas as obras pode se surpreender, mas quem as leu, ou as viu recentemente, vai notar as semelhanças, já que algumas falas são praticamente iguais.

A inclusão da música O Willow Wally, tema principal do filme Os Inocentes, já estava presente no trailer, e é usada em vários momentos da temporada, em inúmeras interpretações, arrepiando de todos as formas possíveis.

Na Residência Hill, acompanhamos a história de uma família, que precisava enfrentar o luto e os traumas mais íntimos de sua alma. Na Maldição da Mansão Bly, os relacionamentos amorosos movem a história.

Se no primeiro ano, Flanagan por vezes mostrava a relação dos Crain como uma espécie de obrigação de sangue, aqui em Bly, o amor é uma escolha. Danny não conhece ninguém naquela mansão, não sabe seus segredos, nem suas histórias.

Sendo assim, a imprevisibilidade das atitudes, torna a trama mais palpável, mas também mais lenta. A temporada demora para engrenar de fato, muito diferente do que aconteceu no primeiro ano, com explosões de cabeça, pescoços tortos, e planos sequências incríveis nos episódios iniciais.

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Na Maldição da Mansão Bly, Mike Flanagan larga o osso, e deixa roteiro e direção nas mãos de nomes promissores, em sua maioria mulheres, como Yolanda Ramke (de Cargo) e Axelle Carolyn (de Tales of Halloween).

De mulher sem nome a Dani Clayton

No livro, a tutora das crianças não possui nome. Nas adaptações seguintes ela ganha nomes e sobrenomes distintos, mas nenhum deles será tão humano como Dani Clayton.

Victoria Predetti, a Nell da temporada passada (agora loira, com um cabelo esvoaçante e roupas oitentistas), consegue dar sensibilidade e poder a protagonista, que ganha uma história para chamar de sua.

Sua evolução está conectada com o ritmo da temporada, que cresce no decorrer dos episódios. Ao mesmo tempo Predetti divide os holofotes com Hanna Grose, personagem de T’Nia Miller. Ambas são mulheres fortes, com segredos do passado, e pretendem exorcizar seus respectivos demônios.

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Os reflexos da Mansão Bly

O mistério, já se mostrou uma vertente dessa antologia. E apesar de não ser o principal chamariz de A Maldição da Mansão Bly, a dúvida sobre quem está morto ou não, e sobre quem são os fantasmas, ocupa boa parte da narrativa.

Nesta temporada, os reflexos, sejam eles literais ou não, são de suma importância para entendermos o traumas de cada personagem, que assim como no primeiro ano, aprendemos a amar. Flanagan afirmou que além do livro, adaptaria outras histórias de Henry James, e na Mansão Bly, ele faz isso com louvor.

Passado e presente se misturam. Em histórias de amor, traição, posse e relações abusivas. Os tempos mudam, mas uma constante está em todas elas: a inevitabilidade.

Não se pode fugir da morte, nem do destino.

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Dualidade e medo

Se no livro, Henry James deixava tudo implícito, e no âmbito da possível ausência de sanidade da protagonista, na Mansão Bly as coisas são mais claras. Inúmeros analistas da obra original, afirmam que apenas uma interpretação seria um desrespeito com a figura de James, além de desvalorizar os fantasmas que ele criou.

Flanagan entende isso, e aqui honra o escritor britânico com fantasmas e suas histórias tão cruéis e profundas quanto a dos vivos. Os fantasmas escondidos da temporada passada, dão lugar as sutilezas dos personagens e ambientes, desde uma simples rachadura na parede, até uma linda casa de bonecas.

Se isso assusta? Bem, A Maldição da Mansão Bly não é tão boa ou assustadora como o ano anterior, mas isso não quer dizer que não valha a pena. Nem sempre, a sequência precisa superar a obra que a antecede, afinal, tratam-se de visões, mansões e emoções diferentes.

Mais clara, mas não menos interpretativa, A Mansão Bly é um receptáculo de amores frustrados, tragédias, desgraças, controle e de uma história perfeitamente esplêndida.

Sou eu, é você…somos nós.


Ps: Kate Siegel, (a atriz e esposa de Mike Flanagan, que fez Theodore na temporada anterior) e Carla Gugino (a mãe Olívia Crain da temporada passada), estão de volta. Mas não revelaremos seus personagens para evitar spoilers.


A Maldição da Mansão Bly estreia no dia 09 de outubro (sexta-feira) na Netflix

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