Michael Mann foge de obviedades ao ir pelo caminho da tragédia em “Ferrari”
Uma das cenas que mais me chamou atenção em Ferrari, é uma em que o magnata Enzo conversa com um repórter para forjar uma mentira numa matéria de jornal. Enquanto confabulam seus planos, mecânicos montam e desmontam carros e motores em segundo plano. De certa forma, a produção está querendo nos dizer que as corridas, os veículos, e a marca serão importantes para a história, mas a vida pessoal de Enzo, Laura e seus dramas familiares vão ser o principal ponto de partida.
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Qual a trama de Ferrari?
O ex-piloto de corrida, Enzo Ferrari (Adam Driver) está em crise. A falência assombra a empresa que ele e sua mulher, Laura (Penélope Cruz), construíram do nada 10 anos atrás. O casamento tempestuoso dos dois sofre com o luto pela morte de um filho, a dificuldade de reconhecer outro e a presença da amante Lina (Shailene Woodley).
Ele decide contrapor essas perdas apostando tudo em uma corrida – a icônica Mille Miglia, na Itália.
O que achamos do filme?
Em todos os seus filmes, Michael Mann nunca foi um diretor que abraça a obviedade. Mann flerta com a tragédia, o melodrama e a tragicomédia, e seus filmes tem um ar de melancolia e solidão, sem deixar de lado a grandiosidade. Ferrari é exatamente esse filme. O equilíbrio perfeito entre a vida pessoal catastrófica de Enzo, Laura, Lina, e até dos pilotos da escuderia (um deles vivido brilhantemente pelo brasileiro Gabriel Leone), e a grandiloquência do ruídos dos motores e do glamour das competições.
Adam Driver entrega um Enzo frio, distante, composto perfeitamente como uma máquina de vencer, enquanto a Laura de Penélope Cruz é seu contraponto imediato, sendo impulsiva, emotiva, mas nem sempre frágil, tratada com carinho pela direção e texto de Troy Kennedy Martin (Uma Saída de Mestre), baseado no livro de Brock Yates (Ferrari: O homem por trás das máquinas).
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Além dos dilemas pessoais envolvendo perdas, família, falência, negociações e traições, Ferrari está interessado nas máquinas, e intercala sua trama com momentos divinos onde o poderoso som dá as caras. Toda a construção até o magnífico e acachapante ato final é bem executada através de planos detalhe, com Mann explorando a reação de seus atores ao máximo.
Os movimentos ditam o tom da obra, desde as articulações para impedir os desastres que vem, até o suor e sacrifício dos pilotos encharcados de suor e fuligem. O sofrimento é a linha de chegada, a bandeira tremulando ao fim da disputa de dinheiro e poder que parece que ainda não teve fim.
Ferrari está em cartaz nos cinemas brasileiros
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