Pulsante, o filme paquistânes “Joyland”, do estreante Saim Sadiq, é o equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia
O cinema paquistanês bebe muita da fonte do cinema indiano, afinal, os países se tornaram dois na pós-independência da coroa britânica ainda no século passado. Sendo assim, a pulsação e a vibração conhecida do cinema indiano com Bollywood e suas danças, reverbera nos filmes paquistaneses.
Joyland é um desses retratos, e consegue com louvor misturar temas sérios a assuntos totalmente despretensiosos e alheios, principalmente para nós que somos do ocidente.
Qual a trama de Joyland?
No coração de Lahore, cidade metropolitana e conservadora, vive a família Rana, um núcleo de classe média-baixa patriarcal e feliz, que anseia pelo nascimento de um menino para continuar a linhagem familiar.
É então que seu filho mais novo Haider (Ali Junejo) passa a trabalhar secretamente com dança erótica e se apaixona pela ambiciosa estrela trans Biba (Alina Khan). Essa história de amor impossível ilumina lentamente o desejo de rebelião sexual de toda a família.
O que achamos do filme?
As poucos mais de 2 horas de Joyland são um exercício de naturalidade. A forma como os personagens interagem entre si vai desde a total apatia, passando pela alegria, pela tristeza, pelo desejo e principalmente pelo controle. É um filme que brinca com a fantasia dos sonhos, mas ao mesmo tempo os faz esbarrar em uma realidade não recompensadora.
Os dilemas e tabus são tratados com carinho. Não há sofrimento na vida de Biba além daquele que a própria sociedade a impõe, sendo assim, não há espaço para a fetichização da tristeza e do preconceito. Na mesma medida, o desenvolvimento de personagem de Haider o coloca na jornada de um herói improvável e falho.
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Na segunda metade a esposa de Haider, Muntaz (Rasti Farooq), ganha mais espaço, e a carga dramática é adicionada, valorizando seus anseios e individualidades, à medida que o poder de uma sociedade patriarcal parece consumi-la. Esses dilemas dão um tom de trama enganosa a Joyland, já que foge bastante da sinopse oficial, mas justamente por isso o longa se torna imprevisível.
O masculino e o feminino flertam com a liberdade, e há espaço para romances reais e platônicos, com planos a longo prazo sendo feitos, mas encarando as dificuldades da vida. Cada vez mais bonito, Joyland é uma dança cheia de energia, que as poucos sofre com a falta de luz dos palcos, mas ainda tem as lanternas dos celulares.