HITCHCOCK E SEU “LEGADO DE ARREPIAR” | Especial Halloween

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Foto: Reprodução.

Nascia em 13 de agosto de 1899 quem conhecemos hoje como o “Mestre do Suspense“. Alfred Hitchcock não só marcou e inovou o cinema do suspense e terror, como é, ainda nos dias atuais, influência direta de muitos cineastas contemporâneos, além de um ícone importantíssimo na cultura pop. Iniciamos com este grande talento da história do cinema os textos especiais de Halloween “Legados Arrepiantes“, sendo Hitchcock o mais votado para a categoria “Clássicos”.

O querido “Hitch” nasceu em Londres (sim, ele também falava “wótah”), em agosto de 1899. Teve uma vida mais pacata antes de doar seu tempo a produções audiovisuais, contentando-se com desenhos de legendas de filmes mudos de uma produtora londrina. Seu pai era trabalhador do campo, e lhe rendeu um episódio que marcaria o jovem aspirante a diretor para o resto de sua vida.

Alfred Hitchcock.
Foto: Reprodução.

Por volta dos quatro anos, seu pai o enviou para uma delegacia de polícia com um bilhete em mãos e, assim que o policial leu o recado, trancou-o em uma cela e exclamou: “é isso que acontece às crianças más“. Este acontecimento e o apelido de “cordeiro sem manchas” que recebera do pai, foram suas inspirações para a construção do conceito do vilão inocente, presente em algumas de suas obras mais famosas, como “O Homem Errado” (1956) e “A Tortura do Silêncio” (1953).

As obras de Alfred Hitchcock são repletas do que se pode chamar de “terror urbano“. Vemos pessoas em suas vidas rotineiras passando pelos mais diversos desafios de sobrevivência, ao passo que lidavam com as surpresas (e suspenses) do dia-a-dia.

Fosse uma confissão, fosse o foco de uma câmera, fosse uma ligação de telefone… qualquer coisa comum, no lugar errado, na hora errada, era pretexto para uma aventura de roer os dentes. Este, inclusive, era o sentido do McGuffin, ideia iniciada pelas obras de Hitchcock que consistia e um objeto ou um objetivo (algo de baixo valor) que incentivava o protagonista a sair de sua zona de conforto para que, assim, os segundo e terceiro atos acontecessem.

Com filmes repletos de drama e conteúdos não só bem embasado por ideias, mas sofisticados em execução, Alfred começava a construir sua carreira como uma das figuras mais importantes e reverenciadas na história do cinema.

FILMES DE MONTÃO…

A maioria de seus filmes são conhecidos (pelo menos por nome) e servem de inspiração para obras cinematográficas até os dias de hoje. Sua estreia em Hollywood foi com o romance “Rebecca“, de 1940, adaptado do livro homônimo de Daphne Du Maurier, que rendeu ao diretor o Oscar de Melhor Filme, além de indicações para as categorias de atuação de Laurence Oliver e Joan Fontaine.

Hitchcock também se aventurou por diversos gêneros, aplicando sua mesma maestria narrativa, principalmente nos longas “Mr. & Mrs. Smith” (1941), com o gênero comédia; e “Saboteur” (1942), espionagem noir, um dos grandes filmes da Universal . “Notorious” (1946) foi o primeiro filme dirigido e produzido por Hitch, e “The Paradine Case” foi seu primeiro filme em cores.

Fotografia de Alfred Hitchcock.
Foto: Reprodução.

Em seguida, “Rope“, ou “Festim Diabólico” (1948) foi um marco na destreza narrativa do diretor, que combinou algumas de suas marcas pessoais de direção com a técnica do plano longo para bem traduzir os efeitos de um filme adaptado de uma peça teatral acerca de dois amigos, um caixão e um crime perfeito.

Em 1954, o diretor utilizou pela primeira vez a técnica do 3D, no filme “Disque M Para Matar“, e no mesmo ano, lançou outro clássico estrelado por ninguém menos que James Stewart e Grace Kelly: Janela Indiscreta“. Em 1956, Hitchcock refilmou “O Homem Que Sabia Demais“, e consolidou a versão de “Que será, será” de Doris Day (que foi utilizada, inclusive, no trailer de “A Morte do Demônio: Ascensão).

Num salto de tempo (visto que o diretor lançava praticamente um filme por ano e não vai caber tudo num texto só), em 1960, temos o clássico “Psicose“, baseado no romance de mesmo nome do autor Robert Bloch. Seu grande sucesso, que ganhou o Globo de Ouro e contém a cena mais memorável do terror, quando a personagem de Janet Leigh é assassinada a facadas enquanto toma banho.

Em seus últimos anos, filmou outro clássico inovador “Os Pássaros” (1963), “Topazio” (1969), “Frenesi” (1972) e, seu último longa, “Family Plot“, de 1976. Ao todo, foram mais de sessenta filmes lançados e um pouco mais que quarenta e cinco anos de carreira de muita idealização. Pode parecer muita areia, mas o caminhão é grande o suficiente para aguentar material de três obras simultâneas!

Alfred Hitchcock pássaros pretos em volta.
Foto: Reprodução.

MAS E O ESTILO DE HITCHCOCK?

Alfred tinha um método muito particular de inserir seu espectador na cena e de manipulá-lo, para que sentisse exatamente o que ele queria por uma razão própria de imersão no filme. Além do “Efeito Kuleshov“, que consiste em manter a imagem de um personagem com expressão neutra e intercalar com imagens que façam sentido num contexto geral da história, técnica esta muito bem utilizada por Aster em “Hereditário” (2018); Hitch se utilizava do princípio da dilatação pela espera.

Numa entrevista concedida ao diretor francês François Truffaut, o mestre do suspense explicou a diferença básica do suspense para o susto. Eis que, se dois personagens conversam e uma bomba que estava embaixo da mesa explode, espera-se que todos os espectadores se assustem pela imprevisibilidade. Ora, se um tempo antes, é mostrado que alguém colocou uma bomba embaixo da mesa, e dois personagens conversam enquanto o espectador aguarda, ansioso, que a bomba exploda, aí temos um bom suspense.

Alfred Hitchcock posando numa cova.
Foto: Reprodução.

Este é o tipo de manipulação de cena que Hitchcock utilizou, por exemplo, em “Festim Diabólico“, ao recorrer à informação dada ao espectador de que há alguém dentro do caixão central da festa; ou em “Psicose” ao mostrar a sombra por detrás da persiana do chuveiro; ou até em “Disque M Para Matar“, com o assassino pronto para dar o bote atrás da personagem enquanto ela tenta sucesso em ouvir alguém na linha oposta da ligação.

A metodologia da criação do suspense aqui, está em o que a história que está sendo contada pode revelar ao espectador, para que este saiba mais que as personagens do filme. Cada vez que alguém perceber que não é possível “parar, ou entrar no filme para dar o alarde a determinada personagem”… EUREKA! Temos suspense! E claro… não podia faltar a tão clássica música de fundo, aguda e trêmula, que servia para atenuar o sentimento de tensão.

Não sendo bastante, o mestre se utiliza de um recurso subversivo e, aparentemente, óbvio: a inocência do vilão, que segue o mesmo princípio da bomba e da imprevisibilidade. Logo, se o espectador espera que o mocinho seja realmente o herói da história, façamos, então, com que o “vilão” seja quem mais mova essa história. Essa quebra de “princípios” básicos da narrativa conduzem obras como “I Confess” e “The Wrong Man” rumo à excelência em criar vínculo com o público. Afinal, nas palavras do próprio Alfred, “sempre faça a audiência sofrer o máximo possível“.

“CAMEO” COM CLASSE

Além de um grande cineasta, Hitchcock também era um exímio ator. Sabia? Não sabia? Sim… com muita classe, o prestigiado diretor aparecia comumente em seus filmes, de forma breve, atitude até com denominação própria: “cameo“, que significa justamente “camaleão“. Assim como suas técnicas de ouro no ensinamento da conexão do espectador com o filme e de como se criar suspense, Hitchcock também inspirou muitos diretores até hoje a aparecerem em suas obras (desde Stan Lee até M. Night Shyamalan). Suas aparições breves começaram a ser tão esperadas pelos fãs, que Hitch teve de adiantá-las logo para os minutos iniciais, para que ninguém se perdesse na meada da história. Um clássico é um clássico, não é?!

Foto: Reprodução.

Isso só demonstra o carinho que o público, desde aquela época tem pelo grande Alfred Hitchcock. Suas frases, seus ensinamentos, seus filmes, suas morais, suas técnicas inventivas e suas particularidades narrativas marcaram uma geração e influenciaram outra. E, hoje, estamos aqui… dedicando minutos do nosso tempo para prestigiar no mês do Halloween o “Legado Arrepiante” do primeiro nome que vêm à nossa cabeça quando o assunto é terror e suspense!

E que legado, meus amigos… que legado!

 

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