Evidenciando o poder da imaginação, Rob Savage trabalha a união entre traumas, perdas e medo do escuro em “Boogeyman”
Quando Rob Savage foi escalado para dirigir “Boogeyman: Seu Medo é Real“, logo pensei que não haveria escolha mais perfeita, por trazer o diretor responsável por evidenciar os maiores medos de uma geração em suas obras recentes.
Se em Host, Savage trabalhou o medo da pandemia e do isolamento, em Dashcam, o cineasta brincou com os perigos do negacionismo, com o deboche de fatos lovecraftianos perante os olhos de sua protagonista. Agora, longe do found footage e num filme com orçamento maior, o diretor precisaria trabalhar o medo novamente, ou vários deles.
Qual a trama de Boogeyman: Seu Medo é Real?
Sadie Harper (Sophie Thatcher) é uma adolescente de 16 anos que está tentando lidar com a desolação por ter perdido a mãe. Já inconsolável, Sadie ainda tem que, ao mesmo tempo em que processa o luto, enfrentar uma presença completamente sádica e maligna que atormenta ela e sua irmã mais nova, Sawyer (Vivien Lyra Blair).
Juntas, as irmãs tentam convencer o pai, Will (Chris Messina) de que um bicho-papão com poderes sobrenaturais está à espreita, mas o homem – também lidando com seu próprio luto – não acredita nas filhas. Uma das hipóteses para esse pesadelo é de que a entidade esteja, provavelmente, atrás da família desde que um paciente desesperado visitou Will, que trabalha em casa como psiquiatra.
O que achamos do filme?
O união entre o terror e o drama não é novidade, principalmente no cinema recente, e em Boogeyman: Seu Medo é Real, Savage une o ilusório “horror elevado”, a um filme de gênero mais convencional, entregando jumpscares e momentos que os fãs do horror já conhecem.
Baseado no conto “O Fantasma” de Stephen King (outro que trabalha bem os traumas de seus personagens unido a situações assustadoras), a direção faz o bom uso da escuridão, da descrença, jogando o julgamento para o espectador e sua mente imaginativa.
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A tensão aumenta, e a trama anda com precisão, mesmo que nenhum personagem de Boogeyman precise ter atitudes burras durante a projeção. As irmãs sabem com o que estão lidando e são inteligentes, além de funcionarem perfeitamente juntas. Savage usa de cortes secos e time lapses para trazer dinamismo ao terror.
Inventivo, o diretor oculta a criatura ao máximo, nos fazendo duvidar de sua existência. Esse ceticismo proposital trabalha com os traumas recentes da família, e a sensação de deixar o passado morrer. A presença da mãe ainda é muito forte na casa, por isso a ideia de recomeço rodeia todos os personagens, mesmo que a inclusão de uma “professora enredo” atrapalhe um pouco esse desenvolvimento.
Dos novos diretores do horror, Rob Savage é daqueles que demonstram mais controle e identidade em sua carreira, e o filme entra para o hall das raridades: uma boa adaptação de uma obra de Stephen King.