“Vidas Passadas” é o filme de estreia da dramaturga Celine Song. Ele estreou no festival de Sundance 2023, onde ganhou o prêmio do público de Melhor Filme.
Texto escrito por Victor Martins do Assim Falou Victor
Qual a história de Vidas Passadas?
Após se reencontrarem 20 anos depois de Nora (Greta Lee) se mudar para os Estados Unidos, ela e Hae Sung (Teo Yoo) passarão uma semana juntos, período onde eles conversarão sobre amor, tempo e principalmente sobre si.
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O que achamos do filme?
“Vidas Passadas” é um trabalho que usa muito dos filmes dos anos 80, 90 do cinema de Hong Kong. Nesses filmes, vemos como a vida das pessoas mudava tanto pessoalmente, quanto devido à imigração que acontecia muito na época. Muitas famílias se mudaram, principalmente para os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor, mas, muitas famílias ficavam em seus países.
O que não mudava era o sentimento e foi exatamente isso que não mudou para Nora e Hae Sung. A vida deles seguiu, mas eles nunca se esqueceram um do outro, os caminhos foram diferentes, mas o amor ainda permaneceu, mesmo que dormente, nos dois. Vemos isso não apenas pelas trajetórias e histórias, mas pela maneira como Celine Song as conta.
A diretora alterna as histórias individuais dos protagonistas, de forma que quando elas se unem, quando eles se reencontram, aquela separação esteja no espectador. Se, de certa forma, isso serve para não criarmos expectativas em relação ao futuro dos dois juntos, por outro lado, isso serve para imaginarmos eles juntos e bem, para pensarmos na famosa pergunta “e se?”.
E se Nora nunca tivesse se mudado e ficado na Coreia? Eles estariam juntos? E se Hae Sung tivesse tomado uma decisão que o levasse aos Estados Unidos? E se eles continuassem se falando mesmo com as mudanças, já que a vida muda quase todo o tempo? Nunca saberemos.
Nas nossas vidas, estamos procurando de forma quase constante, uma pessoa que fique nelas. Muitas vezes somos a pessoa que fica na vida de alguém, outras vezes somos a pessoa que vai embora, para Hae Sung, Nora é a pessoa que foi embora, por mais que ele quisesse muito que ela ficasse.
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Nora, em uma fala no filme, explica o conceito de “In Yun”. É um termo coreano, para “providência” ou “destino”, se referindo a duas pessoas e fala que quando desconhecidos se esbarram na rua, se olham, é porque eles tiveram algo em suas vidas passadas, se eles se casam, é porque tiveram “8 mil camadas de In Yun”.
Nora e Hae Sung são, de certa forma, esse termo em carne e osso. Parece que eles em algum momento ficaram juntos, em alguma linha temporal, em alguma das vidas passadas deles e a vida que vemos nesse filme, é justamente uma onde eles seguiram sua vida de forma separada, ela casou com um bom homem (interpretado por John Magaro), ele ainda solteiro, mas bem estabelecido.
Às vezes o destino nos prega peças e é esse o caso aqui. É inevitável não pensar em nós mesmos e nas vezes onde pensamos em situações passadas de nossas vidas e nos nossos “e se” e “in yun”. Acho que a vida nos leva a isso de maneira inevitável, assim como fez com Nora e Hae Sung.
Ao menos, isso gera coisas bonitas de ver dramaticamente. Em “Adeus, China”, é Maggie Cheung quem interpreta uma mulher que foi aos Eua. Em “Camaradas – Quase uma história de amor”, ela interpreta uma mulher que quer viver um amor que ela acha impossível, mas o destino discorda. Em Vidas Passadas, vemos mais uma dessas histórias bonitas e melancolicas de caminhos que a vida nos faz percorrer.
E as coisas podem ser tão fortes quanto uma conversa esperando o uber com a pessoa do seu “e se?” Podem ser tão fortes quanto uma caminhada de volta para a casa, para uma vida não ruim com a pessoa com quem você escolher ser “a pessoa que fica”, mas sem graça e podem ser tão fortes quanto comuns.
Talvez, “Vidas Passadas” seja também sobre isso, não apenas sobre destino, mas sobre o que acontece em uma vida comum e nos momentos rotineiros.
E é um filme tão comum, que torna o destino bonito.
Vidas Passadas chega aos cinemas brasileiros no dia 25 de janeiro de 2024
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