Documentário sobre Björn Andrésen, O Garoto Mais Bonito do Mundo nos conduz – de forma sensível e empática – por uma jornada marcada por pressão midiática, trauma e autoperdão.
Ficar famoso cedo pode ter algumas consequências negativas e o mundo está cheio de exemplos que comprovam isso. Entre podcasts e jornais de fofoca, a mídia está repleta de jogadores, atores e cantores relatando história que se encaixem nesse cenário.
Ainda assim, assistir um filme como O Garoto Mais Bonito do Mundo tende a ser interessante por oferecer a oportunidade de mergulhar na vida de alguém que passou por isso, indo além de reportagens que raramente se aprofundam nos dilemas que preenchem a vida longe dos holofotes.
Qual é a história de O Garoto Mais Bonito do Mundo?
Cinquenta anos após a estreia do clássico Morte em Veneza, Björn Andrésen – a estrela adolescente que interpretou o lendário personagem Tadzio na obra-prima de Luchino Visconti – nos conduz em uma jornada onde memórias pessoais, história do cinema, sucesso e tragédias se confundem.
Isso faz com que a produção de Kristina Lindström e Kristian Petri assuma um papel inesperado: ser a última tentativa desse senhor se perdoar e colocar a sua vida nos trilhos.
O que achamos de O Garoto Mais Bonito do Mundo?
Apesar do longa em si não ter capítulos, creio que a análise de O Garoto Mais Bonito do Mundo merece ser dividida de acordo com suas temáticas.
Digo isso porque, em um primeiro momento, a produção sueca fala sobre a produção de Morte em Veneza para estabelecer como o personagem central ganhou a alcunha do título e ficou famoso. Ou seja, temos aqui um diálogo bem construído sobre o processo de seleção, filmagens e divulgação vivido ao lado de Luchino Visconti.
É por isso que vale a pena repetir que O Garoto Mais Bonito do Mundo não é um documentário sobre cinema. A sétima arte é apenas um ponto de partida que estabelece as pressões midiáticas e direciona os próximos caminhos de uma obra que deseja ir além. Que deseja conversar sobre outros traumas que, entrelaçados à fama repentina, destruíram a vida de Bjorn, transformando-o na pessoa que fala a frase abaixo:
É o que acontece quando a gente não se sente um ser humano…”
É uma quebra de expectativas que coloca o passado e o presente de Björn em rota de colisão. É o choque que atiça nossa curiosidade acerca do que compõe essa vivência deturpada e muitas vezes oposta à ideia de fama compartilhada pelo senso comum.
Admito que a obra não foge tanto assim dos padrões documentais quando o assunto é organização narrativa e estética, porém não se reduz ao ponto de se tornar uma mera homenagem. E o equilíbrio tênue entre esses dois lados acaba sendo controlado pela forma como Kristina Lindström e Kristian Petri revelam os traumas no seu próprio tempo, mantendo o interesse do público no ápice.
Ao mesmo tempo, gosto da mistura lírica entre a história dele, imagens de arquivo bem selecionadas e narrações que transitam os diversos períodos temporais. Para isso, os diretores abrem mão daquelas entrevistas clássicas, onde a pessoa fala direto pra câmera, e dão espaço para a montagem brincar com a sobreposição de narrações e imagens ora poéticas ao extremo, ora mais expositivas.
No entanto, se não temos um documentário que foge do comum, qual é o fator que coloca O Garoto Mais Bonito do Mundo na lista de obras mais interessantes dessa edição da Mostra?
Pra mim, o diferencial está na forma singela como eles tratam a jornada de Björn Andrésen. A obra trabalha com algumas revelações inesperadas, mas se destaca quando toca, com total sensibilidade, em assuntos delicados como morte, possíveis abusos, pressão midiática e depressão.
Björn é uma pessoa que não se acostumou com a fama, viu a reclusão como única solução e se fechou pro mundo, para os relacionamentos e até para os filhos. Nesse cenário, o simples fato dele ter aceitado a presença dos documentaristas ganha contornos emocionantes por conta dessa sensibilidade. Eles se importam com aquele homem e, ao transportar esse sentimento de cuidado para a tela, colocam o espectador na mesma posição.
É um ato de empatia que contagia e preenche O Garoto Mais Bonito do Mundo com carinho. Algo mais do que essencial, considerando que estamos falando de uma jornada marcada por retornos ao passado e autoperdão.
Eu não dava nada pelo filme, mas terminei os 94 minutos de exibição com o coração cheio de emoção e esperança. Reunião de cinema e humanidade numa experiência tocante e surpreendente.
O garoto mais bonito do mundo foi conferido nas cabines de imprensa da Mostra de São Paulo 2021
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