Em uma mistura de “Corra!” com “Black Mirror”, “Não Se Preocupe, Querida” impressiona mais que os bastidores
Texto escrito por Tabatha Oliveira
“Não se preocupe, querida” marcou o ano sendo um dos filmes com os bastidores mais conturbados do cinema. Foram tantas intrigas que as próprias polêmicas fizeram surgir interesse na história. Afinal, por que não se inteirar em um babado hollywoodiano?
Em paralelo às notícias e fofocas, veio a exibição do filme, massacrado internacionalmente. Entretanto, é inegável que tudo aquilo que envolve os bastidores prejudicou a obra. Sem que houvessem os chamados “exposeds”, talvez o filme tivesse a chance de ter uma receptividade mais positiva.
É por isso que “Não se preocupe, querida” é um grande exemplo do ditado “não julgue o livro pela capa”, ou no caso concreto, “não julgue o filme pela fofoca”.
Qual a trama de Não Se Preocupe, Querida?
Alice, personagem de Florence Pugh, é uma dona de casa casada com Jack, vivido pelo amado Harry Styles. Ambientada nos anos 1950, o casal vive em uma pequena comunidade pertencente ao Projeto Vitória, que abriga todos os funcionários e respectivas famílias de uma grande empresa.
Todas as esposas cumprem um papel submisso como dona de casa que cuida da vida do casal e dos filhos enquanto o marido vai trabalhar em uma empresa cujo lema é “mudar o mundo”.
Quando uma das esposas decide dar voz a questionamentos sobre o que de fato os maridos trabalham e o porquê de suas vidas serem tão “americanamente” perfeitas, a rotina dos residentes do Projeto Vitória começa a ser abalada, trazendo à tona segredos perigosos.
O que achamos do fime?
Em um thriller psicológico envolvente com características surpreendentemente semelhantes à nomes como Jordan Peele e Robert Eggers, “Não se preocupe, querida” pode não ser uma ideia original – já que lembra “Mulheres Perfeitas” (2004) – porém, cumpre seu papel de crítica social, se você não criar altas expectativas com base em fofocas, que em nada acrescentam a história.
O longa traz o clima misterioso envolvendo a perfeita comunidade e seus habitantes igualmente perfeitos. Porém esse mistério vem acompanhado de uma narrativa morna e morosa sem ter nenhuma tentativa de despistar o público para a verdade.
Ao mesmo tempo, mesmo com uma evolução desapressada, cenas de tirar o fôlego com ritmos perturbadores, sufocantes e angustiantes estão presentes, mesmo que para cumprir uma função de fingir que não há morosidade. Essas cenas, bem feitas graças à visão da direção de Olivia Wilde e à performance impecável de Florence Pugh, cumprem com maestria essa função fazendo com que o espectador, mesmo que brevemente, esqueça que a narrativa estava calma.
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Florence Pugh e Chris Pine são dois gigantes em tela. Florence impecavelmente traz emoção e intensidade necessária ao arco de uma esposa submissa que nunca questionou nada sobre sua rotina, mesmo que fosse perceptível notar algumas inconsistências diárias, a uma mulher que parece ter acordado de um transe hipnótico e percebesse os detalhes de uma falha na matrix, praticamente.
Chris Pine tem uma presença forte e atiça curiosidade sobre os mistérios que envolvem seu personagem, fazendo com que o público se preocupe em estar atento e obter respostas e falhas que pudessem incriminá-lo.
Já Harry Styles, um ator e cantor tão amado pelo público juvenil graças ao One Direction, não chega nem perto da grandeza de seus colegas. É praticamente impossível comprar a ideia de que Jack, seu personagem, é o homem provedor da família e que, em tese, teria uma presença marcante como um homem e marido misterioso que segue as normas da empresa sem questionar e batalha para ter sucesso em sua carreira sem se preocupar com outros pilares de sua vida. Talvez seja pela sua jovialidade ou pela sua imaturidade profissional como ator, mas fato é que Harry não convence nem tenta fazer com que o espectador acredite que ele possa ser tão ingênuo assim.
“Não se preocupe, querida” é um thriller psicológico com boas críticas sociais, já que aborda com cuidado o sonho americano de uma família perfeita e carreira de sucesso, mesmo que na aparência tendo como oculto as rachaduras dos pilares pessoais, em paralelo à submissão da mulher e seu papel na família tanto na visão misógina do homem, quanto na sua própria visão machista, já que foi assim que a mulher foi colocada.
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