Desterro – Crítica | A tentativa de pertencer

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Foto: Divulgação Embaúba Filmes

Desterro é uma experiência completamente diferente de tudo o que já vimos no âmbito do cinema nacional


Pouco se sabe – ou se procura saber – os dilemas internos da vida de uma mulher. Trabalho, filhos, relacionamentos conjugais, todos são postos sobre os ombros do dito “pilar da família”. A matriarca, que no discurso é tão respeitada, mas na prática ninguém conta o quão exaustivo pode ser manter todas as pontas unidas.

Maria Clara Escobar, renomada documentarista e roteirista, já tem um legado pelo seu tato em abordar tramas familiares, como em seu documentário “Os dias com ele” – onde o ponto central é a história de seu pai. Contudo, aqui, a cineasta sai do âmbito intimista e traz uma perspectiva angustiante dos revezes femininos em seu primeiro longa-metragem de ficção, com direção e roteiro em seu nome.

Foto: Divulgação Embaúba Filmes

Qual a trama de Desterro?

Desterro conta a história de Laura (Carla Kinzo), uma mulher consternada com a monotonia da vida que leva. Sem novas perspectiva, ela decide sair de casa sem avisar numa jornada de descoberta e autoconhecimento, deixando para trás seu filho e seu apático marido Israel (Otto Jr.), que tenta lidar com a ausência da esposa.

O que achamos do filme?

Desterro é uma experiência completamente diferente de tudo o que já vimos no âmbito do cinema nacional. Com uma estética singular, as cenas são quase claustrofóbicas e a todo momento tentam nos passar o desgaste da protagonista com a vida maçante ao lado de seu marido. Os diálogos sem objetivo mostram que apesar de aérea, Laura ainda tenta se conectar de
alguma forma e manter os laços com seu companheiro, ainda que nada mude, e o silêncio junto da ausência de afago sejam uma certeza diária. Israel, por sua vez, não demonstra nenhum interesse nos devaneios da esposa, não desenvolve as conversas e segue a vida no automático.

Com um roteiro não linear, o filme é dividido em 3 capítulos, onde dois deles são focados em Laura e apenas um em Israel. Em todos, a angústia e a infelicidade dos personagens são esfregadas na nossa cara. E no capítulo final, contamos com novos rostos. Mulheres que contam suas histórias, declamando canções a fim de mostrar que Laura não está só. Vale ressaltar que metade da
jornada da protagonista se passa numa estrada, dentro de um ônibus com situações adversas e todas as mulheres que se sentem como Laura.  Elas estão dentro do mesmo veículo, indo na mesma direção, o que é muito emblemático.

Confira também: Não se Preocupe, Querida – Crítica | Maior do que a fofoca

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Foto: Divulgação Embaúba Filmes

As invariáveis da jornada da personagem são rompidas de forma brusca e sem explicação, fazendo com que busquemos respostas sem nenhum objetivo, assim como Israel, que por vezes, não obtém sucesso.

Por fim, Desterro mostra que poético não é sinônimo de ternura. O filme apresenta uma viagem melancólica e leva o drama quase que ao pé da letra, fazendo com que os nossos níveis de empatia sejam elevados a máxima potência, a ponto de sentirmos pelos personagens.


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