Após onze anos de espera, Gato de Botas 2: O Último Pedido chega aos cinemas com um humor afiado e uma animação renovada
Ninguém pode negar que a franquia Shrek, se não for o maior, é um dos maiores sucessos da história da DreamWorks. Os personagens se tornaram ícones da cultura pop, as músicas são lembradas mais pela aparição na trama do que por sua criação, as continuações foram um sucesso de bilheteria mesmo quando a qualidade beirou o questionável, os especiais de Natal se acumularam com o passar dos anos e os derivados se tornaram realidade.
O que nos leva diretamente para 2011, ano da estreia de Gato de Botas. Um filme que nasce a partir do segundo filme de Shrek e garante uma bilheteria mundial de 555 milhões de dólares, superando até mesmo o primeiro longa da franquia. Seria lógico que uma continuação fosse confirmada e iniciada o mais rápido possível, certo?
Não necessariamente. Gato de Botas 2 realmente foi confirmado, mas a estreia só aconteceu 11 anos depois.
Nesse período muitas coisas aconteceram, inclusive boatos de que nomes como Guillermo Del Toro, Chris Miller e Bob Persichetti poderiam assumir a cadeira de diretor da animação. Tantas mudanças, reestruturações e cancelamentos que, admito, minaram as minhas expectativas.
Eu esperava uma sequência caça-níquel que existisse apenas para manter viva uma franquia que muita gente sonha em ressuscitar, mas não poderia estar mais enganado.
Qual é a história de Gato de Botas 2?
O filme começa em uma nova vá aventura do nosso herói, o Gato de Botas. Sempre pronto para enfrentar governantes abusivos e criaturas fantásticas, ele salva uma vila recheada de fãs de um gigante assustador com direito a muita música e ação.
Porém, dessa vez, seu ato heroico chega com um custo.
Após tantos amigos vivendo perigosamente, Gato chegou na sua nona e última vida (sim, nos EUA, os gatos não tem sete vidas). Isso o transforma em um bichano medroso que prefere aposentar as botas e se esconder em um abrigo do que enfrentar um novo vilão.
No entanto, ainda existe uma chance: encontrar uma estrela mágica que realiza pedidos. E isso é motivo suficiente para ele voltar a ativa e iniciar uma nova aventura ao lado de novos amigos e velhos amores.
O que achamos de Gato de Botas 2?
Na busca por algumas palavras que identificassem Gato de Botas 2 e pudessem nortear esse texto, cheguei em duas: bom aproveitamento e renovação. Os motivos explico abaixo…
Ser criativo é saber aproveitar o que temos
Joel Crawford (Os Croods 2: Uma Nova Era) e seu codiretor Januel Mercado entraram em um projeto remendado e acertaram em cheio na escolha do que poderia utilizar e do que merecia ser descartado, levando em conta principalmente o que os fãs – que já mudaram de muito nesse tempo – gostariam de ver na franquia.
Nesse caso, ele traz de volta ingredientes como a reinvenção dos contos de fadas e o humor de casal conduzido por Gato de Botas e Kitty Pata Mansa, colocando personagens como Cachinhos Dourados no caminho da dupla de protagonistas interpretadas com muito carisma por Antônio Banderas e Salma Hayek.
Inclusive, em relação ao trabalho desses dois, a década que nos separa dos personagens parece ser uma semana, tamanho o frescor e a diversão que permeiam Gato de Botas 2. A apresentação do problema com as vidas e o desenvolvimento do relacionamento “entre tapas e beijos” com seu par romântico, passando pelo abandono melancólico das aventuras, é tão bem construído e engraçado que aproxima o público da história de forma imediata.
Em poucos minutos, já estamos cativados, surpresos e animados com os próximos passos não só do filme, como da franquia. É como se lembrássemos de todas as alegrias anteriores e abríssemos o coração para mais uma aventura.
O próximo passo na animação
No entanto, o grande destaque de Gato de Botas 2 está na revitalização estilística do desenho. O próprio diretor declarou nas entrevistas de promoção do projeto que tinha como objetivo quebrar alguns limites criados pela franquia em relação à animação de computação gráfica. Em outras palavras, fugir do realismo para se aproximar de um traço estilizado que favorece a agilidade das sequências de ação, seguindo naturalmente o caminho aberto por Homem-Aranha no Aranhaverso.
Mas não se trata apenas de embarcar em uma onda apenas porque está fazendo sucesso. Quando Crawford fala dos limites da animação, ele está dizendo que, há 20 anos, o público estava interessado em ver Shrek e sua turma se movimentassem com suavidade para soar o mais real possível. No entanto, a audiência ficou mais sofisticada e é necessário acompanhar essa evolução para continuar relevante depois de uma espera tão longa.
Eu não sou um especialista em animação para explicar, mas é como se, em certos momentos, Gato de Botas 2 deixasse de ser uma animação tradicional em 3D para flertar com quadros que parecem pinturas em 2D. Isso permite que Crawford congele quadros, utilize onomatopeias e expanda o portfólio de piadas visuais que podem ser construídas em uma animação cuja a base é uma miscelânea absurda de contos de fadas.
Concluindo nossa comparação: se Homem-Aranha no Aranhaverso faz o possível para parecer uma história em quadrinhos, Crawford e sua equipe decidiram mergulhar no universo de conto de fadas para brincar com as pinturas artesanais que acompanhavam esses produtos em suas criações originais.
As crianças – se é que elas continuam sendo o público-alvo – podem não se importar com isso, mas existe uma diferença notável na qualidade da mise en scene. Palavras de alguém que, lembre-se, não é o maior fã do primeiro longa da franquia e sequer tinha expectativas para essa continuação.
Mas a verdade é que Gato de Botas 2 realmente me prendeu. Crawford consegue desenvolver quase todos os personagens e construir uma montanha-russa cativante, arrancando risos, interjeições de fofura e a dose exata de tensão ao lado de um elenco de dubladores fenomenais (incluindo Florence Pugh, Olivia Colman e nosso Wagner Moura como o Lobo Mau).
Mais do que uma das boas surpresas dessa virada de ano, é uma evolução certeira e um respiro necessário para uma franquia que, mesmo em um reino tão tão distante, já apresentava alguns desgastes. Agora, posso dizer que vale a pena depositar mais expectativas no próximo capítulo desse conto de fadas.
OBS: O filme tem uma cena pós-créditos que fez a CCXP vibrar.
Gato de botas 2: O Último Pedido chega aos cinemas no dia 05 de janeiro de 2023
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