Dark Web Cicada 3301 | Filme B com vergonha de si mesmo

Dark Web Cicada 3301
Foto: Divulgação / A2 Filmes

Dark Web Cicada 3301 é uma mistura de suspense com comédia que poderia divertir, se aceitasse sua condição de filme B


Conhecido como um dos maiores enigmas criptografados das partes mais misteriosas da internet, Dark Web Cicada 3301 é uma mistura de mistério com lenda urbana que já mexeu com a cabeça de hackers do mundo todo. Afinal de contas, o ser humano possui uma queda real por resolver textos codificados e quebra-cabeças. 

Nesse caso, a resolução dos enigmas – que começaram a ser publicados anonimamente no 4Chan em 2012 – dependia de conhecimentos aprofundados em sistemas, criptografia e interpretação de dados virtuais. As etapas envolviam obras de arte, arquivos de música e até mesmo QR Codes colados em postes do outro lado do mundo, obrigando os participantes a trabalharem juntos ao mesmo tempo em que competiam pelo resultado. 

Segundo o site Aventuras na História, duas pessoas revelaram à Rolling Stone americana que conseguiram concluir o desafio em 2015. No entanto, isso não impediu que os usuários do fórum criassem diversas teorias em torno dos objetivos de Cicada 3301, incluindo a possibilidade de se tratar do recrutamento de agentes para uma equipe de inteligência secreta ou de ser um projeto do FBI para encontrar terroristas em potencial. 

É nesse universo de teorias e conspirações absurdas que o ator e diretor Alan Ritchson mergulha para construir seu novo filme.

Qual é a história de Dark Web Cicada 3301?

Um hacker genial, chamado Connor, descobre a Cicada 3301, uma caça ao tesouro online que pode (ou não) ser uma ferramenta de recrutamento para uma sociedade secreta.

Na esperança de resolver os enigmas, ele se junta a Avi, o amigo especialista em arte, e Gwen, uma bibliotecária misteriosa que já conhecia o jogo, em uma corrida contra o tempo que passa por locais aleatórios da internet e pistas no mundo real

Mas a dificuldade das etapas não são o único desafio, já que eles também precisam enfrentar um grupo de agentes da NSA que querem resolver o mistério em nome da glória pessoal. 

Dark Web Cicada 3301
Foto: Divulgação / A2 Filmes

O que achamos de Dark Web Cicada 3301? 

Eu juro que tentei, mas não sei por onde começar esse texto. Por isso, separei blocos de coisas que me marcaram, seja pro bem ou pro mal.

Mais pro mal do que pro bem, só pra deixar claro…

Nada se cria, tudo se copia ou reaproveita

Dark Web Cicada 3301 é aquele tipo de filme que se faz de inovador e descoladinho, mas, no fundo, não passa de um grande derivado. É uma cópia pirata de outros filmes que já usaram melhor o voice over, o tempo rebobinado e as inserções gráficas. 

Da primeira cena até as reviravoltas principais, tudo que o Alan Ritchson faz é criar uma colagem bizarra e desconexa de ideias reaproveitadas. Mais ou menos o que Quentin Tarantino adora fazer, mas sem nenhuma base criativa, possibilidade de ressignificação ou sequer qualidade.

O único momento que se destaca, pra ninguém dizer que só falei mal, é a curta aparição do dono do prédio. Aqui, parece que uma luz desceu sobre o set de filmagens e Ritchson chegou bem perto de fazer algo marcante. 

Uma péssima escolha de elenco diz muito sobre o filme

Eu juro por Marília Mendonça que não sei exatamente de quem é a culpa, mas acredito que, no caso de Dark Web Cicada 3301, a qualidade questionável das atuações está mais relacionada à seleção do casting do que ao trabalho do diretor. 

Talvez fosse mais fácil jogar esse peso nas costas de Alan Ritchson, afinal estamos falando de um roteirista no mínimo medíocre e de um diretor sem experiência que não tem domínio nenhum da mise en scene. Algo que prejudica muito os diálogos e a fluidez das cenas.

No entanto, aqui precisamos voltar um pouco no tempo para falar do casting, porque o filme poderia funcionar melhor se os atores selecionados estivessem mais conectados com a proposta. E, tirando Jon Fuches (Harley Quinn), nenhum deles parece estar de fato imerso na ideia ou até mesmo se divertindo com a possibilidade de estar em um filme B.

Jack Kesy (12 Heróis), o protagonista, é uma parede sem charme que não consegue prender o público. Palavras que também podem ser usadas para classificar Conor Leslie (O Homem do Castelo Alto) e um Alan Ritchson (Reacher) deslocado entre piadas sem graça e cenas de ação cafonas.

Dark Web Cicada 3301
Foto: Divulgação / A2 Filmes
Mas Dark Web Cicada 3301 não é um filme B?

Sim, estamos falando sobre um filme B (de barato mesmo) que segue a mesma métrica da obra que iniciou a carreira de Alan Ritchson como diretor. 

E, como estamos falando de um filme produzido sem nenhuma grana, pode ser justo analisar e talvez até mesmo perdoar algumas coisas. Entre elas, a montagem, a fotografia de resolução questionável e os complementos gráficos durante as cenas de ação.

O elenco não entra nesse grupo, porque acredito – utopicamente, quem sabe – na existência de muita gente boa que está começando e não cobraria tanto pra fazer trabalhos muito melhores do que os de Jack Kesy e companhia. 

No entanto, esse perdão está conectado a um detalhe muito importante: o filme se aceitar como um filme B. Quando isso acontece, a produção tem boas chances de “dar a volta” e ser aquela obra “tão ruim que fica boa”, mas esse não é o caso de Dark Web Cicada 3301. Pelo menos não por completo…

Por mais que o longa tenha uma vibe “feito por amigos que se uniram para adaptar uma lenda urbana que marcou suas vidas”, às vezes Alan Ritchson cai no erro – gravíssimo – de não admitir sua natureza em todas as situações.

É um filme com identidade de filme B, fluidez de filme B, imagem de filme B, elenco de filme B, montagem de filme B, porém volta e meia insiste em ser pseudo inteligente para tentar disfarçar isso. E é nesse ponto que reside quase todo o meu incômodo. 

“Decidimos que se formos a Oz desmascarar o mágico, é melhor trabalhar em equipe. Avi comprou as passagens, Gwen comprou o equipamento de espionagem e eu fiquei encarregado dos smokings. Juntos seriamos imparáveis.”

O protagonista – repito, sem nenhum charme – fica vomitando filosofias baratas e metáforas posicionadas com o propósito único de sugerir que ele é inteligente, deixando o longa supostamente mais complexo. Mas se trata de um texto tão pobre que a única consequência possível é rir. 

Eu, como um defensor da obrigação de ir direto ao ponto quando não se tem realmente muito a dizer, odeio isso com todas as minhas forças. Só que Dark Web Cicada 3301 insiste, assim como insiste nas tentativas de ser descoladinho, em criar firulinhas que, ao invés de complementar a história ou divertir o público, só transmitem raiva. 

Mas sabe qual é a maior incoerência? O mesmo longa que paga de inteligente encontra um jeito de explicar sua reviravolta principal do jeito mais mastigado possível para um personagem que, na teoria, seria o mais inteligente do rolê. É como se desenhasse toda a trama pra pessoa responsável por desenhar a trama. 

Com isso, o resultado não poderia ser muito diferente de um Código da Vinci de segunda divisão cheia de lições de moral e críticas vazias que não consegue sequer ser divertido. 

Em outras palavras, Dark Web Cicada 3301 é aquele filme que tinha tudo para abraçar sua proposta e realçar seus momentos razoavelmente divertidos, mas sucumbe aos pé de um protagonista mal escolhido, falas mal escritas e pseudo inteligentes, e um diretor não consegue retomar as rédeas. Isso faz com que o fogo do público vá sendo gradualmente substituído por uma raiva que supera qualquer boa vontade ou entretenimento descompromissado.


DARk web cicada 3301 está disponível para aluguel digital

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