Jogo do Dinheiro

Nós já estamos cansados de ouvir que o Brasil está afundado em uma grande crise financeira e política, mas, de certa forma, pode ser reconfortante saber que nós não estamos sozinhos. A prova disso está na forma como o mercado financeiro tem se tornado o grande vilão de Hollywood. Um alvo fácil que foi colocado na cadeira dos réus em vários longas durante os últimos cinco anos antes de virar o convidado de gala para um evento midiático nas mãos de Jodie Foster.

Para fazer isso, Jogo do Dinheiro segue Lee Gates, o carismático apresentador de um programa sobre o mercado financeiro que está muito mais preocupado com o entretenimento do que com a informação de cunho jornalistico. Tudo vai muito bem até um entregador, que perdeu muito dinheiro com um dos conselhos de Lee, entrar ao vivo com uma arma e um colete explosivo para conseguir algumas respostas.

O roteiro, escrito por Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf, parte dessa premissa para criar um suspense de alta qualidade, que prende o espectador do início ao fim como poucos filmes conseguiram fazer nos últimos anos. A tensão vai crescendo com o passar do tempo, a construção das relações entre os personagens funciona muito bem, as novas informações (mesmo que óbvias) são reveladas aos poucos e até a comédia entra em momentos perfeitamente calculados para dar o respiro necessário.

Isso já seria o suficiente para fazer valer o ingresso, mas Jogo do Dinheiro possui aquele algo mais que todo cinéfilo gosta de ver. Logo de cara, o roteiro usa o formato apresentado pelo programa para satirizar de forma aberta o jornalismo realizado sem pesquisas aprofundadas, informações importantes ou pequenos pensamentos sobre as consequências dos atos. Money Monster (nome do programa e título original do filme) é puramente sensacionalista e, ironicamente, passa a ser alvo de si próprio quando a atenção do mundo está voltada para o momentos tensos dentro do estúdio.

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Em segundo lugar, o longa aproveita o seu desenvolvimento para cair de cabeça para fazer críticas duras ao mundo financeiro e à forma como os mais ricos ditam todas as regras sem ligar para os elos fracos de suas correntes. Um tema de grande importância mundial que é muito bem utilizado pelo roteiro até o terceiro ato, onde a investigação de uma conspiração tira um pouquinho da força motivacional de tudo o que foi feito até ali.

Não é nada que tire os méritos do longa, mas o texto e a direção meio que se entregaram aos padrões comerciais e perderam uma ótima oportunidade de apertar a ferida com muito mais força. Os cinco minutos finais são o exemplo claro disso, já que ele só estão ali para fazer graça com a produção instantânea de memes em uma cena muito engraçada e dar as explicações típicas dos finais hollywoodianos, quando o close anterior fecharia o filme com uma critica perfeita a forma com os espectadores esquecem os escândalos midiáticos em um piscar de olhos.

Deixando essas escolhas duvidosas de lado, Jodie Foster apresenta um grande avanço no seu domínio narrativo e entrega aquele que deve ser o seu melhor trabalho como diretora. O ritmo do filme é controlado perfeitamente, enquanto ela utiliza muito bem os recursos estilísticos da televisão para apoiar e reforçar a tensão da situação. As mudanças repentinas de ângulos, as luzes típicas de um ambiente controlado, a necessidade de entregar informações com a maior velocidade possível e a edição extremamente rápida de Matt Chesse são exemplos perfeitos do casamento entre cinema e televisão realizado aqui.

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Isso tudo apoiado na ótima direção de um elenco escolhido a dedo. George Clooney entrega um Lee Gates canastrão, mistura idiotice, inteligência e solidão interior na medida certa e sem dúvida nenhuma rouba o filme para si. Do outro lado, Jack O’Connell brilha no confortável papel do injustiçado que faz escolhas erradas na vida, enquanto Julia Roberts encontra a seriedade necessária para posicionar sua diretora entre os dois lados da história. Os três são a alma do filme, mas também recebem as ajudas momentâneas de Giancarlo EspositoCaitriona Balfe, Dominic WestChristopher DenhamLenny Venito.

O resultado é um filme original que consegue se posicionar entre o entretenimento comercial e o filme de gênero na maior parte do tempo, prendendo a atenção público ao mesmo tempo em que os faz pensar sobre a economia e o que rouba nossos olhares todos os dias na televisão. Acaba cedendo a alguns problemas nos seus últimos minutos, mas isso não muda o fato de Jogo do Dinheiro merece sua atenção por mais tempo do que um simples escândalo midiático.

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