A Pior Pessoa do Mundo | Um conto sobre liberdade

A Pior Pessoa do Mundo
Foto: Divulgação/Diamond Films

Será que o simples ato de ser livre nos torna a pior pessoa do mundo?

Essa pergunta aparentemente simples – mas extremamente complexa, não engane – alugou um apartamento na cabeça dele durante toda a sessão. No entanto, ele não encontrou respostas plausíveis.

Ao mesmo tempo, ficou pensando sobre seu texto. Se a ideia não fosse responder essa pergunta, o que poderia falar?

Considerando que um número considerável de pessoas fodas escreveram textos incríveis sobre A Pior Pessoa do Mundo, ele decidiu apenas sublinhar alguns tópicos em capítulos independentes.

Sabe que é jeito clichê de referenciar o formato do próprio longa, mas continua insistindo nessa proposta. É incrível como esse tipo de divisão sempre volta quando ele vai escrever sobre narrativas episódicas.

A Pior Pessoa do Mundo
Foto: Divulgação/Diamond Films

Capítulo 1 – Águas que lavam a trilha sonora

Flávio não sabia que Águas de Março iria encerrar A Pior Pessoa do Mundo, mas achou a escolha perfeita. Seja pela construção episódica com que os versos transitam entre otimismo e pessimismo, pelo universo de interpretações que surgem das palavras fortemente imagéticas ou pelos significados que acompanham a canção como um todo.

A versão em inglês usada por Joachim Trier possui algumas diferenças em relação à composição original, mas nenhuma delas interfere na construção metafórica que transita entre vida mundana, morte e promessa de renovação. Uma combinação que Tom Jobim parece ter feito sob encomenda para A Pior Pessoa do Mundo durante um dos períodos de tristeza em que duvidou do seu próprio talento.

Capítulo 2 – Várias estéticas em uma só

É verdade que as diversas viradas do filme dependem dos diálogos e dos sentimentos presentes no roteiro indicado ao Oscar, mas é inegável que a direção de Joachim Trier é um dos pontos altos da produção.

Flávio sabe que muita gente já abordou esse tópico de maneira mais profunda, porém achou importante comentar sobre o passeio que o diretor promove por gêneros, estilos e estéticas durante os capítulos que dividem a trama. Em certos momentos, A Pior Pessoa do Mundo parece uma esquete de comédia (ate mesmo pela duração do episódio); em outros, se desenvolve como uma comédia romântica com curvas dramáticas.

A Pior Pessoa do Mundo
Foto: Divulgação/Diamond Films

Algo bem próximo da vida, afinal nós passeamos por diversos sentimentos em situações que jamais podem ser classificadas como monocromáticas. O mundo pode ser leve como uma pena, melancólico como um dia nublado, pesado como uma mochila de pedras ou, quem sabe, tão esperançoso quanto o nascer do sol norueguês.

A união entre os textos episódicos e a direção livre para brincar exerce papel essencial na apresentação desse universo de possibilidades que cerca a vida, transformando até mesmo os melhores protagonistas em coadjuvantes de certas histórias.

Capítulo 3 – A hipnotizadora de olhares

Flávio aceitou – contra sua própria vontade – que não conseguiria falar sobre tudo sem escrever um artigo científico, mas não poderia terminar esse texto sem falar sobre Renate Reinsve. Uma atriz que, mesmo sendo tão jovem, carrega o longa nas costas graças a sua presença de cena magnética.

É simplesmente impossível não ficar hipnotizado, olhando para a tela ansioso para descobrir qual é a próxima reação ou expressão que vai sair dela. E Joachim Trier usa isso muito bem, colocando-a em um pedestal de protagonismo que contrasta com os sentimentos de Julie.

A câmera persegue o olhar de Reinsve e deixa ela brilhar em sequências que abrem mão dos diálogos para dar espaço ao cinema em seu estado mais puro, reflexivo e imagético.

A Pior Pessoa do Mundo
Foto: Divulgação/Diamond Films

E, apesar do filme pesar a mão um pouquinho na última virada dramática, a forma completa como Trier comunga a atuação de sua protagonista com texto, montagem, trilha sonora e direção de arte abre espaço para quatro momentos que mereciam um capítulo a parte:

  • A sequência em que o tempo congela para que a personagem realize seus desejos sem limitações;
  • A cena do término por conta dos recortes que a edição picotada cria dentro desse recorte;
  • As tomadas que “encerram” o 12º capítulo diante de um pôr do sol tão melancólico quanto exultante;
  • E o epílogo que mantém o clima de mistério, ao mesmo tempo em que situa a personagem nesse futuro marcado pela passagem das águas de março…

Por mais que a ideia de “sublinhar alguns tópicos em capítulos independentes” tenha sido mantida, Flávio sabe que escreveu mais do que deveria. Mas ele decidiu abrir mão dessa briga para exaltar esse belíssimo filme chamado A Pior Pessoa do Mundo.


Indicado ao Oscar, A Pior Pessoa do Mundo estará disponível a partir de 4 de março para compra e aluguel nas plataformas digitais

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2 comments
  1. Olá Flávio! Adorei o filme e também sua crítica. O fechamento com águas de Março em inglês traz o nosso Brasil. Agora, houve algumas críticas ao fato da gravação não ser na língua portuguesa. Fica a curiosidade o filme é Indie? Possui baixo orçamento? Se a trilha sonora trouxesse a música em português seria mais complicado? Como fica o lance de direitos autorais, sabe me informar?
    Grata.

    1. Olá, Anna. Fico feliz que você tenha gostado da crítica.

      Não tenho informações sobre o orçamento do filme, mas creio que o uso da versão em inglês seja uma escolha do diretor. Talvez por ser a versão mais conhecida por ele ou pelo público europeu, talvez pelas palavras (que diferem levemente das usadas na letra brasileira). É um caso muito parecido com o de Garota de Ipanema, que usam muito na versão em língua inglesa.

      Já sobre os direitos autorais, creio que o percurso seria o mesmo, visto que a canção em inglês também foi composta e interpretada pelo próprio Tom Jobim.

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