Vai e Vem – Crítica | Luz, Câmera, Mulheres em Ação

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Foto: Divulgação Vitrine Filmes

“Vai e Vem” é um documentário co-dirigido por Fernanda Pessoa e Adriana Barbosa, no qual essas mulheres discutem, de forma não convencional sobre a época da pandemia, a experiência do isolamento social, o papel das mulheres no cinema e as lutas políticas que tomaram conta tanto do Brasil, quanto dos Estados Unidos.

Qual a trama de “Vai e Vem”?

Lidando com o isolamento social e desejando contato humano, ainda que de forma não-física, duas amigas (as diretoras) decidem se comunicar, durante o período pandêmico, através de filmes-cartas que deveriam ser gravados usando como inspiração o estilo de alguma diretora experimental. A iniciativa serviria não apenas para documentar aquele momento histórico, mas também para, nas palavras das próprias diretoras, encontrar uma alternativa aos meios de comunicações tradicionais (whatsapp, facetime, etc).

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Foto: Divulgação Vitrine Filmes

O que achamos do filme?

Filmes sobre a pandemia de corona vírus, que se iniciou em 2019 e perdurou – de forma mais rigorosa – até 2021, se tornaram extremamente comuns e populares. Em um curto espaço de tempo, já existe uma vastidão de obras cinematográficas que abordam o tema, seja em formato documental, semidocumental ou completamente fictício, causando, de certa forma, um esgotamento precoce do assunto. Então o que “Vai e Vem” propõe de diferente?

Bom, para começo de conversa, o longa não se contenta em ser apenas mais um filme de pandemia que repete tudo aquilo que já sabemos à exaustão. Apesar de retratar sim as crises políticas e os debates que circundaram à época, as diretoras não ficam satisfeitas apenas com a suposta mensagem relevante que parece ter se tornado carta branca para defender produções de arte medíocre. Pelo contrário, essas duas mulheres decidem focar mais no formato do que na temática e esse é o grande trunfo desse filme.

Além disso, o projeto também vai muito além de uma boa ideia que nunca chega a lugar nenhum, as amigas demonstram especial cuidado ao emular os estilos de diretoras experimentais, sem se deixar cair na cópia caricata – ao contrário dos vídeos do tiktok que tentam imitar o estilo do Wes Anderson e perdem completamente a essência do diretor. Ou seja, não é o simples copiar, é aproveitar o que há de melhor em cada formato para homenagear ao mesmo tempo que colocam sua própria assinatura ali. Como bônus, ainda é possível despertar a curiosidade do espectador em conhecer o trabalho de diretoras menos comentadas nas mídias mainstream.

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Foto: Divulgação Vitrine Filmes

Mas também não se trata de um caso “forma pela forma” em que o exibicionismo técnico precisa valer por si só, o filme tem algo a dizer e, inclusive, já diz muito quando duas mulheres optam por se inspirarem no formato de outras mulheres em uma indústria tipicamente dominada por homens.

Enquanto Fernanda era residente no Brasil, Adriana estava morando no Estados Unidos, apesar de encontrarem-se separadas por uma distância continental, a realidade experienciada por elas era semelhante em vários sentidos, não só no tocante à pandemia e o isolamento forçado, mas também em relação ao momento político que vivia o Brasil de Bolsonaro e os EUA de Trump, a polarização da população que se dividia cada vez mais drasticamente, o aumento e intensificação dos discursos de ódio e, posteriormente, o início da queda da extrema direita, quando Trump é derrotado por seu opositor Joe Biden (uma direita um pouco menos extrema).

Por viverem em locais diferentes, mas tão conectados, as duas conseguem traçar esse paralelo que não chega a ser inédito (muito pelo contrário) mas de certa forma engrandece o debate proposto. E por retratarem as próprias experiências sem dissociarem do contexto político no qual estão envoltas, o filme se torna menos óbvio e evita a fadiga do tema.

É preciso admitir que nem todos os capítulos tem a mesma qualidade, sendo o último o que menos me agrada, enquanto o da sogra de Fernanda é o meu favorito. Alguns temas são abordados com mais sutileza do que outros que acabam pendendo para um lado mais panfletário. De qualquer modo, o saldo final é sem dúvidas positivo e vale a pena conferir nem que seja para conhecer um pouco mais sobre cinema experimental feminino.

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