Tár é grandioso e megalomaníaco como a atuação de Cate Blanchett, a protagonista deste espetáculo, que pode levá-la ao Oscar de melhor atriz
Por vezes é comum separar o cinema em duas vertentes distintas: o macro e o micro. O macro é refletido na figura do blockbuster, do megalomaníaco, no mais por mais, e o micro é retratado nos filmes mais independentes, introspectivos, sendo alguns deles ditos como aqueles filmes onde “nada acontece”.
O diretor e roteirista Todd Field parece entender esse conceito a ponto de querer subvertê-lo, não de forma inédita, longe disso. Mas o realizador está disposto a contar uma história intimista em Tár, sem abrir mão da grandiloquência que a envolve.
Qual a trama de Tár?
Tendo alcançado uma carreira invejável com a qual poucos poderiam sonhar, a renomada maestrina/compositora Lydia Tár (Cate Blanchett), a primeira diretora musical feminina da Filarmônica de Berlim, está no topo do mundo. Como regente, Lydia não apenas orquestra, mas também manipula. Como uma pioneira, a virtuosa apaixonada lidera o caminho na indústria da música clássica dominada por homens.
Além disso, Lydia se prepara para o lançamento de suas memórias enquanto concilia trabalho e família. Ela também está disposta a enfrentar um de seus desafios mais significativos: uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler.
No entanto, forças que nem mesmo ela pode controlar lentamente destroem a elaborada fachada de Lydia, revelando segredos sujos e a natureza corrosiva do poder. E se a vida derrubar Lydia de seu pedestal?
O que achamos do filme?
Assistir Tár é como estar diante do manual definitivo de como separar o artista da obra, ao mesmo tempo em que fala da cultura do cancelamento sem parecer pedante. Mas para destruir, Field precisa primeiro construir o mito. O longa começa com uma belíssima intodução, falando das conquistas da carreira musical de Lydia, e na mesma medida exalta seu jeitos e tiques excêntricos.
Logo depois, seu modo e filosofia de ensino é apresentado numa bela cena sem cortes, onde a fluidez parece conduzir ela e seus alunos numa linha constante de aprendizado. Lidya Tár não quer que você perca o foco, e Todd Field também não deseja que o espectador tire os olhos da tela através de um texto rápido e ácido.
Quando algumas convicções caem por terra, mostrando certa superioridade da protagonista, sem desvalorizar as justificativas do outro lado, a obra faz um estudo de personagem diante de nossos olhos. Cate Blanchett entrega força e fragilidade na mesma medida, repulsa e carinho aos seus ideais e as pessoas com quem convive.Há certa sinceridade em suas ações, mas ser sincero e autentico nem sempre é estar certo.
O cinesta prefere não tomar partido ou julgar Lidya e sua relação com o poder, mas apresenta os fatos para que o espectador decida se condena esta mulher por suas atitudes. O espetáculo musical aparece pouco em Tár, assim como as habilidades de Lydia, mas quando surgem apresentam uma edição de som primorosa, mesmo que a direção preze pelo trabalho corporal de Blanchett.
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Por fim, Tár é sobre a nossa relação com a arte e seu consumo, e como ela pode ser libertadora, ao mesmo tempo em que esbarra em nosso conceitos e percepções de vida.
Nota 10