Após a estreia badalada de Rivais no início desse ano, o diretor, Luca Guadagnino, agora estreia seu segundo longa de 2024 no Festival Internacional de Cinema de Veneza, “Queer”, e nós já conferimos.
Qual a trama de “Queer”?
Em 1950, um William Lee, um americano nos seus quarenta anos leva uma vida solitária na Cidade do México, em meio a uma comunidade americana. A chegada do jovem estudante, Euegene Allerton, desperta algo dentro de Lee, que passa a desejar conexões mais profundas.
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O que achamos do filme?
Ao mesmo tempo que consagra as principais características do diretor e preserva seu estilo, Queer é também o filme mais “experimental” da filmografia de Guadagnino, que através dos anos de carreira, adquiriu experiência suficiente para conhecer muito bem seus pontos fortes e trabalhá-los, sem acomodar-se e sem medo de tentar novas abordagens. Ele provou ainda possuir uma autoconsciência sobre seus pontos fracos também e seu novo filme traz uma espécie de resposta para as críticas que recebeu sobre fugir de cenas mais sexualmente explícitas. Sem abandonar seu gosto pela sutileza e sugestão, aqui Luca equilibra esse elemento com filmagens mais diretas.
Seja com cenas mais ou menos gráficas, uma coisa é certa, Guadagnino sabe imprimir sensualidade em todos seus filmes. Um toque, um beijo, até um olhar carregam uma urgência pulsante, uma intensidade quase adolescente. Seus filmes superestilizados transpiram libido, inclusive através daquilo que nem sempre mostra. A erotização faz parte de sua estética e é sempre delicioso assistir algo filmado e editado com tanta paixão.
O filme pode ser dividido em dois principais momentos, o primeiro é a construção do desejo que Lee passa a nutrir por Allerton. Os dois personagens são antipáticos e difíceis a sua maneira. Enquanto o mais velho é insistente, inconveniente e com um humor problemático, o rapaz é apático, tão desinteressado, quanto desinteressante para além dos atributos físicos. Porém quando se juntam, seus encontros são dominados pela lascívia, através da câmera de Guadagnino.
A segunda parte de “Queer” mergulha mais a fundo dos problemas com drogas enfrentados pelo protagonista – que já tinham sido sugeridos, mas agora são aprofundados. Ele e seu amante parte para a floresta em busca de Yage, uma poderosa nova droga que promete o poder da telepatia. Nessa parte, o filme ganha entornos mais surrealistas e o desejo passa a ser filmado de outra forma até assumir contornos psicodélicos.
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Enquanto Lee faz de tudo para conquistar seu objeto de afeição, o garoto continua indiferente a ele, exceto nos momentos de entrega física, que parecem tão genuínos para na cena seguinte sua veracidade ser colocada em cheque. As boas performances de Craig e Starkey engrandecem ainda mais essa frustrante dança entre os dois, que ora nos causa raiva pela persistência do personagem de Craig, ora nos causa pena pela frieza com que é tratado.
Queer é mais um grande acerto na carreira de Luca Guadagnino que só esse ano emplacou dois grandes filmes. Um excelente contador de histórias, o realizador conduz uma intensa narrativa sobre solidão, vícios e desejos, a partir de composições visuais delicadas e convidativas, pontuadas por uma trilha sonora – tanto original, quanto preexistente – convenientemente encaixada para dar o tom pedido pelo filme.