Em “Os Irmãos de Leila”, o diretor Saeed Roustayi mostra que relações familiares são complicadas
O cinema iraniano é o mais situacional do mundo. Isto é, ele pega uma situação aparentemente banal para o povo do ocidente, e o torna uma bela de neve constante, repleta de dilemas e desdobramentos complexos.
O novo filme de Saeed Roustayi faz exatamente a mesma coisa, abrangendo essa tal situação para uma série de conjunturas, com direito a climões, xingamentos, verdades não ditas e muita gritaria.
Qual a trama de Os Irmãos de Leila?
Leila tem 40 anos e passou a vida inteira cuidando dos pais e dos quatro irmãos. A família briga com frequência e está soterrada em dívidas num país afetado pelas sanções econômicas internacionais. Enquanto os irmãos tentam garantir alguma forma de sustento, Leila tem um plano: começar um negócio familiar que poderia tirá-los da pobreza.
Enquanto buscam desesperadamente por apoio financeiro, Leila descobre que seu pai tem mantido em segredo uma relíquia familiar, para usá-la como oferenda e se tornar o novo patriarca do clã, a mais alta honraria da tradição persa. Esta revelação torna mais caótica a dinâmica familiar já bastante fragilizada entre eles. Conforme a saúde do pai se deteriora, as ações de cada um deles os aproxima de uma implosão familiar.
O que achamos do filme?
Com 2 horas e 45 minutos de duração, Os Irmãos de Leila é eficiente em distribuir o tempo para a criação e a resolução (mesmo que temporária) de cada conflito. A relação dos irmãos é trabalhada em potentes diálogos e detalhes entregues sem a necessidade de flashbacks que mostrem o passado.
Aos poucos, uma dose de desconforto unido ao riso involuntário toma conta da tela, como se estivéssemos assistindo a um reality show às avessas. Claro que, para nós do ocidente, o impacto de alguns costumes podem parecer estranhos, mas o longa consegue universalizar as relações familiares como ninguém.
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Apesar de ter o foco maior em Leila e seus irmãos, as trocas entre os pais e filhos também são um deleite. Há momentos de felicidade genuína, mas outros de puro egoísmo. Despedidas, tragédias, humilhações e emoções. A naturalidade com que as palavras são ditas passeiam com raridade neste cinema condicional.
Atuações poderosas e convincentes dão um tom de um filme grande em tamanho e em grandeza, mesmo que acabe emocionando por tão pouco.