John Wick 4: Baba Yaga é o melhor filme de uma das melhores franquias de ação
No cenário pós-pandêmico, o cinema viveu uma situação delicada, enfrentando dificuldades para trazer o público de volta às salas devido a um conjunto de fatores: ingressos caros, rescisão econômica e o resquício do medo de lugares fechados abarrotados de gente.
Desde então, grandes nomes da indústria amargaram bilheterias bem aquém ao esperado – Nolan, Eggers, Chazelle e até mesmo o pai do blockbuster, Steven Spielberg. Os únicos que pareciam escapar ilesos dessa crise eram as adaptações de quadrinhos. Com a gradativa recuperação dos estragos causados pela COVID-19 somada à saturação das fórmulas repetidas à exaustão nos filmes de heróis, as audiências voltaram a prestigiar grandes épicos de ação e aventura, a exemplo de Duna, Top Gun: Maverick e Avatar II.
É nesse contexto de recuperação do cinema que estreia John Wick 4 com tudo de melhor que o audiovisual tem a oferecer, provando, mais uma vez, que obras de entretenimento não precisam abrir mão de qualidade técnica e primor artístico, sendo plenamente possível divertir a plateia sem renunciar a qualquer resquício de autoralidade.
Qual a trama de John Wick 4: Baba Yaga?
Após desafiar a alta Cúpula, uma organização toda-poderosa responsável por estabelecer as regras pelas quais vivem os assassinos de aluguel daquele universo, o preço pela cabeça de John Wick (Keanu Reeves) está cada vez mais alto.
Na tentativa de reconquistar sua liberdade, John precisará unir-se a antigos e novos aliados, colocando a prova amizades do passado, enquanto enfrenta uma recente ameaça surgida na figura do Marquês (Bill Skarsgård).
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O que achamos do filme?
Se os longas anteriores serviram para estabelecer as regras da franquia e como funcionava aquele universo, em John Wick 4, com as cartas na mesa, sobra espaço para o filme brincar com toda mitologia criada previamente.
Nesse capítulo de sua jornada, o protagonista irá percorrer o mundo em busca de um único propósito: paz, mas não no sentido de paz mundial ou intergaláctica, ainda que o acusem equivocadamente de ser exagerado, esse projeto não sofre de megalomanias, pelo contrário, o personagem principal não tem a ambição de salvar o multiverso, ou o planeta, nem mesmo a sua rua.
Ele só quer se aposentar para sair daquele emaranhado de confusão. Não é necessário que o “mocinho” em tela esteja em busca de um bem maior para fazer a audiência simpatizar e torcer por ele, e essa é uma das grandes sacadas dessa saga.
Estabelecidos seus objetivos e motivações, Wick passa por uma sequência de eventos, enfrentando diferentes perigos, antes do confronto final, quase como em um videogame. Todavia, com um controle magistral de tempo e ritmo, as cenas que levam ao grand finale não se alongam demais, nem de menos, e por contribuírem com uma cadeia lógica de causa e consequência, tampouco parecem servir apenas com “encheção” usada para justificar suas duas horas e cinquenta minutos.
Na era dos tiktoks, reels, stories e etc…, os prazeres rápidos se tornam cada vez mais desejados, principalmente por audiências mais jovens, aumentando exponencialmente os debates em torno da longa duração de alguns filmes. Sobre isso é importante pontuar que o espectador só se sentirá fatigado caso haja um problema de ritmo na obra assistida, por sorte, esse definitivamente não é o caso, mesmo com quase três horas, Stahelski consegue manter o hype sempre em alta, intercalando os momentos de ação frenética com diálogos sobre regras e negociações, assim, o público nunca fica nem entediado, nem cansado.
E esse o ritmo só se mantem constante graças a fluidez narrativa, é dizer, em nenhum momento a história de John Wick 4 é pausada para se dedicar à subtramas desnecessárias ao desenvolvimento do enredo principal. Apesar de funcionarem como fases de um jogo, nenhuma situação vivida é episódica.
As provações enfrentadas além de terem propósito, ainda rendem excelentes lutas, marca registrada da franquia, as coreografias perfeitamente coordenadas, realmente parecem passos de uma belíssima dança letal. Os cortes são sempre precisos, de forma a permitir que ação seja vista ao invés de meramente sugerida. Somam-se aos acertos, a coexistência do humor com a violência gráfica, sem que, no entanto, a pancadaria seja interrompida em prol da piada – os personagens não param de se socar, soltam uma “tiradinha” e depois prosseguem – aqui, o humor é extraído naturalmente.
Também merecem destaque os esforços do elenco repleto de nomes conhecidos pelos fãs do gênero – Donnie Yen, Scott Adkins, Hiroyuki Sanada e, é claro, Keanu Reeves.
E por falar nele, a atuação de Keanu já lhe rendeu diversas críticas ao redor dos anos, e de fato o queridinho de Hollywood não é o mais expressivo em cenas que exigem uma forte carga dramática, no entanto não desaponta em nada enquanto astro de ação, isso é igualmente um fato. E o diretor, Chad Stahelski, sabe aproveita-lo, minimizando seus diálogos e lhe dando espaço para brilhar quando realimente importa, nas lutas.
“Mas, e o roteiro de John Wick 4? É verossímil? Tem furos? ” O audiovisual possibilita a criação das mais diversas e absurdas situações através do SOM e da IMAGEM, e seria um desperdício limitar essa arte à reprodução de histórias “palpáveis”. A magia do cinema permite aos seus realizadores testarem os limites da física e da lógica, e nesse filme não é diferente. Vale o velho bordão “não é o que se conta, mas como se conta” e nesse sentido só existem considerações positivas a serem tecidas. Diante do espetáculo de encher os olhos, pouco importa se os acontecimentos narrados são ou não plausíveis.
Arrancando elogios tanto do público geral quanto da crítica especializada, tudo indica que o novo John Wick se encaminha para ser um sucesso de bilheteria, tendo custado 90 milhões de dólares, o projeto já arrecadou 137 milhões em seu final de semana de estreia. A moral da história é essa: ainda existe espaço para excelentes blockbusters hollywoodianos, o cinema “pipocão” não está morto e oferece projetos com muita qualidade, basta os estúdios acreditarem!
Nota: 10