Mais denso e menos frenético, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” valoriza o que o universo aracnídeo tem de melhor: seus personagens
O maior desafio de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, era vencer o fator novidade que seu antecessor trouxe em 2018. Não apenas na questão visual, que ajudou a quebrar paradigmas e um certo conservadorismo no mundo da animação, mas por ser um filme socialmente relevante, e ganhador de diversos prêmios importantes, entre eles um Oscar.
Como tornar a continuação de um filme tão marcante igualmente relevante? Os diretores Kemp Powers, Joaquim dos Santos e Justin K. Thompson, responderam essa pergunta de forma precisa durante os 140 minutos de projeção: focando a aventura nos dramas de seus personagens. Claro, o fator que tornou Aranhaverso tão grandioso está lá, mas aqui, o micro se sobressai ao macro.
Qual a trama de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso?
No novo filme, Miles Morales (Shameik Moore) é transportado para uma aventura épica através do multiverso, e deve unir forças com velhos amigos como Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) e Peter B. Parker (Jake Johnson), além de um novo time de Aranhas de outras dimensões. No entanto, tudo muda quando os heróis entram em conflito sobre como lidar com uma nova ameaça, e Miles se vê em um impasse com Miguel/Homem-Aranha 2099 (Oscar Isaac).
Para piorar ainda mais a situação, eles precisam enfrentar o vilão Mancha (Jason Schwartzman), numa versão muito mais poderosa do que qualquer coisa que já tenham encontrado antes. Agora, para salvar as pessoas que ele mais ama no mundo, Miles deve redefinir o que significa ser um super herói.
O que achamos do filme?
Esse foco mais dramático na história, já aparece na cena de abertura, focada inteiramente na mulher aranha de Gwen. O texto de Christopher Miller e Phil Lord foge das repetições do primeiro filme com as apresentações de personagens novos e frenesi, para fazer um estudo de personagem mais calmo e profundo.
Claro, a comédia e as piadas visuais que pipocam na tela continuam lá, mas não são o único atrativo. O universo de Gwen por exemplo, é lindíssimo e parece pintado em aquarela, o 2D colorido do Homem-Aranha da Índia (Karan Soni) rende uma sequência absurda, os recortes do Homem-Aranha Punk (Daniel Kaluuya), evidenciam o carisma e personalidade cool do personagem.
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A visões do futuro provindas do vilão parecem xilogravuras, o universo lego rende piadas maravilhosas, e poderíamos falar por horas das diversas versões do Homem-Aranha que aparecem em Através do Aranhaverso, mas o objetivo não parece ser esse, por mais impressionante que as cenas de ação sejam.
Miles não recusa a aventura e se mostra mais maduro, seja no desenvolvimento na relação com os pais, amigos, e a interação com inimigos e antagonistas improváveis. A batalha aqui é manter o cânone e as tragédias que sempre permeiam a vida de cada um dos Homens-Aranha, com o desejo de mudança, vindo de um garoto que quer transformar seu mundo.
Nesse sentido, Através do Aranhaverso se assemelha bastante a série Dark. Enquanto um grupo quer manter as coisas do jeito que são, o outro quer quebrar esses ciclos infinitos recheados de tragédia e sofrimento. Nessa batalha do multiverso, aguarde traições, debates sobre existencialismo, surpresas dos filmes dos Aranhas da Sony, e claro, muitas reviravoltas.
Sendo assim, Através do Aranhaverso é muito mais do que o conhecido “filme do meio”, apesar de preparar um final épico com um gancho poderoso para a conclusão, que pode tornar essa trilogia uma das maiores da história, não apenas da animação, mas do cinema como um todo.
Ps: A cópia exibida na cabine foi a versão legendada.
Ps²: O filme tem uma cena pós-créditos, que apenas revela o título da continuação direta: “Spider-Man: Beyond The Spidervese” (“Homem-Aranha: Além do Aranhaverso”, em tradução livre)