O poder da superação
Um milhão de dólares, 117 milhões arrecadados em bilheteria, nove indicações ao Oscar, três estatuetas vencidas, mais cinco continuações e uma das franquias mais emocionantes sobre a superação. Agora, 40 anos após a primeira subida da escadaria e dez anos depois do último filme, toda essa força promete voltar com tudo em Creed – Nascido para Lutar. Então não tem nada melhor do que relembrar cada filme da franquia de Rocky Balboa junto com suas falhas e seus grandes momentos.
Rocky – Um Lutador (1976)
O primeiro (que já tem crítica aqui desde os primeiros meses do blog) conta a história de um lutador de segunda categoria que recebe a chance da sua vida após ser escolhido para lutar contra o campeão mundial e foi escrito pelo próprio Sylvester Stallone após assistir uma luta onde um lutador pouco conhecido conseguiu ficar de pé contra o monstro Mohammed Ali.
É um filme simples, mas também consegue ser um dos filmes mais completos que eu já assisti. A emoção em torno daquela realidade é muito bem construída, os personagens evoluem no decorrer da trama, os diálogos (também muito simples) apresentam de forma pontual como cada um enxerga o mundo e as cenas de luta passam uma força incomum. Logicamente, o destaque maior fica para o protagonista que, além de tudo, lida com tudo através do bom humor e nunca deixa de acreditar nos seus sonhos.
Não é um filme perfeito, entretanto a utilização praticamente pioneira do esporte, a apresentação de uma ótima história de superação e a criação de tantas cenas icônicas faz com que ele mereça um lugar na história do cinema e na cultura pop. Quem assiste hoje pode até achar que está encarando muitos clichês, mas a verdade é que foi Rocky que estabeleceu tudo isso.
Rocky II: A Revanche (1979)
Mas Hollywood não mudou tanto nessas décadas e, depois do sucesso enorme de um filme tão desacreditado, uma continuação acabaria sendo produzida mais cedo ou mais tarde. O resultado é uma épica revanche entre o Garanhão Italiano e Apollo Creed após ambos não conseguirem lidar com as consequências daquela marcante luta.
O desenvolvimento desse segundo longa tem o mesmo estilo e a mesma métrica do primeiro, mas isso não impede de abordar outros lados dos personagens e voltar com uma história de superação que continua funcionando. As únicas coisas que me incomodam um pouco nesse roteiro é o fato de Apollo ser menos utilizado do que merecia e a grande importância dada para um problema no olho de Balboa, que nunca mais aparece na franquia.
A direção sai das mãos de John G. Avildsen e vai parar no colo de Sylvester Stallone, que assume mais uma responsabilidade com louvor. É possível perceber que o trabalho é de um iniciante, mas ele entrega um trabalho sem grandes problemas e que se encaixa dentro do que a franquia representou anteriormente. Passa longe de ser melhor do que o primeiro filme, mas funciona e emociona da mesma forma que o longa original.
Rocky III: O Desafio Supremo (1982)
O segundo filme também arrecadou menos do que original, mas foi o suficiente para garantir mais um filme depois de três anos. A história segue um protagonista pronto para se aposentar após dez defesas de cinturão quando aparece um novo e feroz adversário que o leva à lona, literalmente. Após isso, ele precisa da ajuda de Apollo para recuperar sua vontade de vencer para voltar ao topo.
Muita gente acha que esse filme é um dos mais fracos da série e, sob um certo ângulo, eu sou obrigado a aceitar, já que esse filme abusa dos clichês estabelecidos anteriormente. Entretanto, assim como disse no TOP 15 de filmes de boxe, ele também tem muitas coisas interessantes e divertidas, como a participação maior de alguns personagens, uma das cenas de morte mais impactantes da minha vida, uma trilha sonora impressionante e mais uma luta muito emocionante.
Fora isso, o longa mantém a maioria dos padrões estabelecidos anteriormente e Stallone acerta em cheio na carga dramática que sua câmera consegue captar. É uma direção mais próxima dos atores e o resultado acaba sendo bem acertado e emocionante. Pode não ser um dos melhores da franquia, mas mantém o espírito e é um dos meus filmes favoritos dentro da Hexalogia.
Rocky IV (1985)
De certa forma, uma grande parte do público pensou como eu, já que mais um filme foi produzido e quebrou com alguns dos padrões de trama utilizados anteriormente. Contando a história de um confronto entre Rocky e um lutador russo após a morte de Apollo, esse quarto ganha um pouco de fôlego ao abrir espaço para um pouco de vingança e ganhar contornos políticos por conta da Guerra Fria.
Na verdade é só isso que alimenta um roteiro que, no restante dos momentos, insiste em manter todos aqueles padrões e clichês marcantes e já comentados. É fácil perceber que isso prejudicaria o filme pela falta de inovação, mas os discursos claramente ufanistas, mais uma morte chocante e um vilão realmente amedrontador ajudaram o filme a mudar um pouco seu estilo e fazer sucesso com o público da época.
Mais uma vez, a direção é de Sylvester Stallone e ele continua fazendo um trabalho razoável. Ele nunca consegue chegar a ser um diretor espetacular, mas apresenta algumas evoluções adquiridas com a experiência e muito amor por um personagem. No fim das contas, esse longa consegue se reinventar de maneira divertida, fazer boas referências aos primeiros filmes e manter o sucesso e a diversão dentro da franquia.
Rocky V (1990)
Depois disso, o personagem recebeu uma folga maior e voltou cinco anos mais tarde. Agora ele sofre um golpe do seu contador, perde tudo, volta para o bairro onde tudo começou e precisa lidar com a aposentadoria, os problemas adolescentes do filho e um novo pupilo que entra em um caminho tortuoso.
À primeira vista, retornar para as origens da franquia parece ser uma boa ideia e ter os mesmos cenários, referências mais diretas ao longa original e até o retorno de John G. Avildsen na direção funciona positivamente até certo ponto. O problema é que esse roteiro perdeu todo o espírito da franquia de uma vez só quando apostou em motivações fracas, personagens chatos (o Duke é insuportável), objetos nunca antes citados e, para coroar, uma relação extremamente mal construída entre pai e filho.
Isso porque eu nem falei (e preferia não falar) sobre aquela luta de rua que não tem um pingo da emoção e da força quemarcaram as lutas dos outros filmes. No final, Rocky V é um filme que enrola muito na parte dramática, apresenta uma história de superação meia boca e finaliza com um clímax ridículo. Deixa claro que o herói precisa de um descanso definitivo.
Rocky Balboa (2006)
O descanso não foi definitivo e Rocky voltou com mais de 50 anos, pouco contato com o filho e um restaurante em nome de sua amada, que morrera anos antes de câncer. Entretanto, a vontade de lutar ainda existe e a oportunidade de enfrentar o atual campeão após uma simulação é o que ele precisa para reconquistar a confiança do filho e se provar para si mesmo.
É verdade que as motivações ainda são fracas, a relação com o filho dele tem altos e baixos e a tal da “Little Marie” é subutilizada, mas o sexto filme da franquia acerta em muitas coisas que o anterior errou. O roteiro de Sylvester Stallone faz um bom uso da nostalgia, consegue contar uma história de superação bem razoável e, principalmente, traz a emoção de volta na luta final.
Inclusive, esse é o momento em que sua direção se destaca dentro de um filme que consegue balancear bem o ritmo do seu desenvolvimento. Ele ainda não é um grande diretor, mas acerta na filmagem próxima e parecida com a transmissão televisiva em todo o final. O único problema é que ele exagera um pouco no uso do preto e branco e de outros recursos estilísticos que eram desnecessários.
Ainda assim esses 16 anos de espera foram o suficiente para fazer o público esquecer do filme anterior e encerrar a franquia de maneira digna. É uma conclusão que tem o clima dos filmes anteriores, mostra o poder da coragem e dá um encerramento digno para todas as lições sobre superação, coragem, medo. Entretanto, o gongo de Rocky ainda não soou e nós só queremos que Creed honre a hexalogia e traga esse clima de volta.