Simplesmente diferente
O longa, que é a conclusão de uma trilogia sobre ser um ser um humano, reúne 39 esquetes sem continuidade nenhuma, onde alguns personagens (às vezes repetidos) vivem situações que apresentam o cotidiano das pessoas e criam reflexões sobre tudo que esteja ligado a isso, incluindo entre eles o egoísmo, a alegria, o preconceito, a depressão, a importância do dinheiro dentro de uma sociedade consumista e, é claro, a morte.
O diretor e roteirista Roy Andersson demostra tudo isso de uma forma extremamente ácida, dando muito espaço para a ironia e o sarcasmo ditarem o tom das cenas. Isso permite que a maior parte das esquetes possui um humor negro muito sutil que se divide entre tirar algumas risadas do público (impossível não rir da cena do exército) e fazer criticas muito mais pesadas. Inclusive, o último terço é tomado por sequências cada vez mais fortes que, infelizmente, destoam bastante do resto do longa. A reflexão sobre o que é ser humano ainda está presente, mas o tom soa estranho em relação a todo o resto.
É um roteiro aparentemente solto que se apoia o tempo inteiro na imprevisibilidade, já que é praticamente impossível antecipar quais são as próximas situações (nada clichês) adaptadas por Andersson. Entretanto, aos poucos, o público mais atento e interessado na proposta do autor consegue perceber que existe um padrão – quase sempre melancólico – na forma como ele enxerga o mundo a sua volta.
E é justamente essa melancolia que prevalece no trabalho de Roy como diretor, onde os longos planos-sequência são completamente estáticos, os ângulos são escolhidos com certa frieza, a câmera insiste em não se aproximar das emoções dos personagens, a profundidade de campo é trabalhada de uma maneira praticamente mágica (sempre preste atenção no segundo plano), a direção de arte complementa tudo com muitos detalhes e a maquiagem carregada dá um ar quase lúdico para a maior parte das sequências.
A união de tudo isso com a construção irônica dos personagens (principalmente os dois vendedores), a teatralidade permitida em cena e o marasmo que faz com que as pessoas pareçam mortos-vivos é o que completa a visão de mundo que Roy quer transmitir em suas curtas reflexões. O resultado é esteticamente brilhante e faz muito sentido dentro de um filme que fala restritamente sobre a vida, mas acaba deixando o filme bem mais arrastado do que ele já é.
No fim das contas, Um Pombo que Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência é um filme bem lento e difícil de ser assistido, mas que acerta na sua subjetividade e na maneira como faz o espectador pensar sobre a vida. Certamente não é um filme para qualquer tipo de público, entretanto merece nossa atenção por passar, entre risos e choques, várias mensagens filosóficas e reflexivas sobre as banalidades que nos cercam.
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