Esse não um filme dos Trapalhões, como a tradução do título tenta indicar. Esse é um dos primeiros filmes dirigidos pelo brilhante Woody Allen.
Fazia tempo que eu não assistia um filme dele, porque não gostei dos seus últimos filmes (com exceção de Meia-Noite em Paris, que é sensacional). E esse filme me fez lembrar quem é Woody Allen e porque seus filmes são tão brilhantes e contagiantes. Aquele humor único que pode ser simples e refinado em uma mesma cena. Um humor ácido, sutil e sarcástico que só Allen consegue transmitir. Sem falar da criatividade para falar sobre coisas do cotidiano que Woody já tinha no começo da carreira.
O filme irônico e nonsense conta a história da vida de Virgil, um ladrão fracassado – e trapalhão – que não consegue ser bem-sucedido em praticamente nada que faz. A criatividade de Woody já pode ser percebida no inicio do filme, por que o mesmo é contado em forma de documentário (intercalando entrevistas com cenas dramatizadas) por um narrador bizarro e sarcástico.
E sem dúvida nenhuma o roteiro é responsável por boa parte das qualidades do filme. O roteiro desse filme em impecável na maneira como trabalha seu humor (principal característica dos filmes do diretor americano). Woody, que já tinha escrito dois filmes e alguns programas para a TV mostra um humor diferenciado desde o início da carreira.
O filme tem cenas onde o humor e basicamente irônico. Essa ironia ora é usada de maneira sutil, ora de maneira escrachada e objetiva. Vejam como o texto inteligente critica vários temas (da religião ao homossexualismo) de maneira criativa e até absurda.
Outros momentos são marcados por um humor visual e corporal. Esse humor é mais simples, no entanto é tão engraçado quanto o humor irônico. Observem a cena onde Virgil toca violoncelo na banda ou na maneira como, em diversas cenas, ele tem sérios problemas para desabotoar as roupas de Louise.
Dentro de todo o filme ainda existem cenas onde o humor predominante é aquele humor absurdo e totalmente nonsense. As cenas onde ele tenta fugir da prisão com uma arma de sabão ou quando ele tenta atropelar uma mulher andando de carro pela casa. E em alguns momentos o humor ácido se mistura com esses absurdos e geram cenas como a do rabino ou a da tentativa de roubo ao banco (esse cena é toda construída por um diálogo absurdo por causa de uma troca de letras). E eu nem falei de outras cenas antológicas, como a fuga dos bandidos acorrentados e a cena onde Virgil se arruma para o encontro com Louise.
Enfim, o roteiro de Allen e Mickey Rose é recheado de ótimos diálogos e cenas rápidas com uma ótima pitada de originalidade e criatividade.
A direção também funciona bem, ajudando a contar a história de Virgil. Os cortes e os ângulos lembram, em muitos momentos, a direção de Allen atualmente, mas muita da direção ainda precisa ser polida. Allen evoluiu e aprendeu muito com o tempo e com a experiência.
A direção pode não ser genial na sua parte técnica, mas ajuda a compor diversas cenas divertidas. A direção ajuda inclusive a contar as partes mais nonsenses da história.
As atuações também são simples e singelas, mas ajudam a contar essa loucura proposta por Woody Allen. Allen faz bem o tipo que tenta ser galã, mas não consegue (e não é…). Outros destaques são a linda Janet Margolin (Louise) e e Jackson Beck como o Narrador. O restante do elenco não tem muito tempo de cena. Não é um elenco sensacional, mas não compromete o filme.
Um filme divertido de Woody Allen, que até surpreende já que foi feito por um diretor em início de carreira. Mostra que todo o humor peculiar e original de Allen começou a nascer junto com sua carreira. É um humor que está cravado na alma de Allen.
Eu só quis escrever sobre esse filme, por que ele fez lembrar os motivos pelos quais me apaixonei pelos filmes de Woody Allen e pelo cinema. Podem esperar outras criticas de filmes de Woody.