Trapaça foi ovacionado pelo público e pela critica americana, ganhou três estatuetas no Globo de Ouro e é um dos favoritos do Oscar. Entretanto, eu acredito que o filme tenha sido um pouco superestimado e não seja tudo isso.
Trapaça segue Irving e Sydney, dois trapaceiros que são presos pelo FBI e obrigados a ajudar num plano mirabolante para capturar políticos corruptos e chefes da máfia.
Trapaça é um bom filme, não se enganem e nem pensem o contrário. Mas depois de todo o burburinho feito em torno do filme e de todas as criticas positivas, devo admitir que eu esperava um pouco mais do filme. Um filme dirigido por um diretor importante, que tem um elenco dos sonhos e acerta em quase tudo. Seu maior problema é o roteiro fraco, previsível e verborrágico que quase estraga o filme.
A previsibilidade do roteiro não seria um problema (afinal de contas, quem não sabe qual é o final dos filmes de roubo e trapaça), se o roteiro de Eric Singer e David O. Russell não insistisse em usar tantos elementos já vistos em outros filmes.
Quase tudo o que acontece em Trapaça já foi visto em outros filmes. Acho que o filme seria mais original se pegasse mais elementos da ação que influenciou livremente a criação dessa história. Temos elementos que remetem a Tarantino, Scorcese, entre outros.
O filme começa ágil e muito interessante, mas o roteiro não consegue segurar a história, que começa a perder força até ficar arrastado em diversos pontos do terceiro ato.
Terceiro ato que é lento e não envolve nem surpreende o público. Todos sabemos que o final seria um grande golpe dos protagonistas, mas essa última trapaça é fraca. Várias pistas são jogadas e muitos diálogos falam sobre como esse golpe teria que ser genial para enganar todos os envolvidos. O golpe funciona, mas não chega nem perto da genialidade prometida pelo roteiro.
A direção é de David O.Russell, que teve seus dois últimos filmes (O Vencedor e O Lado Bom da Vida) indicados ao Oscar, sendo assim um dos diretores mais conhecidos e importantes que surgiu nos últimos anos.
Mesmo com os problemas de roteiro e ritmo, as decisões tomadas por David são certeiras. Sua direção é detalhista e mostra com uma perfeição invejável a caracterização do elenco e toda a recriação dos anos 70 feita por uma direção de arte impecável.
O filme tem seus problemas, mas graças a ótima direção de Russell também cenas arrebatadoras e inesquecíveis. Obviamente o elenco tem grande importância nesse ponto do filme. Em alguns diálogos rápidos e inteligentes, David simplesmente deixa os atores de calibre brilharem e puxar a atenção para eles.
O filme é estiloso e dinâmico, se apoiando sempre em uma ótima parte técnica. A já comentada direção de arte está impecável, assim como a fotografia e a trilha sonora (ambas fazendo ótimas referências a época retratada). Outros destaques técnicos também são o figurino sensacional e a maquiagem perfeita. A caracterização de Christian Bale está mais do que sensacional, com aquela careca falsa fenomenal.
Ainda que a direção e a parte técnica sejam muito boas, o destaque do filme é o elenco excepcional que enche os olhos de qualquer um. Ver Christian Bale, Amy Adams, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Jeremy Renner, Louis C.K e Robert DeNiro juntos em um filme é espetacular.
Amy Adams e Jennifer Lawrence estão sublimes. A primeira merecia um prêmio só pelos belíssimos decotes que usam durante boa parte do filme. Enquanto a segunda vai crescendo no decorrer deste, tendo ótimos momentos no terceiro ato do filme. As duas ainda protagonizam uma cena surpreendente e improvisada no banheiro.
Christian Bale também está muito bem e incorpora com perfeição o jeito malandro de Irving, mesmo estando coberto por muita maquiagem.
Bradley Cooper também está bem, mas é o elo fraco dentro de um elenco tão forte. Suas cenas são forçadas e caricatas ao extremo. Ver o seu personagem fazendo cachinhos no cabelo chega a beirar o ridículo.
Dentre os coadjuvantes, o destaque vai para Jeremy Renner e Louis C.K. O primeiro aparece em um papel completamente diferente do que ele já fez e segura a peteca. Já Louis C.K tem uma participação menor como o chefe de Cooper, mas mostra a mesma competência que sempre mostrou como comediante em sua premiada série, “Louis”.
Robert DeNiro tem uma participação menor que a de Louis, mas tem uma das melhores cenas do filme, principalmente porque ela funciona como uma grande piada. Ver DeNiro interpretando um mafioso em uma mesa junto com Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Renner é sensacional.
Um filme interessante, que funciona muito bem graças ao seu elenco e sua ótima parte técnica. Entretanto, o filme tem muitos problemas, principalmente no roteiro, que não deveriam ser ignorados pela critica especializada. Por tudo o que estavam falando sobre Trapaça, eu espera um filme sem problemas e mais redondo do que esse.
OBS 1: A cena da briga entre Bale e Lawrence foi quase que totalmente improvisada, por que os dois não estavam se conectando com o diálogo presente o roteiro.
OBS 2: A cena do banheiro protagonizada por Adams e Lawrence foi ideia da primeira e a queridinha de Hollywood aceitou depois alguma relutância.
OBS 3: A paticipação de Robert DeNiro não foi creditada.
por Flávio