Beau Tem Medo – Crítica | Traumas hereditários

Ari Aster entrega jornada caótica em “Beau Tem Medo”, tornando algo fantasioso no simples mundano


Em seus longas anteriores, Ari Aster sempre trabalhou a ausência ou indiferença dos pais, seja por razões externas que independem da vontade deles (Midsommar), ou por puro e simples abandono (Hereditário). Recentemente um tweet tomou conta da timeline da rede social do passarinho azul que diz o seguinte: “eu sei que meus pais me amam, mas será que eles gostam de mim?”.

De certa forma até em seus curtas, Ari Aster fala um pouco sobre essa “obrigação ” que os pais tem de amar os filhos, mas eles não precisam necessariamente gostar deles. Em “Beau Tem Medo“, o diretor leva isso a máxima potência, pegando referências de dois curtas de sua filmografia “Munchausen” que pode ser visto no YouTube, e “Beau“, curta que foi retirado de todas as plataformas, justamente porque é uma espécie de prequel do longa em questão.

beau tem medo
Foto: Divulgação Diamond Films

Qual a trama de Beau Tem Medo?

Em Beau Tem Medo, Beau (Joaquin Phoenix) é um homem paranoico que embarca em uma odisséia épica para visitar a casa de sua mãe controladora.

O que achamos do filme?

Tirando logo o elefante da sala, é certo afirmar que Beau Tem Medo não precisava de suas quase 3 horas de duração, e que o segundo ato, numa sequência em que o protagonista teme por seu futuro com o passar do anos, poderia ser mais enxuto. Dito isso, estamos diante de uma dramedia surrealista em que o caos aos poucos, vai tomando conta da vida do personagem título.

Beau embarca em uma viagem maluca e por vezes alucinógena em busca de encontrar sua mãe, e a partir disso a mente doente e insalubre de um narrador pouco confiável vai sendo desmembrada diante dos nossos olhos. É basicamente a jornada de um bebê gigante encarando o mundo, e a falsa sensação de livre arbítrio.

Aster segue com suas panorâmicas, elipses, e planos sobrepostos, aos poucos nos inserindo nessa viagem sequelada, seja ela externa, quando nossa estrela enfrenta os perigos noturnos e diurnos, ou aquela que se passa na cabeça do traumatizado Beau. No texto, o cineasta segue afiado, apresentando a relação bizarra e de cuidado exagerado da mãe com sua prole, misturando essa dependência com o medo da solidão.

Confira também: A Morte do Demônio: A Ascensão – Crítica| Sangue e Família

Foto: Divulgação Diamond Films

A tragédia anunciada do longa é calma na maioria das vezes, com seus picos de emoção e tensão, fazendo o espectador rir de nervoso com o personagem sempre condicionado a perder tudo. Desconfortável, o que se vê é um estudo de personagem, parecido com que Ari Aster faz com Annie (Hereditário) e Dani (Midsommar). Se a primeira tem medo de viver e a segunda tem medo de morrer, Beau Tem Medo de ser minimamente feliz, ou sentir prazer.

Somos guiados a momentos de comédia mórbida, onde coisas banais como o sexo são tratadas de forma jocosa, mostrando que Ari Aster precisa de muita terapia, ou de fato resolveu trazer isso para as telas por simples fetiche, enchendo sua narrativa de metáforas envoltas em pênis gigantes, histórias hipotéticas e julgamentos de pecados arbitrários.

Diferente daquilo que tornou o realizador famoso, o filme escancara as diferentes vertentes que Aster quer abordar, misturando gêneros e temas, como quem mistura comprimidos para depressão, ansiedade, mommy issues, e outros males da atualidade.


Beau Tem Medo está em cartaz nos cinemas brasileiros

Foto: Divulgação Diamond Films
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