Como um bom canceriano, Ari Aster sabe bem como passar sua sensibilidade e emoção para a tela. Nascido em 15 de julho de 1986, o nova-iorquino conquistou os corações dos nossos votantes e será o contemplado em mais uma edição do “Legados de Arrepiar” para este Halloween.
O berço já era artístico: a mãe é poetisa e o pai é músico. Desde cedo, o jovem Ari Aster era obcecado por filmes de terror. Em entrevistas, já assumiu se encontrar na escrita de roteiros (apesar de não se considerar um realizador de filmes de terror, tão somente), e ter referências clássicas que vão de “O Bebê de Rosemary” (1968) até “Repulsa ao Sexo” (1965).
Aster foi formado no College of Santa Fe, uma escola de artes em New Mexico, e, desde 2010, é membro da escola de graduação do American Film Institute, chamada AFI Conservatory, onde recebeu seu título de Mestre de Artes Plásticas (MFA). Seu filme tese foi, nada mais, nada menos, que “The Strange Thing About The Jhonsons” (2011), que segue a nada pacata vida da família Jhonson, que abriga um comportamento perturbador e disfuncional. Desde então, mesmo em curtas, Aster passava o seu recado quando o assunto era impactar com uma história.
Com enredos repletos de alegorias e simbolismos, o cineasta frequentemente utiliza argumentos banhados em humor ácido e sombrio, além de tramas que exploram o psicológico abalado de suas personagens, que costumam já estar inseridas em um contexto familiar problemático (por “familiar” não entenda-se, somente, o sentido de família-núcleo; mas amigos, parentes, entes próximos e relações interpessoais como um todo).
HEREDITÁRIO (2018)
O primeiro longa do diretor, considerado um dos melhores (senão o melhor) filmes de terror de 2018, segue a família Graham, que sofreu com a perda recente da misteriosa avó Ellen e enfrenta estranhos acontecimentos desde então. A narrativa impactante recebeu intensos elogios na mostra de Sundance daquele ano, sendo apelidada até de “‘O Exorcista’ moderno”.
O elenco conta com Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff, Milly Shapiro e Ann Dowd, e a história fica a cargo de pactos satânicos, possessão e contato com os mortos, num plano maquiavélico pensado aos detalhes e cenas chocantes de arrancar a cabeça (ainda dá pra fazer trocadilho disso?).
Distribuído pela famosíssima A24, “Hereditário” conquistou uma grande quantidade de fãs e abriu os olhos dos admiradores do cinema do terror para um possível talento, que foi comprovado pelo trabalho seguinte, ainda mais subversivo e impactante.
O filme está disponível nos catálogos da Netflix e HBO Max.
MIDSOMMAR (2019)
Quando as festividades começaram, ninguém estava pronto. Pois no ano seguinte, Ari Aster anunciava seu próximo filme de terror, que seria ambientado durante o dia. Não precisa voltar pra ler, não… é isso mesmo: um filme de terror completamente às claras! Tratado como apenas um detalhe. E por falar em detalhes, “Midsommar” chama a atenção pela beleza e coloração de seus cenários, sempre afundados em ricas e alegóricas ilustrações.
O enredo é sobre um grupo de jovens que viaja para a Suécia em busca de um festival cultural que acontece a cada 90 anos, e se percebem no meio de uma comunidade pagã completamente bizarra e de hábitos peculiares, que envolvem autoextermínio, substâncias proibidas e atos obscenos, enquanto a protagonista lida com a morte de familiares e uma possível crise de relacionamento.
Já o elenco é formado pela talentosíssima Florence Pugh, além de Jack Reynor, Will Poulter, William Jackson Harper e Vihelm Blomgren no núcleo principal. O filme é descrito como um “conto de fadas para adultos” e faz alusão ao término de um relacionamento, segundo o próprio Ari Aster.
O filme está disponível no catálogo da Telecine.
BEAU TEM MEDO (2023)
O terceiro e mais recente filme do nosso aclamado diretor desta edição é uma ode ao seu estilo sarcástico e alegórico. “Beau Is Afraid” é a extensão de seu próprio curta-metragem datado de 2011, além de ser estrelado pelo vencedor do Oscar, Joaquin Phoenix.
No filme, que difere de todos os outros trabalhos de Aster por se tratar de uma tragicomédia, acompanhamos Beau, um homem de meia-idade e completamente paranoico, que consegue se envolver numa odisseia tão delirante quanto ele próprio, enquanto tenta chegar para o funeral de sua mãe (sim… família, de novo). O filme é o mais longo da filmografia, e, talvez, o mais dramático.
A recepção foi também muito positiva, e Ari Aster segue com estabilidade em sua carreira como um dos diretores mais promissores de Hollywood. O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
Não se sabe muito sobre novas produções, mas há boatos de que próprio Ari já deixou escapar que seu próximo lançamento, provavelmente, será um “western“, ou faroeste, contrapondo mais uma vez a sua própria filmografia da forma que bem sabe fazer.