Baseado no longa argentino “4×4”, ‘A Jaula’ é a versão resumida do puro suco de Brasil
O período que estamos vivendo é muito importante. A quantidade de filmes brasileiros com um viés político e social tem ganhado os holofotes cada vez mais com pessoas se posicionando de forma incisiva, às vezes com sutileza, e outras com necessária densidade.
“A Jaula” – adaptação brasileira do longa argentino “4×4” – vai por esse caminho menos tranquilo, escancarando uma realidade costumeira do brasileirinho, principalmente na polarização que vivemos.
Qual a trama de “A Jaula”?
É só mais um carro de luxo sendo roubado numa rua de São Paulo… ou não. Um ladrão (Chay Suede) entra com facilidade no SUV estacionado numa rua pacata, mas, ao tentar sair, descobre que está preso em uma armadilha, incomunicável, sem água ou comida. Recai somente sobre ele a vingança que um famoso médico (Alexandre Nero) planejou depois de sofrer inúmeros assaltos.
Quem passa em volta não percebe o embate que se arma entre o sádico vingador e o ladrão prisioneiro dentro do carro. “A Jaula” é um thriller psicológico que não deixa o público desgrudar da tela. Quem é o vilão e quem é a vítima?
Você sabia que o longa é a versão brasileira de um filme argentino?
Sim. A Jaula é uma versão brasileira do longa argentino 4×4, lançado em 2019, e dirigido por Mariano Cohn, que co-escreve o roteiro ao lado de Gastón Duprat.
Inclusive, a dupla produz e assina o roteiro da versão brasileira do longa.
O que achamos do filme?
Para tirar de vez o elefante da sala é importante deixar claro: a versão argentina é muito melhor. Avisando que não existe síndrome de vira-lata nessa afirmação, pois A Jaula é nada mais nada menos que a versão brasileira do longa de forma resumida (com 10 minutos a menos), e bem mais leve.
O diretor João Wainer abandona a brutalidade do original, suavizando as cenas de maior impacto, ancorado nas boas atuações da dupla Nero e Chay. A outra diferença está no foco maior na influência da mídia na formação da opinião pública.
A importância do apoio midiático ou não, discute questões pertinentes a nós brasileiros, como a falácia do “bandido bom é bandido morto”, ou da ascensão do bolsonarismo e do datenismo.
É claro que somos pegos pelo sentimentalismo, afinal, como deixamos o país chegar a esse ponto? Infelizmente, A Jaula não vai muito além nessas discussões. Ao abdicar da crueza, Wainer suaviza discursos que poderiam ser mais claros e escancara outros.
Essa história pode até alcançar mais pessoas e ser relevante com essa versão, mas a superficialidade talvez afaste gente ávida por mais conteúdo.