13 Sentimentos | Entre superações, farsas e metalinguagens

13 Sentimentos
Foto: Divulgação

Novo filme de Daniel Ribeiro (Hoje Eu Quero Voltar Sozinho), 13 Sentimentos se afasta da busca por aceitação para mergulhar na comédia romântica metalinguística.


Eu comecei um texto recente com uma argumentação parecida (Toda Noite Estarei Lá), mas não consegui evitar. Afinal, continuo me surpreendendo com a forma como o destino conecta o Festival de Vitória com minhas experiências cinematográficas. Mesmo quando os dois lados não parecem ter nada a ver…

13 Sentimentos não passou no Festival de Vitória ou possui qualquer relação direta com o evento. Porém, eu assisti ao filme na cabine online logo depois de participar de um debate sobre cinema queer em um pré-evento do festival, e a discussão protagonizada por Erly Vieira Jr., Rodrigo de Oliveira e o Anderson Bardot transformou minha experiência.

Eles falaram muito sobre como essas produções ficam presas em ambientes de luta ou descoberta sexual, enquanto a população LGBTQIAPN+ se desenvolve em um ambiente de farsa e fabulação. Pontos que, de alguma forma ressoam tanto no cinema prévio de Daniel Ribeiro (um dos filmes de descoberta mais reconhecidos por essa geração), quanto em 13 Sentimentos – um longa que, curiosamente, consegue se afastar de primeiras experiências ou de lutas para existir.

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Qual é a história de 13 Sentimentos?

“Como o final feliz de um filme perfeito”.

É assim que João (um jovem cineasta prestes a dirigir seu primeiro longa) descreve o fim de seu relacionamento de 10 anos com Hugo, já que, apesar da separação, eles permanecem amigos bem próximos.

No entanto, voltar ao universo dos encontros românticos, usando aplicativos, gera um turbilhão de emoções após ele conhecer Vitor (Michel Joelsas), por quem se apaixona à primeira vista. Ele tenta controlar o relacionamento entre os dois, como se fosse um filme que estivesse construindo, mas descobre que a realidade não é um roteiro e, portanto, nem sempre pode ser controlada.

A inspiração de Daniel Ribeiro para essa trama é bastante pessoal: o fim de seu relacionamento com o também diretor Rafael Gomes, que havia produzido o longa 45 Dias Sem Você (2018) como um retrato ficcional dos sentimentos que vivenciou após o término com o ex-companheiro. 13 Sentimentos é uma resposta que compõe uma trilogia sobre os sentimentos e relacionamentos, ao lado de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho e do futuro Amanda e Caio.

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O que achamos de 13 Sentimentos?

A proposta do diretor é dar sequência a saga do relacionamento queer, criando uma comédia romântica que mergulha de cabeça no mundo da farsa para lidar com todas as consequências de um término. E não estamos falando de qualquer farsa, já que ela está muito bem estabelecida e trabalhada na metalinguagem que praticamente dita o ritmo da vida de João.

Por ser roteirista, editor de vídeos e diretor aspirante, o protagonista se teletransporta para um universo mágico onde pode criar uma versão da sua vida (testando outras tantas versões) que seja perfeita. Em outras palavras: ele encontra uma rota de fuga na ficção, transformando partes da realidade que o desagradam, revivendo cenas do passado como gostaria de ter vivido e reescrevendo os finais para serem mais felizes.

Por coincidência ou não, esse multiverso de fábulas fabricadas se torna o combustível de 13 Sentimentos como comédia romântica graças ao carinho com que Daniel Ribeiro trata o romance, os pontos de comédia e a diversidade de emoções que cerca João.

>>> Leia também: Toda Noite Estarei Lá | Uma luta por fé e existência

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Inclusive, é muito interessante como o personagem é lançado em uma jornada de autodescoberta que, ao contrário do longa anterior, não está ligada a sua sexualidade. Com o avançar da jornada, o que o personagem precisa compreender é sua colocação profissional e sua vida como solteiro.

Ironicamente, em meio a tanta farsa, o que mais me incomoda em 13 Sentimentos é sua encenação pouco natural. Não chega a ser forçado, mas é absurdamente calculado, como se a preocupação do diretor fosse garantir que cada pecinha estivesse no lugar em que precisaria estar para que o resultado final fosse uma comédia romântica moderna e divertida.

É uma teatralidade de movimentos marcados que pode até se confundir com a farsa, apesar de, na maior parte do tempo, soar mais como um comercial de margarina do que com a vida. Não parece ser uma farsa proposital, como a metalinguagem, e por isso destoa do caos sentimental que João assume estar em inúmeras passagens do texto.

Ainda assim, por mais que a confusão nunca supere o rigor das movimentações, sinto que o longa acerta mais do que erra, sendo feliz na construção pontual e individual desses sentimentos. Gosto bastante, por exemplo, da forma como 13 Sentimentos transforma o sexo em um representante de libertação. O verdadeiro e mais puro ápice da jornada de João.

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Por mais que exista todo um (bom) plot secundário sobre vídeos caseiros, o longa guarda a transa para um clímax que flerta com os dois mundos habitados por seu protagonista: a realidade e a farsa. É maravilhosamente real, inesperado e genuíno ao mesmo tempo em que ganha forma nesse ambiente de idealização que pode ser quebrado por uma cosquinha qualquer.

Uma representação não só da transformação do protagonista após quebrar as amarras de perfeição que lançava sobre si mesmo, mas também um espelho da coexistência entre realidade e farsa em nosso dia a dia. Especialmente quando se trata de alguém que está acostumado a enxergar a fabulação como um lugar seguro para ser seu verdadeiro eu.

Um eu perfeito que sonha em viver apenas os sentimentos positivos, lutando contra uma realidade – muitas vezes esmagadora – que nos obriga a viver alegrias e decepções oferecidas pela vida. Talvez seria diferente se a vida fosse uma comédia romântica…


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Foto: Divulgação | Pôster de 13 Sentimentos

13 Sentimentos já está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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