Em 2020, Emerald Fennell debutou como diretora com o aclamado Promising Young Woman, que além de reações positivas também teve um bom desempenho na temporada de premiações. Esse ano Fennell retorna com Saltburn, um projeto que mantém a estética estilosa de sua realizadora, elevando ainda mais o nível de extravagância.
Qual a trama de “Saltburn”?
Oliver (Bary Keoghan) se torna obcecado por um de seus colegas de faculdade e fará de tudo para se aproximar do rapaz, um carismático aristocrata que o convidará para passar as férias de verão com a sua família em sua luxuosa propriedade que dá nome ao filme.
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O que achamos do filme?
Se em Promising Young Woman Fennell já demonstrava ser uma realizadora extremamente estilosa, em Saltburn ela eleva esse estilo à enésima potência, até alcançar uma estética propositalmente cafona. O filme é colorido, repleto de espelhos, figurinos espalhafatosos e músicas nostálgicas, a edição é dinâmica e brincalhona, os personagens parecem que foram retirados de uma série da CW e as tramas do roteiro são absurdamente novelescas.
Mas calma! Nada disso é ruim, pelo contrário, Saltburn é brega e tem orgulho de ser brega, afinal de contas se o filme se passa nos anos 2000 e pretende nos transportar para aquele período, então Fennell não medirá esforços para usar e abusar de elementos que transmitam a vibe da época. E nesse sentido, o exagero é muito bem aproveitado pela equipe técnica sob seu comando, para criar esse universo convidativo.
O espectador se pega tão envolvido na rotina pitoresca daquela família, que engajar na proposta se torna a tarefa mais fácil do mundo, é inevitável se deslumbrar por aquelas pessoas e seu estilo de vida. As vestimentas chamativas, o luxo ostentado, as conversas deslocadas da realidade e as festas carnavalescas contribuem para ressaltar essa intrigante mystique.
Assim como o personagem de Keoghan, o público também experimenta um fascínio instantâneo, que nunca se esmorece. E esse é precisamente o foco da crítica de Saltburn, mostrando o quanto é fácil ser seduzido para dentro daquela espiral de excessos que ao mesmo tempo em que transborda para todos os lados é vazia por dentro.
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Fennell mergulha sua audiência cada vez mais fundo no dia a dia daquela família, desenvolvendo seus personagens com toda a calma do mundo, enquanto coloca-os em situações episódicas ou triviais e vai nos dando pistas de quem é quem, e como se comportam, e com isso prepara, gradualmente, o terreno para o clímax do filme. A progressão da narrativa é lenta, contrastando com o ritmo sempre frenético da montagem e das músicas, que mantém a atenção em alta deixando o caminho livre para a diretora assentar as bases de sua história.
De tal forma que quando os acontecimentos se desenrolam e desaguam no final, parece perfeitamente crível e razoável que aquelas pessoas tenham realmente agido daquela forma, afinal o contexto absurdista já tinha sido estabelecido e o terreno estava devidamente preparado para que o espectador receba de braços abertos o desfecho, que não tenta ser um plot twist, apenas uma consequência natural de tudo que tinha sido apresentado.
O filme não tem tempo para perder com realismo e abraça, do começo ao fim, a fantasia, se construindo como um sonho febril: rápido, colorido, exuberante e repleto de disparates. A fotografia, o color grading e a trilha sonora são combinados com uma edição ágil para criar essa experiência sensorial viciante, que deixa na boca um gosto de quero mais quando sobem os créditos.
A palavra camp é frequentemente mal utilizada quando se fala de sétima arte, mas nesse caso pode ser empregada sem nenhum problema, já que o longa é o puro suco do cinema camp: cheio de vida, estilo, autoralidade e um humor ácido profundamente cínico, perfeitamente autoconsciente que nunca tenta ser aquilo que não é, e justamente por entender seu lugar, consegue ser tão palatável.
Saltburn, que já está disponível no Prime Video desde sexta feira (22/12), chegou como um presente de natal adiando e é a opção perfeita para quem busca uma dose de entretenimento de alto nível nesse fim de ano.