Murilo Benício traz mais uma adaptação teatral em “Pérola”, um filme sobre lembranças maternas
Desde que adaptou a excelente “Um Beijo No Asfalto”, Murilo Benício mostrou um dom natural para conduzir histórias dotadas de exagero e certa teatralidade, abraçando um lado ficcional e surrealista em seu estilo. É o caso de “Pérola”, produção baseada na peça teatral homônima do dramaturgo Mauro Rasi, sucesso de público e crítica.
Aqui, a atriz Drica Moraes é “Pérola”, uma mãe de personalidade forte que comanda o funcionamento de toda a família e tenta estabelecer uma relação mais próxima com o filho Mauro (Leonardo Fernandes), querendo controlar as escolhas e o futuro dele.
Confira também: Nosso Sonho – Crítica | A arte pela necessidade
Qual a trama de Pérola?
O filme conta a história da matriarca Pérola, pelo olhar e memória do seu filho Mauro. Uma história, acima de tudo, sobre o reencontro de uma mãe e seu filho, com conflitos e sonhos traduzidos na construção de uma piscina no quintal de casa.
Um retrato de uma família comum, que briga, faz as pazes, comemora, chora e segue cheia de histórias.
O que achamos do filme?
Benício abraça o fantasioso ao colocar os mesmo atores no “presente” (anos 90), fazendo suas versões adolescentes. Optando por tal escolha estética, é como se o diretor quisesse afirmar que apesar do amadurecimento, algumas questões continuam não resolvidas. Muitas dos fato, trazem um olhar infantil para a coisa, sem nenhuma maldade.
A relação entre Mauro e seus familiares beira o famoso clichê do estranho no ninho, ao mesmo tempo em que ele está inserido naquele melodrama diário. As indas e vindas no tempo dão um certo charme a produção, ancorada pelo humor irreverente que mistura fofocas a problemas sérios.
Confira também: Michelangelo Antonioni | Mostra de São Paulo 2023 faz homenagem ao cineasta italiano
O trunfo do longa está na riqueza de suas encenações. Os atores acreditam em seus personangens, e por mais que o sotaque soe forçado na maioria das vezes junto as perucas caídas, a direção de Benício contorna esses problemas com simplicidade e delicadeza, no trato dos maiores dramas familiares, que por vezes seriam resolvidos em uma conversa (mas sabemos que não é assim).
Pérola não apela para a emoção, apesar de ter a capacidade de nos deixar em pratos nos minutos finais, ao terminar tão cheio de vida como começou.