O docudrama O Último Dia de Yitzhak Rabin, que investiga de forma minuciosa os últimos momentos do líder israelence, teve sua estreia mundial no Festival de Veneza de 2015 e chegou em seletos cinemas brasileiros nessa quinta-feira (02/11).
Qual a trama de “O Último Dia de Yitzhak Rabin”?
Exatamente como sugerido pelo título, o filme narra com detalhes todos os acontecimentos do fatídico dia 04 de novembro de 1995 que terminou com o trágico assassinato do ex-primeiro-ministro de Israel e militante pela paz com os palestinos, Yitzhak Rabin.
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O que achamos do filme?
Antes de mais nada, é importante ressaltar que, apesar de se tratar de um documentário, o projeto propositalmente mistura ficção com realidade e toma algumas liberdades criativas para reencenar os eventos retratados. Isso não é por si só um demérito, tampouco tem o condão de descredibilizar o caráter documental da obra e muito menos tira o impacto da mensagem passada.
A título de contexto, Rabin foi um político israelense mundialmente conhecido por assinar os acordos de Oslo em busca da paz entre os povos judeus e palestinos, esse papel lhe rendeu um Prêmio Nobel. Não obstante também lhe rendeu várias críticas pela extra direita israelense que não concordava com sua política de ceder terras à Palestina, por considerarem que elas pertenciam à Israel, seus detratores acusavam-no também de ter sido a causa por trás da morte de inúmeros judeus, inclusive, como é dito no documentário, vestiam bonecos inspirados nele com uniformes nazistas.
Seu assassinato ocorreu justamente após uma passeata em favor da paz ocorrida em Tel Aviv, na qual ele tomou três tiros nas costas após palestrar. Os disparos foram feitos por um extremista contrário à aproximação dos povos. Após essa tragédia, as tentativas de negociação de paz tornaram-se infrutíferas e acompanhamos a intensificação de um conflito cujo os desdobramentos catastróficos perduram até os dias atuais.
O documentário propõe uma meticulosa investigação sobre como um crime tão hediondo foi cometido contra uma pessoa tão importante que sofria ameaças recorrentes e deveria estar amplamente cercado de guarda-costas. A conclusão, sem spoilers, é que houve uma falha generalizada na segurança e uma corrupção sistêmica permitiram a criação do ambiente perfeito para o assassinato.
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Aimos Gitai não tem medo de apontar dedos para a administração atual de Israel e condenar os ideais lunáticos propagados pela extrema-direita sionista do “país” que fertilizaram o solo para o crescimento do discurso de ódio que culminou na situação política atual. O diretor tem coragem e sua crítica ecoa tão forte hoje quanto em 2015, talvez até mais.
Infelizmente nas idas e vindas de tudo que pretende abordar, o ritmo do longa fica, por vezes, comprometido. Enquanto as filmagens reais e algumas reconstruções prendem a atenção do espectador, as cenas de burocracia judicial testam a paciência de quem está assistindo, tornado a experiência entediante em dados momentos.
O filme tem um teor claramente pessimista e enxerga na morte de Rabin a morte da esquerda israelense (como consta na própria sinopse oficial do letterboxd), como se com ele tivessem acabado também toda e qualquer chance de uma solução pacífica para os conflitos entre Israel e Palestina. Apesar de que até agora, suas previsões feitas a sete anos atrás parecem ter se concretizado, já que a questão parece cada vez mais longe de ser resolvida, é importante não apenas reconhecer o passado, mas olhar para as possibilidades de ações futuras, jogar a toalha não é uma opção quando crimes humanitários são cometidos diariamente!
Reconhecer que nem tudo está perdido (por enquanto) não tiraria o peso da tragédia ocorrida, como parece acreditar o diretor. Pelo contrário, deixaria uma mensagem ainda mais forte: a luta de Rabin precisa continuar, agora mais do que nunca. Para que daqui alguns anos não seja necessário outro documentário sobre como ficamos parados e assistimos um genocídio acontecer de braços cruzados, simplesmente porque tínhamos perdido a esperança.