Noites Alienígenas é o primeiro filme inteiramente acreano a conseguir distribuição nacional. Quando passou pelo Festival de Gramado em 2022 arrecadou diversos prêmios, incluindo o de melhor filme.
Qual a trama de Noites Alienígenas?
As milícias do tráfico vindas do Sul e Sudeste invadem a cidade de Rio Branco, capital do Acre, aumentando drasticamente os índices de violência, principalmente em face de jovens e crianças.
A partir desse cenário, a trama segue a vida de três colegas de infância cujas vidas se interligam: Paulo (Adanilo Reis – “Marighella”), uma vítima do vício em drogas; Sandra (Gleici Damasceno), uma jovem que sonha em fazer faculdade de medicina fora do Estado; e Rivelino (Gabriel Knoxx – vencedor do kikito de melhor ator por esse filme), com apenas 17 anos enfrenta o dilema de se juntar a uma facção para ganhar dinheiro ou ficar longe do crime e viver de sua arte.
O que achamos do filme?
“Noites Alienígenas” recebeu esse título por trazer para as telas uma discussão interessante sobre invasores vindos de longe para causar destruição, nesse caso as facções que chegam ao Acre em razão das novas rotas do tráfico.
A premissa é inteligente e aborda uma realidade pouco explorada pelo cinema nacional que geralmente explora mais as vivencias dos Estados nordestinos, Rio de Janeiro ou São Paulo. A opção por focar a narrativa nos centros urbanos é outro acerto, pois desmistifica a ideia estereotipada de que o norte do país “só tem mato”, isso sem nunca se esquivar de mostrar a natureza e as populações originárias, principalmente durante o núcleo de Paulo, quando o rapaz se volta a sua ancestralidade para buscar ajuda.
A despeito de um conceito promissor, o longa tem dificuldade em desenvolver bem a história proposta, por conta de uma edição problemática nenhum dos três núcleos principais recebe a devida atenção e ao final do filme a impressão que fica é de que foram finalizados às pressas.
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Os personagens coadjuvantes surgem e desaparecem de forma incoerente, por sua vez, Sandra, apesar de ser protagonista, é abandonada pelo roteiro sem um desfecho satisfatório, mas não porque o final tenha sido propositalmente enigmático, ela simplesmente é esquecida e não aparece mais, mesmo faltando meia hora para acabar o longa. Já Loira, mãe de Rivelino, sequer chega a ser introduzida, aparece aleatoriamente aos trinta minutos e assume um papel de destaque no último terço do filme.
É possível que personagens ganhem ou percam protagonismo no desenrolar de um projeto sem comprometer sua qualidade, desde que seja feito de forma coerente (como ocorre com os personagens de Bill Skarsgård e Justin Long em “Noites Brutais”), mas esse não é o caso aqui.
Quem merece destaque é Chico Diaz (“Amarelo Manga”) por sua interpretação de Alê, um carismático vendedor de drogas que milita contra a violência perpetrada pelas facções criminosas e tenta oferecer a Rivelino, e posteriormente sua mãe, algum conforto.
Em resumo, apesar de algumas decisões criativas acertadas, falta organicidade na montagem que compromete a fluidez do ritmo, tornando a experiência menos prazerosa.