Nimona – Crítica | Os monstros que criamos

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Foto: Divulgação Netflix

Com uma pré-produção complicada é louvável que “Nimona” tenha conseguido sequer sair do papel. O projeto inicialmente estava sendo conduzido pela Blue Sky, a qual foi adquirida pela Disney e, posteriormente, fechada. Ano passado, a Netflix anunciou que reviveria o filme, lançado em 30 de junho deste ano na plataforma.

Mas será que após tantos percalços, o resultado final valeu a pena?

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Foto: Divulgação Netflix

Qual a trama de Nimona?

Após ser injustamente acusado de um crime que não cometeu Ballister Boldheart (Riz Ahmed“O Som do Silêncio”) perde a chance de se tornar o primeiro plebeu a assumir o posto de cavaleiro do Instituto, uma organização militar e religiosa reservada para a nobreza encarregada de proteger o reino do monstro que mora para além da muralha.

Enquanto busca provar sua inocência, Ballister conhecerá a caótica Nimona (Chloë Grace Moretz“Suspiria” de 2016), uma metamorfa decidida a ajuda-lo em sua jornada, custe o que custar, inclusive caso seja necessário o uso de violência.

O que achamos do filme?

“Nimona” é um projeto que funciona em duas camadas, a primeira e mais superficial é essa que acabei de descrever acima que por si só já apresenta uma história fantasiosa, envolvendo monstros e cavaleiros, acusações injustas e traições, capaz de encantar o público, principalmente – mas não exclusivamente – os mais jovens.

Porém, o filme ainda pode ser interpretado um pouco mais afundo como uma alegoria para pessoas transexuais, já que a “mocinha” não é de fato uma mocinha e pode mudar a aparência de seu corpo, se apresentando como outras espécies e outros gêneros, algo que ela inclusive precisa fazer para se sentir bem consigo mesmo.

A metáfora apesar de não ser das mais sutis, funciona bem –  em especial quando levamos em conta a idade do público alvo –  além de se encaixar como uma luva com o restante da narrativa. E as transformações ainda rendem bons momentos de comédias.

Outro ponto abordado pelo longa é a questão da diferença de classes, já que Ballinger se torna o suspeito ideal quando um crime é cometido, simplesmente por “não se encaixar” em um ambiente reservado para a nobreza.

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Foto: Divulgação Netflix

Quando ele e Nimona se juntam não lhes sobram escolhas a não ser viver a margem da sociedade, por vezes desafiando normas de convivência e apelando para violência. Afinal, quando todos já decidiram que você é um monstro e deve ser tratado como tal, a única saída pode ser assumir esse papel inicialmente indesejado. Pessoas “do bem” também reagem com agressividade quando precisam sobreviver, e isso não as torna “vilãs”.

Ao contrário do que tem acontecido com algumas obras recentes, Nimona não se contenta em ser apenas mais um filme com um comentário social relevante envolto em uma embalagem vazia. Pelo contrário, seus realizadores entendem que representatividade adequada é de extrema importância, mas é apenas o primeiro passo. Assim, conseguiram contar uma história simples de forma cativante, com atenção para a forma e não só o conteúdo.

Vale ressaltar ainda, que mesmo se tratando de um filme infantil, é um daqueles casos em que há o cuidado para que os adultos possam facilmente se divertirem também, sem ter sua inteligência menosprezada a todo tempo.

No entanto, a obra também não chega a ser perfeita, os diálogos são repetitivos e, por falta de polimento, acabaram deixando o filme um pouco panfletário, didático até demais, carecendo do devido requinte. Esse talvez seja o principal ponto negativo do longa e poderia deixá-lo cansativo, felizmente graças às músicas animadas e à montagem agitada – que combina perfeitamente com a necessidade de transformação constante da protagonista – o ritmo nunca chega a perder a fluidez.

No fim, prevalecem os acertos e a experiência final é positiva.


Nimona está disponível no catálogo da Netflix

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