Em nova obra-prima, Paul Thomas Anderson discute as responsabilidades da vida, do amor e da amizade em “Licorice Pizza”
Quem conhece o cinema de Paul Thomas Anderson sabe que seus personagens são extremamente importantes. Não em vão, o diretor ajudou a lançar e consolidar carreiras de inúmeros atores, graças aos personagens escritos pelo próprio.
Claro que, mesmo valorizando a atuação, PTA não deixa de lado o apuro técnico e o controle de cenários e ambientes em seus filmes, a maioria deles se passando em Los Angeles, como é o caso de Licorice Pizza, novo filme do diretor com 3 indicações ao Oscar 2022: melhor filme, melhor direção, e melhor roteiro original.
Qual a trama de Licorice Pizza?
Gary (Cooper Hoffman) e Alana (Alana Haim) se conhecem por acaso no Vale de San Fernando, em 1973. Apesar de ser dez anos mais novo, Gary não faz questão alguma de esconder seu interesse por Alana, que passa a sentir algo que não consegue compreender pelo rapaz.
Ele, precoce, leva uma vida agitada como ator e empreendedor, mas sem deixar de lado as peripécias com os amigos. Ela, em constante conflito consigo mesma e todos que a rodeiam, ainda não encontrou qual rumo seguir. Gary e Alana, enquanto vagam pela ensolarada Califórnia em meio a inúmeros tumultos, serão forçados a confrontar a complexidade traiçoeira do primeiro amor.
O que achamos do filme?
O domínio das cenas que o cineasta tanto valoriza está nos minutos iniciais de Licorice Pizza, apresentando sua dupla de protagonistas, que acompanharemos (juntos ou separados) durante pouco mais de 2h, que facilmente poderiam durar mais tempo.
Em um plano sequência característico do diretor, somos inseridos no mundo de Gary e Lana, e vemos suas relações extracampo e algo platônico entre eles sendo construído. Aos arredores, inúmeros assuntos da época e participações especiais vão sendo inseridos, mas o que importa é a história de Gary e Lana.
Se formos comparar com um exemplo recente, podemos ver semelhanças com “Era Uma Vez em Hollywood” de Quentin Tarantino, mas enquanto este pára uma cena para introduzir uma homenagem/referência, Licorice Pizza está interessado nos diálogos naturais e na vivência de seus personagens.
O showbusiness está lá, mas não é o mais importante, dando lugar aos medos da maior idade, a busca por responsabilidades, o excesso de inocência e a perda dela, a imprevisibilidade, e acima de tudo a impulsividade dos atos.
Os estreantes Cooper Hoffmann (filho do saudoso Philip Seymour Hoffman) e Alana Haim (da banda com as irmãs mais velhas “Haim”), brilham nesse emaranhado de palavras sobrepostas e silêncios constrangedores.
A comédia aliás, é outro ponto que PTA demonstra autoridade, incluindo boas doses de humor bobo eficiente, misturados com loucura, na figura do ótimo coadjuvante de luxo vivido por Bradley Cooper.
Entre coisas não ditas e situações má resolvidas, Licorice Pizza se encontra no peso das decisões e no receio de ficar para trás, em um mundo que parece devorar esses personagens tentando sobreviver em busca da fama e da grana.
Mesmo perante esses questionamentos, estamos diante de um filme leve, que transborda vida, e caminha para um desfecho ousado, maduro e recheado de alegria. Decididos, Gary e Lana parecem abandonar aquilo que tanto os prendia, e PTA parece melhorar a cada dia, como se isso fosse possível.
Licorice Pizza estreia no dia 17 de fevereiro nos cinemas brasileiros. Caso vá aos cinemas siga todos os protocolos de segurança!
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