Se livrando do peso da despedida e de uma possível sucessão, “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” é uma aventura despretensiosa do herói que conhecemos
Quando franquias antigas encontram o cinema moderno, às vezes elas se adaptam ao novo, como fizeram 007 e Missão Impossível, mas mesmo assim, mantém o ar e o charme do clássico. Indiana Jones e a Relíquia do Destino tenta a todo momento encontrar esse equilíbrio, mesmo que não esteja mais nas mãos de Steven Spielberg, diretor dos outros quatro filmes da franquia.
Dessa vez, James Mangold (Logan, Ford vs Ferrari), assumiu a direção, e apesar de não parecer Spielberg em nada, tenta manter o respeito por seu ídolo e predecessor. O grande problema nisso está na falta de personalidade, numa direção que poderia estar nas mãos de alguém mais autoral. Bom, talvez esse não tenha sido de fato, o objetivo.
Qual a trama de Indiana Jones e a Relíquia do Destino?
Encontrando-se em uma nova era, aproximando-se da aposentadoria, Indy (Harrison Ford) luta para se encaixar em um mundo que parece tê-lo superado. Mas quando os tentáculos de um mal muito familiar retornam na forma de um antigo rival (Mads Mikkelsen), Indy deve colocar seu chapéu e pegar seu chicote mais uma vez para garantir que um antigo e poderoso artefato não caia nas mãos erradas.
O que achamos do filme?
Indiana Jones e a Relíquia do Destino está tão apegado ao passado, que começa com a famosa cena de Harrison Ford rejuvenescido. O efeito por vezes causa uma estranheza, mas só o fato da figura de Harrison estar ali, presente em toda a ação e com o peso de 40 anos vivendo o personagem, traz um frescor aos olhos. A sequência, por mais escura que seja, é bem ágil. Logo depois somos cataputados para 1959, auge da conquista espacial, e de um mundo que parece ter esquecido nosso heróis. Mais velho e frágil, Ford aparece sem camisa, mostrando que a idade chegará para todos.
Sua vida está bem diferente do final do 4º filme, e o texto de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, David Koepp e de próprio Mangold resolve isso em poucas linhas, explicando ausências e trazendo novos rumos a história. A ação não é tão inspirada, por mais que as cenas de perseguição encham os olhos. O fato de Ford ter mais de 80 anos pode ter afetado essa condição, mesmo que seja inegável que o ator traga nostalgia a cada cena. Para injetar juventude e fazer par com o carisma de Indy, Phoebe Waller-Bridge foi a escolhida. A atriz e criadora de Fleabag esbanja química com Harrison Ford, além de doses de irônia e sacadas inteligentes.
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Exemplificando Amy da série “The Big Bang Theory” ao falar que a presença de Indy em Caçadores da Arca Perdida não mudou o rumo da história (o que é verdade), a aventura parece fugir do herói a todo momento em A Relíquia do Destino, por mais que ele a procure. Na época em que ninguém liga para as coisas terrenas e sim para as do espaço, a arqueologia se encontra esquecida e seus feitos parecem não ter servido para nada. A mistura do vigor clássico com a modernidade, torna a produção um tanto quanto espaçada em seu segundo ato, e apressada no interessante terceiro.
A constante busca por mcguffins que levam a outros mcguffins, segue vidrando os olhos do espectador na tela, mas a loucura desenfreada do terço final, é um momento único e emocionante para o personagem. Com cara de despedida, mesmo sabendo que o dinheiro dita as regras em Hollywood, Harrison Ford deseja uma saída heróica, vivendo no tempo em que escolheu. O orgulho e arrogância dão lugar a serenidade e o amor, onde Indy parece ter se tornado um personagem ainda mais humano do que é.