Em 2010, o mundo se surpreendeu com Kick-Ass, um filme politicamente incorreto, violento e recheado de humor negro. Essa mistura foi a fórmula do sucesso e, por isso, é simplesmente mantida na continuação. Kick-Ass 2 traz de volta tudo o que agradou no primeiro filme, mas, infelizmente, não consegue ser tão bom quanto o original.
O novo filme cria arcos individuais para seus protagonistas. Dave continua atuando como Kick-Ass, mas se sente solitário demais. Mindy está vivendo com Marcus, amigo do seu pai que insiste em impedir que ela atue como Hit-Girl. E por fim temos Chris D’Amico e sua transformação em Motherfucker, o vilão do longa.
O arco estrelado por Dave é o mais fraco dos três, mesmo tendo momentos muito divertidos. Assim como no primeiro, o personagem-título acaba sendo ofuscado pelos excelentes coadjuvantes do filme. Principalmente os componentes do Justiça para Sempre. A história tem alguns rumos interessantes, mas a maioria das cenas são desinteressantes.
O arco da Hit-Girl nasceu de uma mistura entre duas HQ’s usadas para criar a história do filme, “Kick-Ass 2” e o spin-off “Hit Girl”. Esse arco tem muitas falhas, mas essas são esquecidas quando a heroína entra em ação. A menina, que foi o destaque do primeiro filme, tem os melhores diálogos e as melhores cenas de ação. Infelizmente, o arco é problemático e ocupa um tempo de tela que poderia ter sido melhor aproveitado.
Posso usar como exemplo as partes onde Mindy tenta se adaptar ao ensino médio. Esse momento do filme traz cenas sensacionais (o teste para o clube de dança), mas também tem cenas mal feitas, apelativas e pouco criativas (a vingança de Mindy e um “easter-egg” de Carrie – A Estranha).
O terceiro arco acompanha Chris D’Amico e sua busca por vingança. E esse é de longe o arco que funciona melhor como um conjunto. Bons diálogos, referências a Batman, surpresas e uma atuação surtada de Christopher Mintz-Plasse marcam as cenas do vilão do filme.
No fim das contas, o roteiro é mais falho que o do original, mas ainda tem bons acertos. As referências ao mundo pop foram mantidas (e melhoradas), o humor está muito afiado e o a violência não foi reduzida. O problema é que o diretor e roteirista, Jeff Wadlow, não soube balançear todas essas coisas boas e nem aproveitar bem o tempo de tela. Por exemplo: se o arco da Mindy na escola fosse menor, alguns acontecimentos poderiam ter sido mais trabalhados e, consequentemente, causado um impacto bem maior.
A direção de Jeff também é inferior a de Matthew Vaughn, diretor do primeiro filme. Isso acontece porque Jeff parece ser instável. Enquanto algumas cenas são muito mal dirigidas e acabam soando falsas, outras cenas apresentam um bom gosto invejável.
Outro ponto destacável da direção de Jeff é que ele não poupa o público da violência. Sabendo que a audiência já tem algum conhecimento sobre o que vai assistir, Jeff usa e abusa do sangue e da violência, elementos importantes na criação de Kick-Ass. E mesmo assim nem tudo é mostrado.
A parte técnica do filme não mudou muito e continua boa. Trilha sonora, efeitos especiais, edição e fotografia acompanham bem a história sem surpreender e nem atrapalhar.
Quando a produção peca em algumas partes técnicas, quem ganha destaque, assim como no original, é o elenco. Aaron Taylor -Johnson está bem no filme, mesmo sendo ofuscado pelos seus colegas de cena. Aaron não é o melhor ator do filme, mas pode ser considerado o mais dedicado. Se você comparar o Aaron de agora com o do primeiro filme, verá que a transformação física do ator é surpreendente.
Chloë Grace Moretz continua roubando a cena. Ver ela chutando bundas e xingando já não é tão surpreendente, mas continua divertidíssimo. Sem contar que Chloë está crescendo e ficando muito mais bonita.
Outro destaque do elenco é o jovem Christopher Mintz-Plasse. Ele está simplesmente surtado no filme. O resultado dessa loucura é que todas as suas cenas são extremamente divertidas. Toda a questão familiar, a vaidade, o egocentrismo e a criação do Motherfucker funcionam muito bem. Sem contar a relação genial entre o nome do vilão e seu figurino.
Jim Carrey é outro membro que surpreende durante o seu pouco tempo em cena, mesmo estando um tanto quanto irreconhecível. Jim está simplesmente hilário na pele do líder do grupo Justiça para Sempre. E além de estar engraçado, Jim aparece muito bem nas cenas de ação.
Do restante do elenco, podemos destacar John Leguizamo (hilário como o Alfred do mal do Motherfucker), Morris Chestnut, Garrett M. Brown (complementando bem o drama do arco de Dave), Lindy Booth e Olga Kurkulina (uma personificação perfeita da Mother Russia). Todos esses tem seus bons momentos durante a projeção.
Kick-Ass 2 é um bom filme de ação e comédia, mesmo não sendo melhor do que o primeiro filme. A fidelidade à HQ e ao primeiro filme deve agradar os fãs mais fervorosos, enquanto o humor o sangue conseguem agradar o grande público. Kick-Ass 2 não é uma obra brilhante (o primeiro é uma obra brilhante, pelo menos na minha opinião), mas merece ser assistido. Todos merecem conhecer Kick-Ass, Hit-Girl e Motherfucker.
OBS 1: O filme tem uma cena pós-créditos.