Com Michael B. Jordan entregando uma direção criativa, “Creed 3” mostra que algumas coisas só se resolvem no soco
Os filmes de boxe, ou filme de esportes no geral, sempre mostram o protagonista lidando com seus problemas e frustrações e descontando-os em seu desempenho, na cobrança individual e no desafio de enfrentar seu maior inimigo: ele mesmo.
Creed 3 não foge muito dessa máxima. Se no primeiro filme Ryan Coogler usou uma direção dinâmica e inventiva nas lutas, e no segundo Steve Caple Jr. valoriza o peso da pancada e do legado, o estreante atrás das câmeras Michael B. Jordan oferece criatividade e até um pouco de classe ao contar uma narrativa que precisa se sustentar sozinha, sem a presença do lendário Rocky Balboa dessa vez, mas será que deu certo?
Qual a história de Creed 3?
Depois de dominar o mundo do boxe, Adonis Creed (Michael B. Jordan) vem prosperando tanto na carreira quanto na vida familiar. Quando um amigo de infância e ex-prodígio do boxe, Damian (Jonathan Majors), ressurge depois de cumprir uma longa sentença na prisão, ele está ansioso para provar que merece sua chance no ringue.
Damian pede a ajuda de Creed para voltar para os campeonatos de luta. Apesar de tudo, dezoito anos na prisão mudam a pessoa e Damian não está nada satisfeito que Creed “tomou seu lugar” no ringue de boxe. Dois velhos amigos então vão lutar para resolver seu passado juntos e enfrentar o futuro que os aguarda. Para acertar as contas, Adonis deve colocar seu futuro em risco para lutar contra Damian – um lutador que não tem nada a perder.
O que achamos do filme?
O texto de Zach Baylin e Keenan Coogler já começa interessado em preencher algumas lacunas da vida de Adonis, nos levando a cidade de Los Angeles em 2002, e introduzindo-nos na amizade do protagonista com Damian. A direção de B.Jordan apresenta um belo cartão de visitas com planos longos e uma luta que faz o bom uso de câmera lenta.
Passada a impressão de que o cineasta iniciante consegue entregar por trás das câmeras, B. Jordan mostra que segue numa crescente também em sua atuação. A dinâmica familiar é a melhor dos três filmes, muito pelo que já foi construído claro, mas a inclusão de Amara filha de Adonis (Mila Davis-Kent) é uma ótima adição, e abre boas possibilidades para o futuro.
Focando no agora, Creed 3 segue o drama de seus personagens em busca da manutenção de valores que os levaram até ali. Perdas e abandonos parecem ser a força motriz da história, além do peso do tempo e de superar traumas não ditos. O filme coloca dois homens negros em pé de guerra pelo simples fato de terem medo de falaram sobre seus sentimentos um para o outro.
São opostos que não querem se atrair, e B. Jordan os separa entre paredes concretas em planos óbvios, mas funcionais. A obviedade aliás está presente no texto cercado de coincidências e artimanhas do destino. Mesmo assim, o diretor consegue exaltar os lutadores, filmando os em contraplongeé como deuses, e como diria Galvão Bueno: “os gladiadores do terceiro milênio”.
Apesar de falhar no uso do CGI (principalmente nas cenas em que o público está nos estádios e palcos das lutas), Michael B. Jordan traz a influência que tem dos animes como otaku que é. Vemos o cenário mudando e refletindo as emoções dos personagens, closes nos possíveis pontos fracos dos lutadores, e claro que não podia faltar o soco dado ao mesmo tempo.
Além disso, Creed 3 quase parafraseia Goku de Dragonball, pedindo para o adversário para que lutem em um lugar vazio. Tudo isso elevado a máxima potência com uma trilha repleta de corais absurdos, que evidenciam a batalha de dois ex-oprimidos em busca da glória.
Para finalizar, seria injusto não exaltar a presença de Jonathan Majors, que além de trazer dualidade ao antagonista, tem um estilo de luta diferente de seus rivais. Tanto ele quanto B. Jordan parecem estar no auge de suas formas físicas, deixando as sequências de treinamento muito mais divertidas, cientes de que nem tudo se resolve com uma conversa e às vezes a única saída é a pancadaria desenfreada. Afinal, isso não é sobre sentimento, é boxe.
Nota: 9