Blonde – Crítica | Um torture porn travestido de cinebiografia

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Foto: Divulgação Netflix

Se você é um grande fã de atriz Marilyn Monroe, esse filme NÃO é para você. Blonde utiliza suas 2 horas e 46 minutos para compilar os piores momentos da atriz de Hollywood, desumanizando-a e explorando seu sofrimento sem qualquer respeito a sua memória.

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Foto: Divulgação Netflix

Qual a trama de Blonde?

O filme segue a história de Norma Jeane Baker (Ana de Armas), partindo de sua traumática infância até que se tornasse Marilyn Monroe, a queridinha da era de ouro de Hollywood.

Abandonada pelo pai e criada por uma mãe abusiva incapaz de amá-la, Norma cresce praticamente largada e quando adulta, batalha por um lugar em uma indústria machista, na qual será constantemente abusada, sem que haja qualquer perspectiva de felicidade. É assim que Blonde enxerga e retrata a vida de Marilyn Monroe.

O que achamos do filme?

Os primeiros minutos do longa são dedicados a apresentar a infância de Norma Jeane na Los Angeles da década de 1930. Sua mãe – brilhantemente interpretada por Julianne Nicholson – sofre de problemas mentais e após colocar a vida da menina em risco mais de uma vez, precisa ser internada em uma clínica, fazendo com Norma seja mandada para um orfanato. Em seguida, há um salto temporal e já somos apresentados a sua versão adulta que trabalha como pin-up girl, pouco antes de se tornar uma estrela de cinema.

Desde criança, Norma sonha com o pai que não conheceu – um homem que irá salvá-la dos maus tratos da mãe e lhe prover uma vida confortável. Ao crescer, a garota continua em busca dessa figura masculina, o que a leva para relacionamentos tóxicos que nunca terminam bem, como é demonstrado em seu casamento com Joe DiMaggio (Bobby Cannavale), o abusivo esposo a quem ela se refere como “daddy”.

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Foto: Divulgação Netflix

A cada homem que passa pela sua vida, seja romanticamente ou não, a atriz parece sofrer um abuso diferente. O executivo que levanta sua saia sem cerimônias e a estupra dentro de seu escritório; os diretores e produtores que nunca acreditam em seu talento como atriz, reduzindo-a a um corpinho bonito; o presidente que se aproveita da moça enquanto ela está sob efeitos de drogas…

Seus traumas causados pela mãe também ecoam em sua vida adulta, a atriz sonha em ter um filho para que possa dar o amor materno que nunca recebeu. Mas esse desejo nunca se concretiza, apesar de ficar grávida pelo menos duas vezes, sofre um aborto espontâneo em uma das ocasiões e na outra é forçada a realizar um aborto que não desejava em uma das cenas mais gráficas do filme.

Ana De Armas cumpre com maestria a difícil tarefa de dar vida a uma atriz tão marcada no imaginário popular. Em meio a suor, lágrimas, e sangue, ela consegue brilhar ao entregar a melhor performance de sua carreira e, possivelmente, uma das melhores atuações do ano até agora. A atriz cubana imprime carga dramática em todas as cenas, e é graças ao tom angelical de sua interpretação, que Marilyn consegue ter um pouco de humanidade.

O diretor Andrew Dominik (O Assassinato de Jesse James) usa sabiamente sua competente equipe artística e com isso consegue deixar a obra com tom “cult”. A fotografia assinada por Chayse Irvin (Infiltrados na Klan e Lemonade) se utiliza de sombras e espelhos que enriquecem o visual do filme. Além de que, o longa alterna takes em preto e branco com takes coloridos, variando também a proporção de tela.

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Foto: Divulgação Netflix

O trabalho de som, os figurinos, a maquiagem, os efeitos visuais, em suma, todo o departamento de arte responsável por esse filme é extremamente competente, criando cenas de tirar o fôlego. O problema é que toda essa expertise está a serviço de uma trama pobre que serve unicamente para re-vitimizar uma mulher que não consegue descansar mesmo estando morta há tanto tempo.

É muito possível que a maioria das passagens de Blonde tenham de fato acontecido, mas condensa-las em um longa de quase 3 horas que não mostra absolutamente nada de bom na vida de Marilyn é desrespeitoso com sua memória. Trata-se apenas de mais uma tentativa de continuar utilizando a imagem da jovem atriz para extrair dela até o último centavo.

Cinebiografias não tem um compromisso de serem 100% fiéis à realidade, mas apenas a título de comparação com outra famosa biopic lançada esse ano sobre o cantor Elvis Presley: enquanto ELE teve seus problemas amorosos e seu vício em drogas colocados de lado para que o diretor focasse em seu legado musical, ELA teve sua carreira artística deixada de escanteio para que o diretor conseguisse mostrar seus abusos e sua dependência. Elvis é um quase um deus, enquanto Marilyn uma eterna vítima.


Blonde está disponível na Netflix

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  1. Odiei. Como mulher e fã dela, da sensibilidade, talentos e brilho nunca de fato reconhecidos, achei repugnante. A cena do sexo oral foi uma das piores. Terrível.

  2. Ótima análise! Achei a ana de armas incrível, mas a trama não tem nenhum compromisso com a realidade e deixa rastros misógino baseados na visão que o diretor tem.
    Teria gostado mais se o tom de voz dado a Marilyn fosse mais natural e se a história fosse mais fidedigna.

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