Ao Seu Lado | Amor e desejo nos campos de rúgbi

Ao Seu Lado
Foto: Divulgação / A2 Filmes

Drama romântico LGBTQIA+, Ao Seu Lado mergulha na sensualidade dos campos de rúgbi para criar uma história de amor honesta


Eu gostaria de começar esse texto com uma pequena enquete: quantos dramas ou romances LGBTQIA+ você já assistiu nas telonas? Desses filmes, quantos possuem o tão esperado final feliz?

Não tenho como oferecer nenhum dado que comprove o que estou falando, mas existe uma reclamação justa e recorrente entre o público sobre essa representação que sempre caminha em direção a tristeza. Às vezes, um personagem precisa lidar com alguma doença; em outros momentos, é o preconceito que rouba a cena, sendo seguido por alguma tragédia.

É lógico que as histórias dramáticas que investem nesse desenvolvimento tem valor e espaço dentro da indústria, não estou aqui para invalidar nenhuma abordagem. Porém, ao mesmo tempo, não posso negar que já ouvi meus amigos falarem tantas vezes sobre as produções LGBTQIA+ com finais dolorosos que já entrei esperando a desolação.

Então se prepare, porque, apesar de ser classificado como um drama esportivo, Ao Seu Lado (primeiro longa-metragem de Matt Carter, artista de efeitos visuais que trabalhou em Andor, Treze Vidas e Indiana Jones e a Relíquia do Destino) alcança a proeza de não ser uma obra com final triste.

Talvez não seja necessariamente feliz, mas não é triste…

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A história de Ao Seu Lado

Após um encontro inesperado durante uma festa, dois jogadores de rúgbi de um clube em decadência acabam se envolvendo romanticamente, mas devem esconder seus sentimentos crescentes para preservar tanto seus relacionamentos fixos, quanto a existência do clube que tanto amam.

As tensões – e as suspeitas – aumentam quando um deles, que faz parte do time principal, é relacionado para o time reserva como parte da recuperação de sua lesão. Isso os obriga a revelarem suas vulnerabilidades, testarem a lealdade e atravessarem campos cheios de lama e suor para viver o amor.

O que achamos de Ao Seu Lado?

Sem o peso da tragédia nas costas, Ao Seu Lado já nasce livre das amarras que o impediriam de ser simplesmente um drama esportivo com contornos românticos. E Matt Carter aproveita essa liberdade para construir relacionamentos reais, seja entre os colegas de time ou entre os pares românticos de Mark (Alexander Lincoln) e Warren (Alexander King).

Nesse contexto, o filme se destaca por tratar o desejo de maneira frontal e honesta. Os tabus relacionados à sexualidade e até mesmo à traição ficam do lado de fora do campo para que cada indivíduo possa ser quem ele gostaria de ser, falar como gostaria de falar e expressar os sentimentos que mexem com seu coração.

Ao Seu Lado
Foto: Divulgação / A2 Filmes

O mesmo não acontece necessariamente com o juízo de valor e isso não é um problema. Ele possui seu papel, afinal, para além dos sentimentos incontroláveis que Carter filma com um misto curioso de sensibilidade e tesão, Ao Seu Lado continua sendo um longa sobre traição e as consequências desse ato.

A diferença é que Carter dá muito importância para a liberdade e faz o possível para evitar que, imageticamente, o público fique com o martelinho na mão, julgando as ações daqueles homens. Por mais que você escolha um lado ou grite que eles estão errados em vários momentos, o filme não permite que o julgamento roube as atenções.

“O amor é um esporte de contato”

No universo criado por Carter e Adam Silver (em seu primeiro trabalho como roteirista), todos são livres para agir, conscientes de que algumas ações podem gerar reações negativas. O que importa é estar ligado no seu momento, conectado com seus sentimentos e disposto a escolher o que te faz feliz. Não podemos garantir que essa felicidade será duradoura, mas podemos aproveitar os bons momentos sem medo de mergulhar de cabeça em amores tórridos e ardentes.

Você pode não concordar com essas afirmações (e tá tudo bem), mas elas são parte importante da construção moral de Ao Seu Lado. O processo de escolha é retratado com uma complexidade palpável e honesta, permitindo que o espectador coloque a empatia em prática e se aproxime dos personagens. E vale tanto para os momentos felizes, quanto para aquelas passagens agridoces.

Leia também: Tudo sobre Amor em Foco, filme turco que está no Top 10 da Netflix

Ao Seu Lado
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É por isso que, mesmo apostando em uma conclusão que alguns classificaram como triste, o longa consegue escapar das armadilhas montadas pela tragédia. Ao nos apresentar personagens reais, sentimentos reais e romances reais, Carter se permite flertar com o toque amargo do término ou com o lado ruim da traição para mostrar que a derrota também faz parte das nossas vidas, fora e dentro dos campos. Em outras palavras: nem todo relacionamento vai ser eterno e está tudo bem, desde que você se mantenha no caminho da sua própria felicidade.

Admito que, às vezes, a união entre as atribulações pessoais e profissionais se chocam sem tanta conexão, mas é assim que acontece no rúgbi. E, se tem alguma coisa que Carter faz bem, é filmar os trechos de partida que entram na narrativa, dedicando uma boa parte da sua atenção a elementos do esporte que podem ser sexualizados.

Não é nada pesado ou deslocado da história de amor que forma o eixo central. Muito pelo contrário, é um exercício de ressignificação que mostra o esporte por outros pontos de vista, da mesma forma que Ao Seu Lado incentiva a fazer nas decisões da vida, reforçando o convite para acompanhar as jogadas certas e erradas que compõem essa paixão emocionante, enlameada e encharcada de suor.


Ao Seu Lado já está em cartaz nos cinemas. 
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