Ainda Estou Aqui – Crítica | Tão bom que realmente parece Brasileiro

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A emoção de ser uma Brasileira em Veneza no dia 01 de setembro de 2024 foi indescritível! Uma verdadeira honra poder ver o cinema de meu país sendo tão bem representado por um filme poderoso, que já ganhou o coração da crítica especializada por aqui. Após a exibição, “Ainda Estou Aqui” foi aplaudido por dez minutos e já larga na frente como um dos favoritos na premiação.

Qual a trama de “Ainda Estou Aqui”?

No Rio de Janeiro de 1970, durante a ditadura militar, o ex-deputado, Rubens Paiva, foi tirado de sua casa, levado para interrogação e preso. Depois disso, nunca mais foi encontrado, a despeito dos esforços da mulher e dos filhos.

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O que achamos do filme?

Cinema de alto padrão é capaz de ressoar com todos e despertar empatia até naqueles que não fazem parte da época, região ou grupo demográfico retratado. E Ainda Estou Aqui é exatamente esse tipo de filme, que irá comover brasileiros que conhecem as cicatrizes do regime militar, mas conseguirá, da mesma forma, se comunicar com o resto do mundo. Isso porque, antes de mais nada, o filme é sobre família, o amor incondicional que os une, o desespero de se ver sem um marido ou um pai e sequer saber o motivo e é, ainda, sobre essa grande injustiça social cometida com o aval do estado.

Esses sentimentos são universais, ainda que o contexto político em que acontecem sejam específicos do nosso país. E a forma como Salles aborda a história faz com ela se comunique com todos, justamente por saber como explorar essa universalidade dos sentimentos.

Seu grande trunfo como diretor é entender que para um filme ser bom não basta que tenha um comentário social relevante, que até pode ser um excelente ponto de partida, mas sozinho não é suficiente. E por isso, ele não se escora no comodismo de se contentar com a mensagem passada. Por mais clichê que seja a frase “não é o que se conta, mas como se conta”, ela não deixa de ser verdadeira. E Salles sabe contar uma história tão potente tanto no“o que” quanto no “como”.

O design de produção chama a atenção pela forma como reconstrói aquele período histórico, através da decoração da casa, dos pôsteres nas paredes, dos vinis, dos carros nas ruas, dentre tantos outros detalhes. Também trabalha muito bem o contraste do lar cheio de vida e personalidade, com a cela escura e impessoal, o primeiro é um lugar de pertencimento, o segundo de apagamento de identidade. Isso é narrar, sem precisar dizer uma só palavra.

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O poder da imagem é muito grande em “Ainda Estou Aqui”, um olhar, uma expressão cansada, um sorriso que esconde uma mistura de desespero com tristeza ou a brutalidade de um gesto. Assim, a força do impacto acaba sendo muito maior do que se tivesse sido apenas textual.

E parte desse impacto sentido é, sem dúvidas, graças a performance avassaladora de Fernanda Torres, que comunica tudo o que sente com uma poderosa sutileza. Seu silêncio é ensurdecedor e sua fala potente.

A abordagem de Salles é muito respeitosa com as verdadeiras vítimas, sem mostrar seu sofrimento de forma circense e exploratória, e tampouco sem deixar de mostra-lo. O diretor encontra um equilíbrio perfeito que não tira o peso das atrocidades, nem as deixa com um tom novelesco que não combinaria com a proposta.

Ainda Estou Aqui é um testamento da grandeza do cinema brasileiro, que não precisava provar nada a ninguém, mas continua provando.


Filme visto no 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza que acontece entre os dias 28 de agosto a 7 de setembro de 2024

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