Zona de Interesse – Crítica | O peso da indiferença

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Foto: Divulgação Diamond Films

Zona de Interesse dirigido por Jonathan Glazer (Under the Skin) fez sua estreia em no festival de Cannes do ano passado, onde concorreu à palma de ouro e foi premiado com o Grand Prix (prêmio do Júri). Desde então o filme tem colecionado elogios da crítica internacional, além de ter sido indicado em algumas das principais premiações de cinema, inclusive ao Oscar de melhor filme, melhor filme estrangeiro e melhor diretor.

Após quase um ano de espera, o longa finalmente fez sua pré-estreia nos cinemas brasileiros nesse final de semana.

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Foto: Divulgação Diamond Films

Qual a trama de “Zona de Interesse”?

O filme se passa na Alemanha, durante o período da segunda guerra e segue uma família de nazistas que tentam viver de forma pacata e confortável em sua suntuosa mansão construída nos arredores de Auschwitz (o mais famoso campo de concentração).

O que achamos do filme?

A princípio essa sinopse pode causar descrença no público, afinal de contas, narrar os eventos de uma época tão violenta da história pela perspectiva dos principais algozes pode parecer uma escolha pouco ortodoxa. No entanto, não é isso que o filme se propõe a fazer, para a tranquilidade de todos, o longa não busca humanizar seus protagonistas, nem tampouco trata-os como vítimas das circunstâncias ou como pessoas de moral cinzenta.

Pelo contrário, Glazer é sábio e sensível em sua abordagem que não deixa margem de dúvidas quanto a perversidade daqueles que não só permitiram que atrocidades acontecessem ao lado de suas casas, como ativamente contribuíram para a propagação do horror. A vilania dos protagonistas é exposta através da indiferença com que encaram os acontecimentos que se passam a poucos metros do local onde criam seus filhos.

O diretor mostra o contraste da vida idílica e pacata da família alemã em sua luxuosa casa com as fumaças saindo das chaminés do campo vizinho. Os jardins perfeitamente cuidados e a suntuosa piscina servem para distrai-los da situação desesperadora vivida do outro lado do muro, o que é dito pela própria personagem de Sandra Huller quando ela casualmente comenta sobre a necessidade de plantas mais altas para esconder a feira ao lado, como se estivesse falando de algo absolutamente trivial.

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Foto: Divulgação Diamond Films

Esse não é um filme que busca simplesmente retratar acontecimentos históricos famosos (como em Oppenheimer, por exemplo). O interesse do diretor é retratar a banalidade com que aqueles indivíduos encaram as atrocidades desumanas que ocorrem logo ao lado, o orgulho que sentem da posição que ocupam na nova sociedade idealizada por Hitler, o completo desprezo pela vida humana, a trivialidade e futilidade com que lidaram com uma época tão sombria.

O longa é nauseante do começo ao fim, quando ouvimos as primeiras notas da assombrosa trilha sonora – que poderia ter saído direto de um filme de terror – antes mesmo de vermos as primeiras imagens até as cenas de desfecho. O diretor não quer dar aula de história, nem palestrar para seu público, quer provocar reflexões por meio do desconforto, que ele atinge por mostrar o quanto seus protagonistas estavam confortáveis.


Zona de Interesse está em cartaz nos cinemas brasileiros

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