História, elenco e nossa opinião: tudo que você precisa saber sobre Chama a Bebel, a estreia da semana nos cinemas
Como vocês ousam?
Nascida em 2003, Greta Thunberg é uma jovem sueca conhecida por seu ativismo em prol do meio ambiente. Sua primeira grande aparição aconteceu em 2019, quando ela proferiu a frase acima para os representantes mundiais que participavam da Conferência do Clima, a COP25, em Madri.
De lá pra cá, Greta fez outras aparições públicas e se tornou referência no assunto, inspirando e influenciando outros jovens preocupados com o futuro do Planeta Terra. Esse é o caso de Bebel, protagonista interpretada por Giulia Benite (Turma da Mônica – Laços e Turma da Mônica – Lições) no longa nacional Chama a Bebel.
Qual é a história de Chama a Bebel?
O filme acompanha a jornada de Bebel, uma brilhante garota que se muda do interior para a cidade grande. A personagem enfrenta as adversidades de um ambiente desconhecido, desafia estudantes populares do colégio e até um inimigo poderoso – um empresário da cidade que faz testes laboratoriais em animais – para defender suas causas.
Mudar hábitos e comportamentos é sua meta, enquanto a sustentabilidade é seu princípio orientador.
O elenco de Chama a Bebel
Além do protagonismo de Giulia Benite (em seu primeiro grande papel após o sucesso como a Mônica), o longa traz ainda Pedro Motta (Turma da Mônica: A Série), Sofia Cordeiro (Sem Fôlego), Antônio Zeni (O Presidente), Gustavo Coelho (o Buchecha criança em Nosso Sonho) e Flor Gil no elenco adolescente.
Já no elenco adulto, rostos conhecidos como José Rubens Chachá (O Rei da TV), Flavia Garrafa (Pai em Dobro), Larissa Maciel (Maysa: Quando Fala o Coração), Marcos Breda (Um Dia Cinco Estrelas) fazem companhia ao estreante Rafa Muller.
O filme é dirigido por Paulo Nascimento (Diário de um Novo Mundo). Ele também é o autor do livro de mesmo nome que originou a produção.
Pôster de Chama a Bebel
O que achamos de Chama a Bebel?
É impossível dizer que Chama a Bebel não tem o “coração no lugar certo”. Afinal, estamos falando de um filme que toca em vários temas nobres, entre a sustentabilidade, a acessibilidade, a superação e o papel fundamental que os jovens possuem na preservação (ou melhor, salvação) do nosso planeta.
Inclusive, durante a entrevista coletiva que participamos, o diretor e o elenco comentaram muito felizes sobre a importância de abordar tudo isso, além das oportunidades que tiveram de ampliar essas discussões por meio de um set de filmagens sustentável (as mochilas, por exemplo, são feitas de plástico reutilizado) e da distribuição – maior do que o normal – de cópias acessíveis nos cinemas.
No entanto, ser engajado ou ter boas intenções nem sempre significa alguma coisa. Em especial, quando esse mundo sustentável acaba sendo igualmente monocromático.
E, só pra deixar claro, eu não estou falando das cores, uma vez que Chama a Bebel é indiscutivelmente colorido e jovem. O problema está na forma como tanto os personagens quanto a trama em si parecem estar presos em um universo preto e branco, habitado apenas por heróis ou vilões.
Eu sei que o filme estabelece parâmetros utópicos para se alinhar ao otimismo e às lições de moral que pretende passar no futuro, mas a inexistência de camadas é bastante prejudicial. Isso porque a Bebel é um ser humano perfeito, sempre pronta para fazer o bem, e todos aqueles que não conseguem alcançar esse mesmo nível de bondade e ativismo correm o risco de serem lançados ao campo dos vilões. Pelo menos, até se arrependerem e voltarem sem demora para o “lado bom da força”.
Em dado momento, eu lembrei até mesmo do Ronald de Na Mira do Júri (Jury Duty) – um cara legal que sempre fazia o possível para ajudar, mas também errava, contava piadas politicamente incorretas e outras coisas do tipo. Não estou dizendo que Bebel tinha que fazer piadas sujas, porém essas camadas, muitas vezes contrastantes, são essenciais na humanização de personagens.
O caminho contrário atrapalha a construção da narrativa e a própria encenação, já que Chama a Bebel nunca pode fugir desse círculo padronizado de heróis perfeitos e vilões caricatos que odeiam o meio ambiente. O resultado é um filme básico que nunca ousa na sua formatação e, por conta isso, acaba sendo mais chato do que deveria ou merecia.
Entendo que não faço parte do público em que eles miram, tanto que minha pergunta na entrevista foi “Como vocês esperam que seja o impacto em crianças e adolescentes“?
O diretor Paulo Nascimento admitiu não saber por não ver tantos filmes adolescentes com essa temática, mas esperava encontrar um público engajado à espera de uma obra que falasse sobre isso na linguagem deles. Já a protagonista, Giulia Benite, espera que o filme conquiste seu público pela força e relevância, influenciando outras Bebels pelo país.
Por mais que alguns momentos beirem o limite do didatismo, eu tendo a concordar que a luta bem definida entre o bem e o mal na busca por um futuro que se aproxima da utopia pode funcionar com esse público. No entanto, também preciso ressaltar que a disseminação das lições ambientais estaria acontecendo mais pela importância do tema do que pela qualidade do filme em si.
Enxergo isso até mesmo em um dos meus momentos favoritos: quando Bebel se torna uma versão sem poderes de Carrie e precisa enfrentar um trote na escola. A referência fica evidente, mas o caminho pavimentado por fake news me surpreendeu positivamente, apesar de continuar se rendendo às frases feitas e às resoluções simplificadas.
No fim das contas, Chama a Bebel acaba se tornando vítima desse duelo entre bons momentos de ressignificação e uma jornada carente de mais vida real. Porém, merece um ponto pela coragem de falar abertamente sobre sustentabilidade em um subgênero que nem sempre abre espaço para algo além dos relacionamentos.
Que possa, de fato, inspirar outras pessoas…