Cirurgião do Mal, a nova série documental da Netflix, explora um chocante caso de negligência médica que agora está no catálogo do serviço de streaming.
A série de três partes contará a história do cirurgião ítalo-suíço Paolo Macchiarini, que se tornou internacionalmente conhecido na metade da década de 2000 por criar os primeiros órgãos plásticos do mundo. No entanto, uma investigação mais aprofundada sobre seu trabalho revelou que muitos dos pacientes que ele operou posteriormente morreram, um fato que foi ocultado do público e da comunidade médica.
Ele foi exposto como fraudador e fantasista; descobriu-se que as pessoas que ele afirmava ter ajudado sofreram e morreram em suas mãos. Além disso, ele entrou em um relacionamento e propôs casamento a uma produtora de TV americana – apesar de já ser casado.
Mas, depois que vários artigos de exposição revelaram a verdade por trás do homem chamado de “uma forma extrema de vigarista“, tudo desmoronou. Então, o que aconteceu no escândalo e onde ele está agora?
A história que poucos conhecem sobre o Cirurgião do Mal
Macchiarini nasceu na Suíça e cresceu em Basel, onde a Vanity Fair relatou que “ele se sentia como um eterno outsider”. Ele obteve um diploma de medicina – com especialização em cirurgia – na Universidade de Pisa, mas foi traumatizado durante o curso quando, após examinar seu pai doente e não encontrar nada de errado, ele faleceu. É um momento que Macchiarini disse que o “assombrou para sempre“.
A fraude médica
Macchiarini mudou-se muito nos anos 90, estudando na Universidade do Alabama e obtendo um diploma da Universidade de Franche-Comté, além de chefiar o departamento de cirurgia torácica e vascular no hospital Heidehaus Hanover.
Ele foi professor visitante na UCL e trabalhou no Biomèdiques-Instituto de Investigaciones Biomédicas em Barcelona, tornando-se depois professor visitante na UCL e no Instituto Karolinska (KI) em Estocolmo, onde também atuou como cirurgião no hospital afiliado.
Em 2011, enquanto estava no hospital universitário Karolinska, Maccherini foi aclamado por realizar uma cirurgia “histórica” com o primeiro transplante de um órgão sintético, dando a um homem uma traqueia cultivada em laboratório, com o enxerto apoiado pelas células-tronco do próprio paciente.
Macchiarini fez um total de oito transplantes experimentais desse tipo entre 2011 e 2014 – três na Suécia em 2011 e 2012 e cinco na Rússia. Mas mais tarde foi revelado que sete dessas pessoas morreram após as operações e que alguns não estavam em um estado crítico o suficiente para justificar essa cirurgia.
Em 2013, o hospital Karolinska suspendeu todos os transplantes de traqueia e se recusou a renovar o contrato de Macchiarini como cirurgião. Em 2014, Macchiarini foi acusado por quatro ex-colegas de alegações falsificadas em sua pesquisa.
Uma revisão externa em 2015 considerou Macchiarini culpado de má conduta em pesquisa no KI e, após o documentário bombástico “Dokument inifrån” na TV sueca, que mostrou que ele continuou as operações com seu novo método de transplante mesmo quando mostrou pouco ou nenhum progresso, exagerando a saúde de seus pacientes em artigos à medida que morriam.
Também foram feitas alegações de que as condições médicas dos pacientes, tanto antes quanto depois das operações, não correspondiam à realidade, além de dúvidas sobre se a traqueia sintética foi realmente testada em animais antes de humanos.
Depois de ser demitido do KI em 2016, Macchiarini foi trabalhar na Universidade Federal de Kazan, na Rússia, até 2017, quando foi demitido. Em 2018, a revista médica The Lancet retratou dois artigos de Macchiarini, elevando seu total de artigos agora retratados para 11.
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A fraude romântica
Em 1986, Macchiarini se casou com uma mulher italiana chamada Emanuela Pecchia, e o casal teve dois filhos juntos, uma menina e um menino.
No entanto, em meio ao reconhecimento internacional por suas descobertas médicas, em fevereiro de 2013, ele conheceu a produtora da NBC Benita Alexander para organizar uma participação em um documentário chamado “A Leap of Faith“, que foi ao ar em 2014.
Alexander e Macchiarini ficaram próximos e começaram um relacionamento, viajando em férias para as Bahamas, Turquia, México, Grécia e Itália, onde Macchiarini levou Alexander e sua filha para conhecer sua mãe em Lecca. Ele disse a Alexander que seu divórcio finalmente se concretizara e a pediu em casamento no Natal de 2013.
Eles planejaram seu casamento luxuoso – ele afirmou ter operado Bill e Hillary Clinton, o Imperador Akihito do Japão e o Presidente Obama, então eles provavelmente seriam convidados – e que seu relacionamento próximo com o Papa Francisco significava que ele oficiaria a cerimônia, planejada para junho de 2015. Andrea Bocelli cantaria no evento, e a Enoteca Pinchiorri em Florença, com três estrelas Michelin, forneceria a comida.
Alexander deixou seu emprego na NBC e se preparou para se mudar com sua filha – tirando-a da escola – para a Europa.
Mas tudo começou a desmoronar em maio de 2014, quando um amigo enviou um e-mail a Alexander mostrando que o Papa estava programado para uma turnê pela América do Sul, quando ele havia “confirmado” que estaria se casando com o casal. De acordo com a Vanity Fair: “Macchiarini tentou culpar o equívoco de agendamento na política do Vaticano e afirmou que estava a caminho de Roma para resolver as coisas. Ele manteve que seus medos eram infundados – que ele estava agindo de boa fé e que tudo se resolveria como planejado.
Ele disse que o Papa cortaria sua viagem e “voltaria mais cedo.”
Mas Alexander finalmente percebeu a verdade e cancelou o casamento. Ela escreveu a ele em um e-mail: “Nunca vou entender como você pôde ter feito isso comigo, ou com a Jessie [sua filha]. Quem diabos é você e o que diabos há de errado com você?”
Alexander contratou um detetive particular que a informou que praticamente todos os fatos que Macchiarini havia lhe contado sobre o casamento eram falsos, desde os convidados, até os artistas e os fornecedores de alimentos.
No que teria sido o dia do casamento, Alexander viajou para Barcelona com dois amigos para confrontar Macchiarini, no bairro onde ele morava. Enquanto ela ficava no carro, os amigos falavam com ele – conhecendo sua esposa e filhos – mas ele não conseguia encará-los, e um amigo o achou “como um estudante envergonhado que foi pego.”
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Onde Paolo Macchiarini está agora?
Além do documentário Cirurgião do Mal, em junho de 2022, um tribunal sueco considerou Macchiarini culpado de causar danos corporais a um paciente, mas o absolveu das acusações de agressão. Ele recebeu uma sentença suspensa, o que significa que se cometer outro crime durante um período de liberdade condicional de dois anos, o tribunal reavaliará sua sentença.
No entanto, um ano depois, um tribunal de apelações o condenou a dois anos e seis meses de prisão.
Cirurgião do Mal estreou na Netflix dia 29 de novembro de 2023.
