Pagú Até Onde Chega a Sonda | Martha Nowill reestreia seu espetáculo solo em São Paulo

pagú até onde chega a sonda
Foto: Rodrigo Chueri Divulgação

Um manuscrito, inédito até então, deixado pela escritora, poeta, feminista, desenhista, jornalista e militante Patrícia Rehder Galvão (Pagú) (1910-1962) é o ponto de partida para Pagú Até Onde Chega a Sonda. O espetáculo tem direção de Elias Andreato e atuação de Martha Nowill – que também assina o texto.

A peça estreou no final de 2022 no Sesc Pompeia com sessões esgotadas e fez uma segunda temporada de sucesso no Teatro Eva Herz, agora retorna aos palcos do TEATRO VIVO, com apresentações às quartas às 20h.

Qual a sinopse de Pagú Até Onde Chega a Sonda?

Em cena os dois femininos dividem e se misturam no espaço, o da atriz e o de Pagú. As personagens compartilham temas como machismo, maternidade, feminismo, suas angústias, alegrias e processos criativos. Com humor e auto-ironia, Martha coloca uma “lente de aumento” em fatos cotidianos, refletindo sobre a vida não só dela e de Pagú, mas de todas as mulheres.

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Foto: Rodrigo Chueri
Divulgação

A história desta história

Em maio de 2018, a atriz e escritora Martha Nowill conheceu Rafael Moraes, um colecionador de arte, que lhe apresentou um manuscrito inédito de Patricia Rehder Galvão, a Pagú, escrito na casa de detenção em 1939, durante a ditadura de Getúlio Vargas. Rafael havia comprado o manuscrito e outros objetos pertencentes à artista, de um leiloeiro, 20 anos antes.

Martha Nowill viu ali potencial para a realização de um espetáculo, mas havia dificuldade em transformar o texto de Pagú, tão denso, poético e pouco narrativo, em teatro. Ela se associou à produtora Dani Angelotti e juntas, o projeto começou a ganhar forma.

Com a colaboração da atriz Isabel Teixeira, Martha desenvolveu uma escrita feita a partir de depoimentos, na qual ela, mãe de gêmeos nascidos na pandemia, se mistura com Pagú e seu manuscrito. Desse processo surgiu a dramaturgia, que traz trechos do manuscrito original de Pagú, entrecortados por relatos pessoais, resultando em um encontro improvável e cheio de pontos de diálogo entre mundos separados por mais de 60 anos.

Elias Andreato chegou ao processo para que com sua cuidadosa direção, e extensa experiência com solos, conduzisse a encenação.

Alguns trechos do espetáculo:

“É muito ruim, depois que eu fui mãe, eu esqueço. Eu leio as coisas e esqueço. Eu leio, eu entendo. Falo: nossa, que legal isso, que coisa importante que eu acabei de ler. Depois eu esqueço. Eu queria que minha vida tivesse aquele previously das séries, que algumas têm, sabe? Que toda vez que você vai começar um novo capítulo, ele te dá um mini resumo de tudo o que aconteceu antes? Eu estou precisando de um previously porque, nossa, eu não lembro de nada.” Trecho da dramaturgia escrito por Martha.

“Como subtrair desta avalanche que é o meu mundo, algo coerente, direitinho, com sequência. As ideias me escapam, escorrem dos meus dedos, elas ultrapassam a própria capacidade. Tudo é tão rápido que deve haver coincidência no tempo ou não deve haver tempo. No mesmo instante penso de diversas formas e sinto de diversos modos.” Trecho do manuscrito original de Pagú.

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Foto: Rodrigo Chueri
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Um pouquinho sobre Pagú

Patrícia Rehder Galvão, a Pagu (1910-1962) foi uma escritora, jornalista, produtora cultural e militante política brasileira. Foi a primeira mulher brasileira a ser presa política no século XX. Filha de uma tradicional família paulista se comportava fora dos padrões da época, fumava na rua, falava palavrões e usava roupas pouco convencionais.

Com 15 anos, já colaborava com o Brás Jornal, com o pseudônimo de Patsy. Em 1928 completa o curso de professora na Escola Normal de São Paulo e conhece o casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, que haviam fundado o Movimento Antropófago. Em 1930, causa um escândalo na sociedade da época, quando Oswald  se separa de Tarsila e passa a viver com ela, grávida de seu primeiro filho.

Três meses após o parto, Pagu viaja pra Buenos Aires, para um festival de poesia, lá conhece Luís Carlos Prestes. Na volta filia-se ao Partido Comunista Brasileiro. Em 1931, junto com Oswald, funda o jornal “O Homem do Povo” e ao participar de uma greve de estivadores em Santos, é presa pela polícia de Getúlio Vargas.

Em 1933 Pagu publica “Parque Industrial”, sob o pseudônimo de Mara Lobo e inicia uma viajem pelo mundo, como correspondente de vários jornais. Em 1935, filia-se ao partido comunista na França e é presa em Paris. Com identidade falsa volta ao Brasil. Separa-se do marido e ao retornar às suas atividades jornalísticas é novamente presa e torturada pela ditadura. Pagu passa cinco anos na cadeia, onde escreve, entre outras coisas, o manuscrito deste espetáculo.

Ao sair da prisão, tenta o suicídio, rompe com o Partido Comunista e passa a defender o socialismo. Em 1945 casa-se com Geraldo Ferraz e dessa união nasce seu segundo filho. Em 1946 passa a colaborar com diversos jornais, entre eles, A Manhã, O Jornal, A Noite e o Diário de São Paulo. Com o pseudônimo de “King Shelter” escreve contos de suspense para a revista “Detetive”, dirigida por Nelson Rodrigues.

O casal se muda para Santos e em 1952 Pagu passa a frequentar a Escola de Arte Dramática de São Paulo. Dedica-se especialmente a grupos amadores e lidera a campanha para a construção do Teatro Municipal, além de fundar a Associação dos Jornalistas Profissionais. Em 1962, Pagu volta a Paris, para o tratamento de um câncer. Sem êxito, tenta novamente o suicídio. Muito doente, publica no jornal “A Tribuna”, o poema “Nothing”.

Pagu morre em Santos dia 12 de dezembro de 1962.

Onde e quando assistir?

Temporada: 23 de agosto a 4 de outubro de 2023

Quartas às 20h

Teatro Vivo Av. Chucri Zaidan, 2460

IngressosR$60 (inteira) e R$30 (meia-entrada)

Vendashttps://l1nk.dev/kgcGI

Classificação: 12 anos 

Duração80 minutos


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