Wes Anderson faz mais uma homenagem em sua filmografia, dessa vez ao teatro e a arte de atuar em “Asteroid City”
Poucos diretores sabem unir forma a conteúdo como faz Wes Anderson. Por mais que particularmente ele tenha chegado ao seu ápice em “O Grande Hotel Budapeste”, entregado um bom filme em “Ilha dos Cachorros” e um mais ou menos em “A Crônica Francesa”, o diretor sabe construir produções que vão além de sua marca visual e simétrica (pela qual ficou conhecido).
Mesmo que seu último longa não tenha sido tão inspirado assim, Asteroid City parece consertar tudo o que não deu certo, valorizando cada uma das participações estelares já características da filmografia de Wes, ao mesmo tempo em que entrega beleza e uma crítica social atual.
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Qual a trama de Asteroid City?
O roteiro de uma convenção dos Astrônomos Júnior/Cadetes do Espaço, organizada para reunir estudantes de todo o país e suas famílias, para uma competição escolar de bolsas de estudos, é espetacularmente interrompida por eventos que podem impactar e transformar o mundo.
O que achamos do filme?
Wes Anderson começa as suas homenagens já no início, numa clara referência a Além da Imaginação (Twilight Zone) na apresentação de seus personagens. O diretor deixa claro que vamos acompanhar uma peça teatral, e não nos poupa da metalinguagem, com as cenas em preto e branco na “vida real” e nos bastidores do espetáculo, e as coloridas sendo a encenação em si, enchendo a produção de uma riqueza narrativa, refletida na linguagem dividida em atos.
Cada peça desse maravilhoso elenco tem seu momento de brilhar e não funciona como um simples adereço, seja em piadas, frases cercadas de significado e potência, e porque não, momentos de puro cinema.
Wes brinca com os sentimentos da atualidade ao colocar os habitantes de Asteroid City em quarentena após um evento. Sendo assim, o cineasta aborda um trauma recente da sociedade e a nossa quase obrigação de ter uma vida social, rendendo ótimas sequências com seu humor peculiar, críticas aos experimentos americanos e a guerra espacial dos anos 50.
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Nem tudo precisa de explicação e compreensão e a obra flerta com os limites de fantasia e realidade, sendo bonita não apenas em suas estética, mas no texto afiado de Anderson e Roman Coppola.
O medo do desconhecido, da mudança e daquilo que vem de fora, traz leveza, comentários ácidos e paranoia a Asteroid City, gerando reflexão sobre o lugar do nosso humano no mundo, contestando a nossa pequenez diante do vasto universo.