Drama espanhol em preto e branco, Armugan debate nossa relação com o divino e aquilo que não é entendível
O cinema e o silêncio tem um relação bem pessoal ao longo dos anos. Desde os filmes mudos, até a ausência de diálogos completa ou parcial, o audiovisual por vezes valoriza demais os monólogos ou o exagero, e geralmente remetemos boas atuações apenas pelo fato do atores ou atrizes gritarem.
Não me entenda mal, existem verdadeiros espetáculos construídos assim, mas as vezes a calma e sutileza são um bom caminho a seguir, e é por esse lado que o filme espanhol “Armugan” vai.
Mas antes, qual o enredo de Armugan?
Em um vale isolado nos Pirineus Aragoneses, a lenda de Armugan faz parte do imaginário local. Ela conta que Armugan (Íñigo Martínez) se dedica a uma profissão terrível e misteriosa que ninguém se atreve a nomear.
Dizem ainda que Armugan se move pelos vales agarrado ao corpo de Anchel (Gonzalo Cunill), seu fiel servo, e, juntos, compartilham o segredo de um trabalho tão antigo quanto a vida, tão terrível quanto a própria morte.
O que achamos do filme?
Com um belíssimo trabalho de fotografia de Daniel Vergara, o diretor Jo Sol nos leva a um lugar isolado, e pretende contar sua história com poucos diálogos, principalmente no início quando a relação de Anchel e Armugan é construída apenas em olhares e pequenos gestos.
O martírio e o peso que Armugan carrega ao ser um “facilitador” da morte dos outros parece persegui-lo, e quando tenta trazer esse conflitos internos (e às vezes externo) entre os dois, usando planos fechados para denotar o desconforto de algumas situações, e ocultando o verdadeiro dom do protagonista, o longa vai bem.
Sendo assim, é uma pena que com a inclusão de novos personagens e tramas tire um pouco o foco e a qualidade de Armugan, apesar das decisões que se apresentam. A obra constrói uma rotina para logo depois abandoná-la. Em poucos e raros momentos de descontração da dupla, Armugan deixa evidente sua relação com o divino, ou o que quer que seja.
O misticismo construído acaba se perdendo em maneirismos e uma dose de emoção não solicitada, que aos poucos desconstroem a figura de Armugan, e sua relação com Anchel. Assim como as almas que anseiam a morte em busca de alívio, só queremos que ele chegue ao fim antes que estrague tudo.