Armugan – Crítica | Nossa relação com o silêncio

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Drama espanhol em preto e branco, Armugan debate nossa relação com o divino e aquilo que não é entendível


O cinema e o silêncio tem um relação bem pessoal ao longo dos anos. Desde os filmes mudos, até a ausência de diálogos completa ou parcial, o audiovisual por vezes valoriza demais os monólogos ou o exagero, e geralmente remetemos boas atuações apenas pelo fato do atores ou atrizes gritarem.

Não me entenda mal, existem verdadeiros espetáculos construídos assim, mas as vezes a calma e sutileza são um bom caminho a seguir, e é por esse lado que o filme espanhol “Armugan” vai.

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Foto: Divulgação Mostra de São Paulo 2021

Mas antes, qual o enredo de Armugan?

Em um vale isolado nos Pirineus Aragoneses, a lenda de Armugan faz parte do imaginário local. Ela conta que Armugan (Íñigo Martínez) se dedica a uma profissão terrível e misteriosa que ninguém se atreve a nomear.

Dizem ainda que Armugan se move pelos vales agarrado ao corpo de Anchel (Gonzalo Cunill), seu fiel servo, e, juntos, compartilham o segredo de um trabalho tão antigo quanto a vida, tão terrível quanto a própria morte.

O que achamos do filme?

Com um belíssimo trabalho de fotografia de Daniel Vergara, o diretor Jo Sol nos leva a um lugar isolado, e pretende contar sua história com poucos diálogos, principalmente no início quando a relação de Anchel e Armugan é construída apenas em olhares e pequenos gestos.

O martírio e o peso que Armugan carrega ao ser um “facilitador” da morte dos outros parece persegui-lo, e quando tenta trazer esse conflitos internos (e às vezes externo) entre os dois, usando planos fechados para denotar o desconforto de algumas situações, e ocultando o verdadeiro dom do protagonista, o longa vai bem.

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Foto: Divulgação Mostra de São Paulo 2021

Sendo assim, é uma pena que com a inclusão de novos personagens e tramas tire um pouco o foco e a qualidade de Armugan, apesar das decisões que se apresentam. A obra constrói uma rotina para logo depois abandoná-la. Em poucos e raros momentos de descontração da dupla, Armugan deixa evidente sua relação com o divino, ou o que quer que seja.

O misticismo construído acaba se perdendo em maneirismos e uma dose de emoção não solicitada, que aos poucos desconstroem a figura de Armugan, e sua relação com Anchel. Assim como as almas que anseiam a morte em busca de alívio, só queremos que ele chegue ao fim antes que estrague tudo.


Filme visto na 45ª Mostra de São Paulo, que acontece entre os dias 21 de outubro e 03 de novembro de 2021

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