Depois de “O Bom Dinossauro”, Peter Sohn mistura beleza a assuntos importantes em “Elementos”, comédia romântica que vai além do romance, e da comédia
É impossível não iniciar este texto sem falar sobre o desempenho pífio de Elementos nas bilheterias americanas. Com apenas 24 milhões de dólares arrecadados, o longa se tornou a pior estreia da história da Pixar. Não sabemos se o papel do marketing ou a estratégia dos anos anteriores de disponibilizar as produções do estúdio no Disney Plus, afetou seu desempenho, mas felizmente podemos afirmar que isso não se reflete na qualidade.
Elementos é um retorno aos tempos de glória, de uma Pixar mais singela e inocente. Claro, existe a união entre a diversão para as crianças e a emoção para os adultos de sempre, mas aqui, a animação parece ir além da comédia romântica ao estilo Romeu e Julieta/Orgulho e Preconceito, para tocar em temas mais sérios.
Qual a trama de Elementos?
Em uma cidade onde moradores do fogo, da água, da terra e do ar vivem juntos, uma jovem impetuosa e um homem tranquilo estão prestes a descobrir algo elementar: o quanto realmente têm em comum.
O que achamos do filme?
Visualmente, seria até repetitivo exaltar Elementos, que ao fazer a mistura entre 3D e 2D, acerta em cheio na construção de um mundo próprio e cheio de limitações para os moradores, além de usarem a imaginação para saírem de situações embaraçosas.
O início já mostra que a Pixar irá tratar de assuntos sérios como preconceito, imigração, xenofobia, família e legado, só para citar alguns. A família da pequena Faísca (Leah Lewis/Luiza Porto) e seus pais, além do “povo do fogo”, se mudam para uma cidade que não foi construída pensando neles, e podemos fazer uma conexão com vários povos que migram para outros países, às vezes de forma forçada.
Essa sensação de recomeço, também fala sobre luta de classes ao introduzir Gota (Mamoudou Athie/Dláigelles Silva), um jovem privilegiado. Nessa interação entre Faísca e Gota, Elementos passeia por dramas humanos, evidenciados não só fisicamente (já que fogo e água não se misturam), mas nos ideais de seus protagonistas.
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Eles precisam lidar com o sentimento que nasce entre eles, mas principalmente com o entorno, e também seus desejos internos. Nas interações entre famílias, o filme se assemelha bastante a uma comédia dos anos 2000, quando vai para o drama, assume a responsabilidade de ser uma animação que debate o legado de assumir o papel dos pais na sociedade, ao mesmo tempo em que exalta mesclas improváveis e culturais.
Indo além do romance, Elementos se apoia na beleza não apenas do exterior de seus personagens, mas no íntimo deles. Mostra que a complexidade daqueles seres, que não se definem como bons ou maus, ganham contornos de cinza, por mais coloridos que sejam.