Como um adulto traumatizado, A DC faz de “The Flash” uma ode ao passado, mas não liga muito para o futuro
A frase que intitula esse texto pode ser vista como a função que The Flash tinha não apenas para o universo DC, mas para sua continuidade e sobrevivência. A produção foi vendida como aquela que iria mudar tudo, acabando com o Snyderverso criado com O Homem de Aço em 2013, e dando o pontapé inicial (mesmo que ainda restem dois filmes), na visão daquilo que James Gunn deseja, depois de assumir a chefia.
Sabiamente, a primeiro aventura do velocista escarlate se livra dessa responsabilidade, entregando um filme solo do herói que mistura história de origem, com uma trama de maluca de multiverso, e muitos homenagens ao passado, sem pensar muito no futuro adiante, como certas produtoras fazem…
Qual a trama de The Flash?
Os mundos colidem quando Flash (Ezra Miller) viaja no tempo para mudar os eventos do passado.
No entanto, quando sua tentativa de salvar sua família altera o futuro, ele fica preso em uma realidade na qual o General Zod (Michael Shannon) voltou, ameaçando a aniquilação.
O que achamos do filme?
Deixando de lado o peso de trazer uma revolução para a DC nos cinemas, Andy Muschietti (It: A Coisa), foca na diversão e em um filme contido logo no início. Engraçado e com o perdão do trocadilho, rápido, The Flash abraça a comédia, trazendo a essência do herói nos quadrinhos e das animações.
Sabiamente, a produção dá um jeito de incluir um Flash mais novo vivido também por Ezra Miller, nos deixando com a sensação de ver um filme de origem, ao mesmo tempo em que ator mostra todo o seu potencial vivendo dois papéis. Envolvido em polêmicas desde o início da produção, Miller praticamente nos faz esquecer de sua personalidade problemática, misturando muito bem comédia e drama.
A jornada emocional é forte, e a trama da perda da família e do sentimento de solidão constante se reflete não apenas no protagonista, mas nos Batmans de Ben Affleck e Michael Keaton, além da Supergirl de Sasha Calle.
Na ação, Muschietti e sua equipe são criativos e estilosos ao trazer um visual novo que justifica sua existência, além de uma nova forma de correr e viajar no tempo. O longa impõe limitações ao herói, e entra na sua mente para falar sobre traumas, responsabilidade na hora de usar seus poderes, e mudar a vida das pessoas, sem perder o bom humor.
Aliás, nesse sentido, The Flash pode afastar aqueles que buscam uma narrativa mais séria. O texto de Christina Hodson (Aves de Rapina) faz piadas constantes, que passam pela surpresa e empolgação de um Flash ainda inocente, referências a cultura pop incluindo o clássico “De Volta Para o Futuro”, e até tira sarro da seriedade dos heróis, mesmo que o Batman de Keaton saiba rir de si mesmo, utilizando seu apetrechos tecnológicos.
Se a ação é empolgante, o mesmo não pode se afirmar sobre o CGI do filme. Provavelmente o grande defeito da produção, as cenas de ação não incomodam como os trailers aparentavam, mas o problema fica para as sequências onde os dois Barry Allen aparecem juntos. Muschietti opta por não trazer os tradicionais plano e contra-plano, fazendo Ezra Miller ocupar o mesmo espaço na tela.
Sendo assim, a sensação é de uma máscara mal colocada em seu rosto, algo que pode tirar um pouco a imersão que The Flash traz.
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O mantra do primeiro filme solo do velocista escarlate é que “nem tudo pode ser alterado” e “nem todo problema tem solução”, repetindo isso de forma constante, fazendo os heróis realizarem sacrifícios para o bem maior, as vezes abrindo mão de suas próprias vontades para os mundos não colidirem.
Mundos esses que mostram vislumbres de seus heróis, e nesse momento o espectador e fã precisa se preparar para as homenagens ao passado e alguns services que nos geram um sorriso automático, seja de emoção, pela repetição do cinismo, ou de puro deboche, abandonando de vez a fase “sombria e realista”.
Esse mix de sensações é o efeito que The Flash tem sobre o aqueles que buscam um filme divertido, que não tem vergonha do cartunesco, e não precisa de explicações elaboradas sobre o multiverso. Ao mesmo tempo prova que existe uma certa seriedade na comédia, e até a loucura às vezes, precisa fazer sentido.
Ps: O filme contém uma cena pós-créditos!