Todos os Mortos | Horrores que atravessam o tempo

todos os mortos
Foto: Divulgação/Hélène Louvart

Dividido entre o terror e o drama histórico, Todos os Mortos viaja no tempo pra explorar um medo permanente: o racismo estrutural


No dia 13 de maio de 1888, após uma grande campanha popular, a regente do Brasil, Princesa Isabel, assinou a tão esperada Lei Áurea. Um documento que “acabou” (entre aspas mesmo) com a escravidão no país. Um documento que obrigou milhares de famílias nobres a pagarem seus empregados, mas não mudou uma realidade que já estava enraizada na mente de tantos membros dessa sociedade.

Ambientado em São Paulo entre 1899 e 1900 (aproximadamente onze anos após o fim do período escravagista), Todos os Mortos acompanha duas famílias: uma branca, os Soares, e outra negra, os Nascimento. A primeira faz parte de uma nobreza falida que luta pra manter o resto dos seus privilégios, enquanto a segunda luta pra manter a liberdade e reunir sua família num mundo que não aceitou o fim da escravidão.

Todos os Mortos
Foto: Divulgação/Hélène Louvart

O longa gira em torno do choque entre essas famílias, mas busca um campo de exploração mais amplo. O relacionamento entre os Soares e os Nascimento funciona como uma fagulha que promove outros choques entre raças, crenças, classes sociais e até mesmo linhas temporais que mostram como quase nada mudou. Uma fagulha que acende a gasolina usada como combustível na apresentação dessa sociedade que, mesmo com o passar das dos anos, insiste em permanecer presa no século XIX.


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+++ Marco Dutra falou um pouco sobre o filme no Montagem Paralela sobre cinema nacional. Confira!

E eu já posso dizer, sem nenhuma dúvida, que gosto muito de diversos momentos que surgem a partir desses confrontos. Todos os Mortos acumula frases incríveis (“A África é grande”), uma interpretação interessante do medo, alguns detalhes sonoros brilhantes (as correntes tilintando quando a mão da garota branca segura o braço de João é arrepiante) e por aí vai.

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Foto: Divulgação/Hélène Louvart

São ideias muito boas que alcançam a tela através de uma roupagem que chama tanta atenção quanto os conceitos. O departamento de arte comandado por Juliana Lobo (Que Horas Ela Volta?) faz uma reconstrução histórica certeira, a fotografia de Hélène Louvart (Never, Rarely, Sometimes, Always) brinca de forma mórbida com a iluminação natural e a trilha composta pelos iniciantes Gui Braz e Salloma Salomão combina muito bem com a temática do longa.

Tudo a serviço de uma produção que não pode ser tachada como convencional. Desde o princípio, Marco Dutra (As Boas Maneiras) e Caetano Gotardo (O Que Se Move) passeiam por diversos gêneros e espectros temporais para construir uma mistura entre drama histórico e cinema de gênero cujo objetivo é colocar o dedo na ferida. No entanto, por mais que boa parte das escolhas estilísticas conversem entre si, Todos os Mortos não conseguiu me conquistar por completo.

Talvez sejam os pontos de vista escolhidos, talvez seja o espaço dado pra cada elemento. Preciso refletir um pouco mais sobre os porquês, mas acredito que a falta de foco seja o fator que mais prejudicou minha experiência. Em palavras mais simples: eu sinto que Todos os Mortos constrói diversas linhas de raciocínio com potencial, mas demora pra realmente mostrar a que veio.

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Foto: Divulgação/Hélène Louvart

E aí, no meio da bagunça que domina a maior parte do filme, fica difícil se conectar com a história. O drama familiar demora pra apresentar algo que não seja genérico, enquanto o clima de suspense é tão esparso que soa quase como uma das mentira encenada pra acalmar Ana. É claro que tudo se encontra em certo momento (de forma relativamente chocante, admito), mas já era tarde demais. Pelo menos pra mim…

Gosto muito de todos os filmes do Marco Dutra, mas infelizmente Todos os Mortos não conseguiu me conquistar. Tem ideias incríveis e momentos impactantes, mas a vitória fica com a impressão de que tudo está preso numa casa sem polimento junto com a família Soares.


Todos os Mortos estreia nos cinemas no dia 10 de dezembro


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