Space Jam: Um Novo Legado | Nostalgia organizada por um algoritmo

Space Jam: Um Novo Legado

Apoiando-se totalmente nas referências nostálgicas, Space Jam: Um Novo Legado é uma reunião morna e genérica entre basquete e Looney Tunes


Em 1996, a Warner misturou vida real, ficção, esporte e animação de forma icônica, reunindo o maior jogador de basquete de todos os tempos com os personagens completamente surtados do Tune World para uma partida contra alienígenas dispostos a transformar terráqueos em atrações do seu parque de diversões.

O longa não teve aprovação massiva da crítica, mas arrecadou 250 milhões de dólares mundialmente. Um sucesso de público que continuou marcando várias gerações durante suas repetidas exibições nas tardes do SBT.

A História de Space Jam: Um Novo Legado

Durante os últimos 25 anos, a Warner tentou repetir a fórmula de sucesso com outros esportes em diversas ocasiões. Pensou em colocar Pernalonga e sua turma no meio das corridas da Nascar e até em partidas de golfe, mas nenhum dos projetos foi pra frente.

A justificativa, na maior parte das vezes, esteve ligada a falta de uma personalidade com carisma e peso midiático similar ao de Michael Jordan. No entanto, apesar de Joe Pytka (diretor do primeiro longa) defender que nenhum jogador chega aos pés de Jordan, LeBron James demonstrou ter potencial para ocupar tal espaço.

Space Jam: Um Novo Legado
Foto: Divulgação

É por isso que ele foi escolhido para estrelar Space Jam: Um Novo Legado, interpretando uma versão semi fictícia de si mesmo. No longa, ele surge como um pai rigoroso que não relaciona o basquete com diversão e insistem em inserir os filhos no jogo de alguma maneira. Uma atitude que gera revolta em Dom, seu filho do meio e um gênio dos vídeo games.

Os problemas começam quando, se aproveitando desses “problemas familiares”, o vilão Al G. Ritmo (sim, ele é um algoritmo e tem um nome que brinca com isso) leva pai e filho para dentro do servidor virtual da Warner. Para salvar sua família e se livrar de uma eternidade virtual, LeBron precisa se juntar aos Looney Tunes e vencer uma partida de basquete contra jogadores digitalmente modificados em uma quadra onde o estilo vale pontos extras.

O Que Achamos do Filme?

Apesar dos efeitos terem envelhecido mal, eu sou um árduo defensor do primeiro Space Jam. Ele é um dos filmes que marcou minha infância, reacendendo meu amor pelos Looney Tunes até hoje em dia. Todos os anos eu assisto Space Jam pelo menos uma vez só pra sentir um pouco do humor caótico que sempre se destacou em todas as participações de Pernalonga e sua Turma no cinema e na televisão.

Preciso falar isso pra deixar claro que, mesmo não curtindo os trailers, eu estava com muita vontade de gostar dessa nova viagem esportiva para o misterioso universo dos cartoons. Estava até mesmo ansioso…

Um fator extra fílmico que sempre interfere na experiência. Ainda que a expectativa não fosse absurda ou desmedida, eu estava com vontade de embarcar nesse filme, e isso fez com que a apatia que eu senti durante os 115 minutos de sessão me incomodassem. Eu terminei o filme me perguntando: porque Space Jam: Um Novo Legado não conseguiu colocar um sorriso na minha cara?

Space Jam: Um Novo Legado
Foto: Divulgação

Cheguei a conclusão de que o longa promete diversão caótica, porém entrega apenas um jogo virtual onde motivações fracas nos conduzem a situações levadas a sério demais. Inclusive, vale notar que o primeiro filme lida com a salvação do mundo (algo supostamente maior e mais dramático do que salvar uma relação de pai e filho), mas nunca se leva tão a sério quanto esse. Ele entende que a premissa é absurda e mergulha nisso sem vergonha ou justificativas em excesso.

Esqueça os fundamentos…

Um Novo Legado ensaia fazer o mesmo, mas mantém tudo restrito ao papel. É só observar como os personagens nos mandam esquecer as regras e fundamentos, sejam eles narrativos ou esportivos, enquanto o filme em si nunca faz isso. Nunca se livra das amarras que o obrigam a se levar a sério.

O filme promete o caos, porém o entrega apenas em alguns momentos raros. É incoerente consigo mesmo, assim como outros filmes que se classificam como obras voltadas para a diversão apesar da necessidade de ficar mergulhando em origens sombrias ou motivações exageradamente dramáticas.

Isso é divertido. Você lembra o que é diversão?

Sei que essa disputa entre seriedade e diversão está inserida na trama, já que LeBron precisa aprender a ser menos rígido para vencer o jogo e aceitar que seu filho talvez não seja um profissional ultracompetitivo. No entanto, o próprio filme fica preso em um roteiro que, ironicamente, parece ter sido feito sob encomenda por um algoritmo. Ou por executivos com muita autoestima que acreditam fielmente na sua concepção do que o público quer assistir.

Space Jam: Um Novo Legado
Foto: Divulgação

Um grupo de pessoas interessadas em fazer um filme que nunca será elogiado por quebrar as regras e convenções. Um filme que inova no visual, mas fica eternamente amarrado a fórmulas batidas e desgastadas que foram criadas há algumas décadas por outros executivos com auto estima. Um filme sem alma que, mesmo quando “se liberta” e vai pro terço final, despenca por não ter uma sustentação mínima.

Culpa da falta de carisma que, apesar do suposto descompromisso, se espalha tanto pelas escolhas estéticas (a trilha sonora é uma das coisas mais genéricas dos últimos vinte anos), quanto no conteúdo.

Nesse último caso, uma parte do problema está no foco dado a LeBron James. Não vou reclamar da atuação dele, porque o próprio Michael Jordan não era um ator primoroso. Além disso, é fácil entender que quem aperta o play em Space Jam não está procurando grandes atuações.

Ainda assim, não posso negar que existe algo importante em entender certas limitações e contorná-las com criatividade. Malcolm D. Lee (do bom Viagem das Garotas e do péssimo Operação Supletivo) não faz isso e coloca toda a carga emocional do longa nas costas do jogador, deixando os Looney Tunes em terceiro plano em seu próprio universo.

E sim, eu não me confundi. Apesar da importância os personagens cartunescos na franquia, Um Novo Legado ignora o filme da década de 90 e deixam LeBron e as milhares de referências ficarem na frente dos protagonistas espirituais quando se trata das piadas e do fator emocional.

Space Jam: Um Novo Legado
Foto: Divulgação

Algo que influencia de forma direta e negativa o clima de catarse que deveria tomar conta do final. Se você acompanhar basquete, pode fisgar algumas referências específicas das viradas de LeBron e receber um gás, mas saiba que esse pequeno detalhe não tem força pra carregar o público como um todo. Chega a ser meio triste ver a conclusão tomar forma sem nenhum peso, deixando as bolas atravessarem a cesta sem impacto ou os sacrifícios tomarem a tela sem nenhuma emoção.

Ao contrário de fazer o público vibrar como uma torcida de basquete, o filme deixa todo mundo apático, ligado no ponto morto. Esse sentimento morno sugere que o coração do filme está no lugar errado e, eu estou preparado para concordar. Quer um exemplo prático e simples?

Space Jam: Um Novo Legado gasta rios de dinheiro com cenários incríveis, participações estrelares, referências inesperada e visuais renovados (que são de fato incríveis), mas encontra seu melhor momento quando está inserida na boa e velha animação 2D. É uma pena que os envolvidos no longa não confiaram no poder dessa interação absurda entre LeBron James e os Looney Tunes, e decidiram manter todo mundo preso em um jogo que se apoia na apenas na nostalgia por acreditar que as regras algoritmizadas devem estar acima da diversão.

Infelizmente, eles têm muito o que aprender com as lições de moral do seu próprio filme…


Space Jam: Um Novo Legado está sendo exibido nos cinemas


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