Sound of Falling – Crítica | O som da queda (de qualidade)

sound of falling
Foto: Divulgação

Sound of Falling fez sua estreia mundial na competição do festival de Cannes desse ano, de onde saiu vencedor do Prêmio do Júri – que dividiu com Sirât. Posteriormente, o longa foi anunciado como representante da Alemanha no Oscar.

A história de Sound of Falling

Quatro meninas de gerações diferentes, ligadas por uma melancolia transmitida como uma espécie de maldição familiar, crescem em uma fazenda alemã, onde descobrem questões sobre sexualidade e morte. O tempo passa, a casa se transforma, assim como a sociedade, porém os fantasmas do passado permanecem ali.

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O que achamos do filme

O filme abre com um prólogo que não te entrega quase nenhuma informação e acaba despertando uma certa curiosidade. Logo no início, percebe-se a intenção da diretora de retratar a dura realidade feminina, na Alemanha rural. Porém, antes que possamos entender melhor o contexto dessa personagem, há um corte e somos colocadas em outro período de tempo, na mesma casa, agora habitada por uma outra geração de mulheres.

O segmento começa em um tom animado, estamos em 1910 e três irmãs pregam uma peça na funcionária da casa, que reage com bom humor, perseguindo-as pela casa que se enche com os sons estridentes de suas risadas. A irmã mais nova, Alma, acaba ficando para trás e a câmera fantasmagórica da diretora Mascha Schilinski a segue pelos cômodos, enquanto comunica a passagem de tempo. Em seguida, a menina participa de uma celebração de dia de finados e começa a entender sobre a morte, um tema que permeia o cerne de todo o longa.

As discussões sobre a morte são propostas de forma inteligente, e os personagens falam dela como uma velha e temida conhecida que inevitavelmente, um dia, virá visitá-los. Os diálogos não verborrágicos e comunicam apenas o essencial, enquanto as imagens de Schilinski constroem uma atmosfera melancólica que transmite o estado de espírito do filme. Há muita sugestão, até porque acompanhamos as conversas pelas lentes do olhar ingênuo de uma criança.

Quando parece que o filme vai nos aproximar ainda mais dessas interessantes personagens, há um novo corte para outro período histórico, com mulheres de outra geração da mesma família, ainda vivendo na mesma fazenda e lidando com suas próprias questões. A partir daí, o que havia começado de forma tão promissora se torna, gradualmente, um completo desastre.

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Na tentativa de dar conta de, não um, nem dois, mas quatro pontos de vistas diferentes, dos quais apenas um é minimamente interessante – aquele de Alma e suas irmãs em 1910 – a diretora acaba não conseguindo dar conta de nada. A falta de foco de Sound of Falling, faz com que suas idas e vindas impossibilitem a conexão com qualquer uma das personagens por quem a diretora finge ter interesse.

A necessidade de reforçar o tema que de início era abordado com tanta inteligência, agora coloca as personagens em um ciclo de cenas repetitivas, para enfatizar uma mensagem que considera importante. O que antes era sugerido vai se tornando cada vez mais didático, até o ponto em que a diretora desiste de confiar em seu público e coloca um voice over para explicar todos os pensamentos/ações de suas protagonistas.

Em uma das cenas, uma garotinha corre em volta de uma mangueira apenas com suas roupas íntimas, enquanto sente os olhares penetrantes e violadores do amigo do pai. A linguagem corporal da atriz mirim e o do rapaz que a observa já deixavam a claro o que estava acontecendo, mas por algum motivo, a diretora opta por uma narração em off sobre o quanto a garota está desconfortável com aqueles olhares – como se isso não fosse óbvio. O recurso usado de maneira tão didática e preguiçosa, ao invés de reforçar nossa sensação de repulsa, acaba tirando o peso dramático da cena.

Um trabalho tão atmosférico, com um cuidadoso trabalho estilístico de som e fotografia, que tinha tudo para chamar a atenção pelo esmero técnico e uma veia artística inegável da realizadora, acaba se perdendo em suas próprias confusões até sentir que precisa começar a se explicar. Toda a pompa áudio e visual vai perdendo potência, enquanto se torna apenas um bonito embrulho para um filme totalmente vazio de sentimentos.

Quando nenhuma emoção genuína é transmitida – a não ser tédio – se torna praticamente impossível qualquer conexão com a obra ou suas personagens. O filme quer ser tanto que acaba sendo um grande nada, apenas um emaranhado de ideias vazias, jogadas de qualquer jeito e não desenvolvidas.

Sound of Falling foi visto na 49ª Mostra de São Paulo, que acontece dos dias 16 a 30 de outubro de 2025.

Foto: Divulgação

Confira também: Mirrors no 3 – Crítica | O Hitchcock que habita em Christian Petzold

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